Palavras, poesias, poemas, versos, sonetos, estrofes, contos, crônicas, pensamentos, devaneios...
O caminho...
Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.
Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.
Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade
Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.
Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.
Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.
É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.
Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.
Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.
É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.
Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.
Humana sou.
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
Cartas a Um Jovem Poeta - Rainer Maria Rilke
- Primeira Carta
- Fonte Cartas a um jovem poeta tradução de Paulo Rónai - Ed. Globo - 10a. edição
domingo, 28 de dezembro de 2008
Prece: Quando eu morrer
Quando eu morrer não quero ninguém chorando ao meu lado
Já não existo, lembrem-se, sou passado.
Quando eu morrer distribuam meus pedaços àqueles precisados
Depois aqueçam o que sobrar e arremessem em qualquer lugar.
Quando eu morrer não permito que ninguém
Vá mês a mês chorar num canto que nunca desejei.
Quando eu morrer me esqueçam, de passado não viverei.
Quando eu morrer, por favor, dêem-me paz
Ao morrer, lembrem-se, não quero nada mais.
Esqueçam o que fiz
Esqueçam o que ouviram ou o que preguei
E olvidem o pouco que rezei.
Festejem, por fim, o otário da vez
Festejem meu último suspiro
Festejem minha palidez.
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
sábado, 13 de dezembro de 2008
sábado, 22 de novembro de 2008
Dó
domingo, 12 de outubro de 2008
by ^gill b.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
Trecho de "Loucos e Santos" by Oscar Wilde
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Inveja
Ouvi dizer que a inveja dói.
Que propicia ao (a) invejado (a) um sabor de desespero, como se ele (a) fosse inadequado (a), inoportuno (a), enfim, O (A) estranho (a).
Ouvi também que a inveja mata. Fiquei pensando: Cá entre nós, acredito que quem morre mesmo é o filho (a) da puta invejoso (a). Morre afogado (a) na sua incompetência. Foda-se ele (a).
Lucidez
A lucidez castiga.
A lucidez maltrata.
Sorte que não sou lúcida...
Merda!
Finjo que não sou.
Na verdade vivo num palco assombrado.
Cria
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
By Arthur Rimbaud
Elle est retrouvée!
Quoi? L' éternité.
C est la mar mêlée
Au soleil
Mon âme éternelle,
Observe ton voeu
Malgré la nuit seule
Et le jour en feu.
Donc tu te dégages
Des humains suffrages,
Des communs élans!
Tu voles selon...
— Jamais l' ésperance.
Pas d' oríetur.
Science et patience,
Le suplice est sur.
Plus de lendemain,
Braises de satin,
Votre ardeur
C' ést le devoir.
Elle est retrouvée!
— Quoi? — L' éternité.
C' est la mer mêlée
Au soleil.
Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.
Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.
Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...
— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.
Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.
Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
"Suplício" dedico ao amigo Karllos Hair
Tenho medo,
Medo do medo,
Nem sei mais distinguir,
Sei não.
Abatida dou conta:
Transformei-me,
Sou outra – ulterior -
Fiz de mim uma prisão.
Exausta amigo, sussurro:
- Perdi. Não o venço mais não.
Seja pelo tempo,
Sequer pela exaustão.
Enfarada parelho, imploro:
- Vem e abraça meu coração.
Insto também:
- Refreia as minhas mãos.
Dessa forma querido, confidencio:
- O medo se esvai e
Liberto-me de vez
Dessa praga eficaz.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
By Jean-Paul Sartre
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Amar ou Amor
sábado, 20 de setembro de 2008
Elegia by Drummond
"Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais. Sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas, e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan."
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Escureça os olhos
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Elegância by ^gill b.
Penso que elegância para nós mulheres começa no salto alto e termina nos dizeres que saem das nossas bocas. Isso sem desconsiderar, claro, a simplicidade e a sensatez.
Já para os homens ‘donaire’ começa na cortesia e necessita obrigatoriamente estender-se e passar pelo caminho do bom humor, afinal TPM é REAL.
Pensamos que ser afável seja algo fácil, porém observo-nos no dia-a-dia negligenciando nossa própria candura. Cismo que o difícil mesmo seja manter-se garbo (a). Acredito que o princípio da elegância esteja na educação. Não há elegância deseducada. Não há elegância sem mesuras. Não há...
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Tablado
Possuo um tablado, um tablado minado
Outrora se perdeu, cabal e esgotado
De forma duvidosa e tola foi escravizado
Fiquei só a observar algumas plantas.
Plantas malditas e pequenas
Plantas paradas, mudas e caladas
Plantas que o vento movimenta
Assenta e faz murchar
Penso em gritar... Elas não ouvirão
Vacilo. Discorrer com plantas
Seria o início do meu exilo
Retrocedo afiada e falida.
Mas pondero e delibero, logo brado
Em grave e tom bem aguçado:
- Plantas empacadas despontem daqui!
Plantas empacadas despontem daqui!
Voem rápidas auxiliadas pelo ar
Laqueiem suas caras
Suas caras de azar.
Devolvam meu palco
Tarde ele regressará
Não importa, aqui estará
Em seu legítimo lugar.
Plantas, depressa, tenho que passear.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Do amoroso esquecimento by Mário Quintana
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
domingo, 10 de agosto de 2008
by Nietzsche
Essa crença supõe, portanto, que há verdades absolutas; ao mesmo tempo que foram encontrados os métodos perfeitos para chegar a isso; finalmente, que todo o homem que tem convicções aplica esses métodos perfeitos.
Essas três condições mostram logo a seguir que o homem das convicções não é um homem do pensamento científico; ele está diante de nós na idade da inocência teórica, é uma criança, qualquer que seja o seu porte.
Mas séculos inteiros viveram nessas idéias pueris que jorraram as mais poderosas fontes de energia da humanidade. Esses homens inumeráveis que se sacrificavam por suas convicções acreditavam fazê-lo pela verdade absoluta...
...Não foi a luta de opiniões que tornou a história tão violenta, mas a luta da fé nas opiniões, isto é, nas convicções.
Se no entanto, todos aqueles que faziam de sua convicção uma idéia tão grande, que lhe ofereceriam sacrifícios de toda a espécie e não poupavam a metade de sua força para procurar por qual direito se ligavam a essa convicção antes que a essa outra, por cujo caminho tinham chegado que aspecto pacífico teria tomado a história da humanidade!
Como teria sido muito maior o número de conhecimentos! Todas essas cenas cruéis que a perseguição dos herdeiros em todos os tipos oferece nos teriam sido poupadas por duas razões: em primeiro lugar, porque os inquisidores teriam dirigido antes de tudo sua inquisição para eles mesmos e com ela teriam terminado com a pretensão de defender a verdade absoluta; em segundo lugar, porque os próprios partidários de princípios tão mal fundados como são os princípios de todos os sectários e todos os “crentes no direito”, teriam cessado de compartilhá-los depois de tê-los estudado".
Choro de Menina Choro de Mulher
Carlos
Meu menino
Um lado já garoto
O outro garotinho
Na mão esquerda carrega um picolé
Na outra, puxa um balão
Carlos, criança pequena, ouve-me:
Por favor, cuida-te
É teu dever
Faz-se tua principal questão!
O pai te ignora
A mãe, tempos atrás, foi embora
Vem, depressa e atravessa a avenida
Ainda há tempo
Ainda há contramão.
Estranha
Experimenta uma nota carta e
Bota na mesa sua cartada.
Se rei,
Se rainha,
Não sabe,
Talvez, erva daninha.
sábado, 9 de agosto de 2008
Desintegração
Digo adeus para não dizer que fico
Beijo teu rosto
Propositadamente evito tua face
Protejo-me da tua boca
Penso ser melhor assim
Sigo
Retiro-me pela porta dos fundos
Mantenho aberta a da frente
Tranco o portão
Mentira
Somente encosto.
Caminho até a parada
Aguardo o ônibus
Não sei qual é
Nem qual será
Após vários cruzarem o farol
Passo a observar as letras do painel
Decido por um caminho de nome mais extenso.
Assento a primeira fileira
Logo na primeira poltrona
Por sorte vazia
Assim posso ver o percurso
Olhar as folhagens
Mas não
Encosto a cabeça no vidro frio
Encaro meu reflexo
Assustada dou conta
De que não fui
Assustada dou conta de que por ti
Continuo apaixonada.
De súbito estou a teu lado
Em nossa cama
Em nosso leito sagrado
Ouço você tossir
Continuo com o braço direito sobre teu peito
Tua mão segurando a minha.
Tosses mais grave, balbucias:
- Maldito cigarro...
Rio e acendo um
Sei que queres
Ficas bravo com meu riso
Tragas e
Tosses novamente
Depois ri ao meu lado.
Mais um beijo
Outros afagos
Alguns ‘boa noite’
Adormecemos calados
Nossos corpos abençoadamente selados
Sonho com um lugar longínquo
Nunca antes por mim visitado
Estou em pé
Frente à uma padaria
Converso com uma senhora
Muito bela por sinal
Ela me acalanta
Não entendo
Por algo que me passa mal.
Despedimo-nos
Cada uma para o seu lado
É quando paro
Não entendo
Não sei aonde ir
Não sei meu endereço
Permaneço ali
Com alguns pães nas mãos
A caçar uma referência
Qualquer prescrição
Talvez uma seta
Ou uma sinalização.
Desperto
Ainda bem
Estou a teu lado e
Em nossa cama deitada
A cabeça sobre teu peito recostada
Estamos os dois
Estamos em casa.
Sinto um misto de alívio e alegria
Contemplo tua face
Admiro o semblante terno e
Gosto do mal humorado
Reparo a boca entreaberta
Reparo na respiração fragmentada.
Meus olhos percorrem os cantos
Cada parte do nosso quarto
Do nosso simples leito sagrado
Não há luxo
Nem muita beleza
Mas acolhe-nos pelas noites
Unidos em nossos risos
Agarrados as nossas tristezas.
Penso em levantar
Quem sabe fazer um café
Para quando despertares
Porém não consigo me mover
Pareço atada à cama
Nesse momento o moço me chama
Chegamos ao final
Sonolenta rebento
Não reconheço o local.
Desço
Degrau a degrau
Apanho minha mala
Meu pensamento segue esvaído
Não te esqueci
Nem esquecerei
Permaneço aqui
Aqui permanecerei.
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Situação
sexta-feira, 18 de julho de 2008
Falácia
Amarelas, amareladas
Assombros, assombradas
Tropicais,
Velejas, velejais.
Saibas:
Não me enganas mais.
És veneno de serpente,
Homem mau que transformou,
Em ódio, o que antes,
Eu apelidava puro amor.
quarta-feira, 16 de julho de 2008
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Roland Barthes
terça-feira, 8 de julho de 2008
Consternação
Fabulo melindrada
Por demais atontada
Sem meu amor pra eu amar
Sem meu amor pra me amar.
Dia após dia nas estradas
Pelas noites, só e desocupada.
Ainda lúcida primando
Arremato e
Finalizo poetizando.
Escavo alguns lugares,
Freqüento igrejas, bordéis e bares,
Reparo nos cantos,
Nos ambientes afastados,
Nas esquinas,
E, particularmente, em suas ruínas.
Revejo alguns vizinhos,
Sempre tão sós,
Tão sozinhos.
Depois da ilusão espalhada,
Num curto tempo desandada,
Laçou, laqueou
O lado certo e certeiro acertou.
Abrigou-se no meu corpo
Minha cabeça rodou e rodou
O coração solitário,
Novamente blefou,
Um terceiro ensaio circundou.
Renasci,
Acendi,
Elevei,
Luz branda, luz clara, clareei.
Uma vida a sós,
Uma vida a dois,
Uma vida a três.
Ou quem sabe
A quatro,
Cinco,
Ou seis.
Hoje ainda amargurada,
Com as costas queimando e raspadas,
E uma história para lhes contar:
Após períodos enlevada
Fui do meu caminho
Levianamente desviada.
Calei,
Permaneci calada.
Mentiras e
Mentiras conheci
Visitei-as, percorri.
Tomei café sem açúcar
Saboreei a refeição
Apontada de janta
Jantei,
Janta com pão.
Reparo agora nas paragens
Homens,
Mulheres,
Indigentes e
Crianças...
Crianças sempre carentes.
Escancaro a porta da frente,
Quem quiser, fique a vontade, entre.
Inclino-me na janela,
Contemplo o céu azul
Por alguns segundos penso
Num sim ou num não.
Resposta iluminada ou
Sagrada eu dispenso
Careço não.
Busco a torneira da pia,
E esfrego minhas mãos.
O cheiro de uva permanece
Abraçou-me,
Fortaleceu-me,
Fez-me intensa,
Garantida,
Fez-me TUA INIMIGA.
Dei pra distanciar
Você igual
A ação duplicar.
De lá pra cá
Vagas, vagueio
Meu amor, seu amor, sem amor,
Os dois apaixonados e,
Equivocadamente, envenenados.
Entupo-me de ópio
Quero o mais simplificado
Quanto a você de novo embriagado
Precisando me esquecer.
Eu uma resposta por merecer,
Ainda perguntando por quê...
- Porque eu?
- Porque esse lugar?
Nada de explicação
As questões retornam vazias
Pouco saudáveis,
Menos sadias.
Eu distante de ti,
Da tua vida.
Logo o sol partirá
Continuarei aqui nuveada
Nas minas tardes raivosas
Nas minas tardes espaçadas.
Já nas madrugadas frias,
Ou congeladas,
Ajoelho-me na beirada da cama
E não encontro aquele que me ama.
Mais uma noite sem dormir
Outra noite sem sentir
Teu corpo no meu
Como antigamente.
Repara:
Meu coração ainda mente.
Ouvi que ilusão passa
Que nada é permanente.
Rezo sem crença
Não sou mulher de fé
Sou pecadora
Remei minha maré.
Giro na cama,
Vigio o som do interfone,
Deitado ao meu lado
Um amigo ingrato
O aparelho de telefone.
A manhã chegou
Esqueça,
Esqueço,
Escape,
Eis minha oferenda.
Enquanto isso borboleteio
Sou puro rancor,
Creias que para sempre
Meu ódio conquistou.
Quem sou eu... O que sou eu...
terça-feira, 1 de julho de 2008
Criado Mudo
Sofre o destempero
Dos que pranteiam calados
Sem exageros.
Há dias não come
Palavras não menciona
Nesse momento está sentado
Num canto da cozinha.
O piso é de cimento puro
Logo nota o fogão:
Sujo,
Envelhecido e
Mudo.
Joana
Não sente medo, de nada é amedrontada
Joana carrega com ela um único desejo
Vingar uma vida outrora saqueada.
Seus seios secaram causando dor
Os poros entupidos o pulmão bloqueou
Na cabeça Joana tem uma morte a dignar
Antes da hora ninguém perfilhará.
Sofre inopiosa a perda do miúdo carente
Um ente que nem sequer conheceu
Mas, por meses, dentro dela viveu.
Joana não mais chora, Joana é mãe agora.
Mesmo destratada segue o caminho da paz
Perecerá, por fim, o varão
Destituído e desabitado de coração.
Da tempestade Joana se despediu
Dos fios de cabelos arrancados
Joana fez um nó,
Joana fez um punhado.
O coração cruento assolado
Transita pequeno, transita acalentado.
Joana não pede, roga ou implora
Vagueia harmoniosa esperando a grandiosa hora.
Seus esforços serão poucos
Quase nada custarão
O próprio homem assinalou a sentença
Será a cunho, será a mão.
Suas mãos, no passado, abençoadas
Fazem dela, presentemente, uma alma desregrada
Por tempos o pai saqueador
Seu caminho alongou.
Joana prometeu,
Joana realizará
A vida apequenada tirará.
Ao avistar o mar ainda morno
Joana pensa em Maria, mãe de Jesus
Que não lagrimou o filho crucificado
Despreza-a! Seu momento faz-se mais sagrado.
No jardim de seu furacão
Impôs-se até uma condição
Não assentar nunca mais
Seu compassivo coração.
Apressa o passo a mulher
Respira ofegante, um pouco agoniada
Frente à calçada está a casa ambicionada.
Avança na direção norte
O dia clareado testemunhará
Todo seu horror adiado.
Adentra a casa rosa
Encontra a semente do mal
Lá há de enterrar
Longas formas de azar.
Por fim, clama o malfeitor
Dispara variadas vezes
Até fazer calar
O barulho ensurdecedor.
Resignada contempla o sangue no chão
Satisfeita ajeita os cabelos com as mesmas mãos
Puxa a porta e atravessa a avenida
Parte para sua jovem e lúgubre vida.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
"Embriaguem-se" by Baudelaire
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão:
"É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
terça-feira, 24 de junho de 2008
Sentinela
sábado, 21 de junho de 2008
Supressão
Pondera ser inconsciente,
Sorridente bem sabe que não
Elegeu perecer a desejo planeado
Sem bênção e apagados os seus pecados.
Enquanto desfalece desfruta
A ponte suspensa conquistada
Escolheu a forma para ir embora
Ajuíza agora clemência por fora.
No seu perecimento suplica
Não padecerá preces ou complacências
Tampouco alheia estará às incumbências.
Ambiciona algum acolhimento
No minuto que antecede o final
Sua última etapa,
Sorvida pelas águas do mal.
Morrediça há algum tempo -
Não sabe precisar bem quanto -
Ah, lembrou-se: Em apoucadas doses o corpo fragmentou,
Em seguida a alma branca secou.
Feito pomba, feito nuvem
Feito semblante velado
Por gente distante
Eles, os tais mascarados.
Tragou, arrancou, risonha amou
Pena, prontamente, de novo, o soluço a encontrou
Há que se evidenciar: Desnudou-se, por completo, essa mulher
Transpôs seu aclamado e antigo pudor!
Já sente a leveza do casco desmobiliado
O ar estendê-lo-á até findar
Quanto à gêmula que aplaclara seu coração
Correu apressada,
Fez-se densa a destruição.
Desconhece o sim, não reconhece o não.
Nesse ínterim afastou o amor e as vestes arrebatou
Numa ladeira escura os calçados abandonou
Goza agora a fúria da sua única dor
Porém, capacitou-se em tirar proveito: Lágrima alguma restou.
Memoriou tempos passados
Talvez uma desconfiada salvação
Ligeira e sem tardanças abortou
Desfez-se da preocupação.
Expira plácida e plena, ressoa serena
Também pura e grandiosa a moça pequena
Embebedar-se-á noite afora
Naquele boteco remanente, de frente.
Soberba seus últimos momentos vigiará
Reivindicou dizer adeus
Ao tosco que a atravessou
Impulsiona os olhos, chega, chegou. Suspira, suspirou.
Jaz ali mais uma mulher...
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Aditamento
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Carlos Drummond de Andrade
A angústia - (Desalento) by Jean Paul Sartre
A angústia existencial decorre da consciência de que são as escolhas dessa pessoa que definem o que ela é ou se tornará. E também por saber que estas escolhas podem afetar, de maneira irreparável, o próprio mundo.
A "angústia" decorre, portanto, da consciência da liberdade e do receio de usar essa liberdade de forma errada.
É muito mais fácil acreditar que existe um plano, um propósito no universo, e que nossos atos são guiados por uma mão invisível em direção a esse propósito. Neste caso, meus atos não seriam responsabilidade minha, mas apenas o meu papel em um roteiro maior.
Mas Sartre nos dá mais um de seus conceitos em oposição a essa crença: Não há um propósito ou um destino universal. E o homem diante desta constatação se desalenta.
O desalento é a constatação de que nada fora de nós define nosso próprio futuro. Apenas nossa liberdade.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Plaustro (Ou 'Esperou pelo sol...').
Esperou pelo sol, insensível não o acudiu
Ateou lembranças distantes, vãs, dispensou-as
Inquiriu nas palavras algum sentido à vida
Não dominou signos nem significados; chorou assentado.
Impelido visitou botecos, contornou vielas
Vias, alamedas e passarelas
Entretanto, nas passagens exausto desbotou
Cambaleado o chão, pela primeira vez, enxergou.
Com uma manta verde se adornou
Intentando não mais seguir caminho
O corpo contrário tremeu acelerado
Mesmo desprovido partiu derrocado.
Seus pés lamosos perderam-se
Um verdadeiro vai e vem
Rapidamente transformou-se em nada
Constituiu-se em mais um ninguém.
Dores no corpo ecoaram suas mágoas
Cercou-se de pastilhas, gotas e agulhas
Pouca alegria aventurou,
Desnudado quis despir sua existência - tarde recuou.
Pensou na morte como solução para a vida
Mesmo com as lentes quebradas de tempos atrás
Quando já aporrinhado clamava algum tipo de paz.
Ofuscado e fiel concluiu
Suas tristezas a ruína acolherá
Nela há de encontrar beleza e serenidade
Ultimadas numa cama branca e asseada.
Mas, seus olhos ainda infantis
Não perderam o lacrimejar
O medo do medo o assaltou e fez-se fiel e parceiro
Um verdadeiro companheiro.
O que fez dele? O que fez por ele?
Respostas cruas vieram-lhe a mente
Junto com o medo, seu amigo alanhado,
A cabeça rodou e o mundo girou.
Ainda assim remoeu possibilidades
Prendeu-se a um antigo lugar
A corda invitando mais tempo
Algo a lhe acompanhar.
Golpeado, o chão novamente fitou
Pingos ensangüentados escorreram
Pelas pernas magras e trêmulas
Ardilosamente acanhado desmoronou.
Resolveu pedir ajuda, gritou por socorro
Todavia, não havia mais ninguém, lembram-se?
Partiram em seus barcos azuis
Folgazões navegando mares e marés hostis.
Agora mais pobre, caluniado e doente
Tornou-se transparente, quase invisível
Seu rosto deslembrado para trás ficou
Nenhuma bóia a esse homem sobejou.
Rastejante encontrou o trecho indicado
Caminho confuso, percurso bifurcado
Achacado não reconheceu o passado
Seu coração soa em vão, grita inutilizado.
Restaram-lhe algumas manchas escuras no peito
Borbotando um liquido morno e avermelhado
Faz-se casto, puro e enlouquecido
Enfim, seu lugar encontrado e merecido.
Um punhal de osso dourado no peito fincou
Pelo pai, quando vivo, a ele doado
Ostentou, dias ao vento, ali, bem alojado.
Nuvens claras teimam e figuraram pelo ar
As janelas estão semi-abertas e as portas encostadas
Porém, seus olhos acuados
Dificultam reparar, desviam o admirar.
Igrejas, prédios, campos de futebol
Fez-se puro silêncio.
A pouca esperança atrás descartada
Carente se esgotou e com o punhal de osso dourado findou.
Escreve emaranhado, o estômago vazio
Pensa numa prece, oração
Ou num trecho de alguma canção
Esqueceu-as; o corpo já arrebata o frio.
Seu coração opaco escora a descobrir
O que exclamou e perpetuou nunca existir
Exausto conclui que se enroscou por completo
Nos cadarços de seu tênis amarelo e indiscreto.
Restaram-lhe alguns pensamentos
Bem sabe que água não entornará
O corpo miúdo e desprovido
Não incluirá como se afogar.
Casualmente avista sua pretendente
Uma fogueira bela e candente
A ela esse homem pertence
Alquila seu braço e ruma um caminho diferente.
Terras áridas visitarão
Por nada esperam, bem sabem, nada terão
A companheira o informa:
- A água doce o mar sugou e graceja sem perdão.
A partida principiou, logo há de cessar
Aqueceu-se por completo no fogaréu
Nenhuma alma a contemplá-lo lá do céu.
Dedico esse poema à amiga Gilmara.
domingo, 8 de junho de 2008
Pequeno desabafo de dor...
quinta-feira, 29 de maio de 2008
"Transparências"
Agora infiel,
Compõe-se d’uma acanhada sombra
Fina, puro pó.
Apartada
Quase por completo
Por mim sentenciada
A viver ante o nada.
By Clarice Lispector
quarta-feira, 28 de maio de 2008
A má fé segundo Jean Paul Sartre
Sartre também considerava a idéia freudiana de inconsciente como um exemplo de má-fé.
Má-fé, no existencialismo, não é mentir para outras pessoas, mas mentir para si mesmo e permitir-se fugir de sua própria auto-determinação.
Quando Sartre refere-se à má-fé, ele o faz no sentido de que a mesma compreende mentir para si próprio. Porém, o fato de não utilizá-la leva o indivíduo à angústia uma vez que ele não mente mais para si, tendo consciência de que tudo aquilo que lhe ocorrera em vida é atribuído às suas escolhas, somadas evidentemente às suas limitações naturais, sociológicas, econômicas, históricas e culturais.
Assim, não há como responsabilizar o destino ou qualquer providência divina pelos acontecimentos de sua vida. Diria Sartre: "Estamos sós e sem desculpas".
P.s.: Ao abandonar a má-fé, o homem passa a viver em angústia, pois ele deixa de se enganar. Esta passagem do estado de má-fé para a o de angústia é extremamente importante para que o sujeito possa encontrar sua liberdade no âmbito metafísico.
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.Wikipédia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sartre
terça-feira, 27 de maio de 2008
terça-feira, 1 de abril de 2008
Menino Desajeitado
O brincar das ondas mortas
O tilintar das marés vazias
Os movimentos soltos, à revelia
Na tua vida, pelos nossos dias.
Por onde andas ó menino desajeitado
Onde se embocou agora, outra vez enganado?
Tudo espero menos que permaneça recatado
Grita e estarei a teu lado.
Por onde andas ó menino atrapalhado
Donde se enfiou, novamente fechado?
Tudo espero até que estejas confuso
Grita e adormecerás ao meu lado.
Há a terra onde pisou brincando com as ondas
E as marés abandonadas todas vazias
O tilintar, os movimentos, aprazias?
Menino tens jeito: Contagia.
Carente, abastado, estatelado
Pequeno, ingrato, mal educado
A vagar sem rumo e sem norte
Passeou pela casa da minha triste sorte.
Por onde andas ó menino calado?
Onde estás nessa noite melancolicamente fria?
Gira correndo pra casa, serás perdoado
Somente tu para embalar os meus dias.
O mangar do alvoroço findou
Entre sons e espíritos desocupados
O abalo solto, finalmente, foi enlaçado
Em nossos caminhos frágeis e eternizados.
sexta-feira, 7 de março de 2008
"Alma Amada - a parte de cá" - Eis, por fim, Tânia
'A parte de lá' by Tânia Barros
"Minh'alma, amad'alma,
que de mundo e desmundo
é coroada!
Que desmundo é este te alumia
a luzir o mundo com tanta galhardia?!"
'A parte de cá' by gill benício
O final (?), 'a parte de cá' by gill benício
Tua amad’alma
De mundo e desmundo coroada
Não te espantes agora, minha senhora. Faz-se hora?
Para aclarar noites sórdidas e acobardadas?
Que desmundo é este que te alumia,
A luzir o mundo em galhardia?
Olhas! Perpetua com brio próprio, aludia
Nosso acanhado desmundo das palavras em melodias.
Outrora, quão infeliz, rudemente estudado
Por fim, depois de tanto rebuscado,
Burila calmo e acalmado: Pobre, jamais coitado.
Caminha seguindo pelos dias
Igrejas,
Altares e
Melancolias.
Colossal, enfim, aquietou-se nos lugares
Não ambiciona durar algazarras
Deseja mesmo é alastrar-se
Embebedando suavemente mentes secas pelos ares.
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Peso adocicado - Para ti "iSA bELA"
Estranha qualquer tentativa de elucidar
Estrangeira é a forma desse ensaio
Vê-se imperiosa rápido articular
Não agüenta mais - tão Bela - calar
Há um peso adocicado em suas costas
Não arreda pé posse ou lugar
Atende essa garota orgulhosa
Impedindo-a de notar como o largar
Há um peso adocicado em suas costas
Frente a algo quase não esquecido
Intrusa prerrogativa perdura do passado
Remoendo tantos anos desajustados
É um peso estranho de explicar
É um peso estranho de sentir
Ela o reconhece como um peso adocicado
Sua grande dificuldade: Deixá-lo de lado
Peregrina caminha por sua extensa alameda
Avança a passos longos e compridos
Deleita-se no gosto desgastado - seu paladar
Não descobriu, todavia, como agir como evitar
Procura formas e formas de expulsá-lo
Vê-se arranhando os próprios calcanhares
Equilibrada em suas sandálias de salto alto
Alcança os mínimos e maiores lugares
É o peso adocicado das suas costas
Suplicando, ambicionando continuar
Pela manhã estrondosamente, na sua frente, gritou:
- Irei embora somente à minha hora!
Largou as sandálias e agora pisa na areia molhada
Agatanhou as solas dos pés cândidos delicados
Todavia, não sentiu dor - há até um pequeno rumor
“O peso adocicado tem lá um forasteiro sabor”
Dissimulado, esse danado, não disfarça mais
Intrometido, o velado, nem pede licença
Indiscreto, tal safado, chega a qualquer hora
Arredio desvairado louco a namora
Tornou-se deveras mal-educado
Mantém-se principiando nada gentil
Tampouco guardou o que lhe era afável
Maldição perdeu o doce ar da dor pueril
Cansada bem mais que enamorada
Decidiu resoluta removê-lo – ainda paira certo temor
Precipício abaixo há de arremessá-lo
Aspira vê-lo só, bem longe, devastado
Agarra-o, maneja-o com destreza
Despenhadeiro abaixo o impele – pura certeza
Com a força de mulher madura a execrar
Deseja sua alegre tristeza – por fim - serenar
Nesse momento Isa pisa na calçada
Retrai-se um pouco meio desamparada
Ignora, não pensa, segue abençoada
O peso adocicado transformou-se em nada
Agora persegue acompanhada seu caminho
Apaziguada - atenta - menos desalinho
Forte e serenizada
Tranqüila mais adocicada
Enxerga adiante o mundo que se abre
Abraça-o com energia abstrata
Pede exílio para ela mais o pequenino
Tão senhora, tão exata
Dá partida sossegada.
sábado, 23 de fevereiro de 2008
"Apagamento II" - Para a amiga Tany por gill benício
Como carentes indigentes e enamorados
Buscando desesperados somente sobreviver
Por palavras digeridas mastigadas e corroídas
Ler? Não ler nada - sumir
Escrever? Menos ainda - apagar
Cada uma com sua alma salgada
Condenadas ao sol que não despontará
Desatar as cortinas descortinar
Doar sangue - doar vento - ventar
Na ânsia de simplesmente reter os sentidos
Existir, para quê?
Sumir não divagar
Não abrandar menos afastar
Não iludir-se - desesperançar
Dobrar o relógio - despertar
Maldito encanto nosso - doce retiro
Rarefeito puro espanto
Onde me abrigo noite adentro dia afora
Sem pensar na maldita hora
Apavoras-te?
Eu também
Sozinha, cá sem ninguém
Reduzida a nada
Um pouco mais, menos encantada
Saboreio o sal do teu ar
Sou a voz do mundo a te enfrentar
Açoite sólido açoite lírico
Ecoando divinamente devagar
Pairando de qualquer forma
Pairando em qualquer lugar
gill benício
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Perdão para o pai
Não penso mais num ser humano errando
Por intento ou desejo
Ninguém ingressa a errar por aspiração
Seria falta de ciência ou capricho vão.
Faz-se tudo no intuito de acertar
Todavia, o desacerto chega
Sem aviso prévio
Ninguém a comunicar só desarranjar
Dói ter ciência da ausência do nome do teu pai
Na tua certidão de nascimento
O quão difícil deve ter sido
E ainda persiste encoberto o enigma.
Por isso não te desgosto mais
As mágoas se quebraram
De tempos pra cá, posso te asseverar
Com lisura e integridade no coração
Que as angústias espancaram
Nos muros e paredes da minha solidão
Compreendi,
Tomei aviso,
Senti:
Foi o que podias
Foi o que sabias
Foi o vivenciado por ti
Foi o atingido com o pai dos outros
É sabido:
Altercarmo-nos por alguns trocados
O tempo foi incumbido tornando tudo miúdo
Porque não dizer sagaz
Ao mirarmos nossos valiosos filhos de paz.
Releva o padecimento
Perdoa a humilhação
Se puder, esqueça as ofensas
E anistia o quebranto causado.
Do mesmo modo compete a mim:
Fui o sugestionado o recomendado
Porque não dizer o mais cômodo ou indicado
Menos sofisticado o mais iludido lado
Tão arredia em meu casco quebrado
Sem reza nem bênção
Sem graça ou consternação
Fui só mais um alguém
Nós - dois seres miúdos -
Eu e você também.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
Por fim, o coração abrandou a razão
Senti aversão ao perceber minha razão
Perturbando, fria e seca,meu coração.
Lembrei-me da história da mulher do pintor
Aquele pintor da arte e do amor,
Ela, um dia sentada na janela, às costas paro o céu,
Mirou-me indagando:
- “Você sabe o que é o amor?
O verdadeiro amor?
Você já amou tanto que se condenaria
À eternidade no inferno?
Perdoa, já vou...".
Não tive réplica
Quase não atingi a pergunta
Amar pra mim, até então, era unicamente amar
Nunca embalara amor às provas mistas da dor.
Conto-te agora:
Não sabia amar até encontrá-lo
Nunca sentira qualquer pesar
Nem lamentara nada, face seca e calada.
Nesse momento chora a alma dos amargurados
Arde o coração dos vivos angustiados
Sabedores da dor da razão
E conhecedores por viverem uma grande paixão.
Quanto a mim, perdi minhas referências
Afastei-me do meio-fio e da ilusão
Inundou-se também minha percepção
Antes, o Amor denominado como certo
Fui obrigada a abortar e
Reconhecer seus manifestos.
Recordo, amei-te mais ainda
Ao ouvir: - Espera, confia, imploro,
Repara, nosso tempo não se perdeu.
Desejo ansioso um filho teu.
Apoquentada, perguntei a meu modo, insegura e rígida:
- Quanto tempo ei de esperar
Acolheremos e impeliremos
Todos os desgostos judiciosos por vir?
A resposta não me apaziguou, fingi.
Bem sei que mentiras, no passado, 'por amor'
Abominei-te severamente impiedosa e cruel
- Inconveniente, covarde e prosaico
Tu, rendido a um preço tão baixo.
Algumas situações a sorte não adota
Menos ainda permite ou consente
Felicidade só conhece amor vindo da pura alma
Somente assim, ao saber, distingui.
Volto a minha questão peculiar
O que fazer do presente
Nossa história, por pouco, não se foi
Largo-me nesse momento, entrego-me a ti
Quase depois da minha hora.
Seguidamente falo-te tensa
Perdoa, bens sabes que não me contenho,
- Amado, receio ir além,
Postar-me, perder-me, aquém.
Essa maldita e perversa insensatez
Talvez me leve à procura – não! Outra vez -
D’um outro alguém. Ninguém?
Temo não suportar o tempo necessitado
Alarmo não ter meus próprios aparatos
Sou pobre, mistura do aqui e agora ,
Mas reponho-me circunda:
- Deixa-me ir embora?
Leva contigo a ciência de ter golpeado bem
Conquistastes teu desejoso bem
Obteve êxito, fez-se o meu homem precioso .
Minha alma arde, alardeia e entoa
Roga calma, paciência a minha pessoa
Meu corpo contrai-se, é puro fogo
Enquanto meus seios nus aspiram tua boca
Vem e apossa-te desse teu ser asilado.
Outra história vou te contar:
Não rias, envergonhar-me-ia
O beijo dito 'roubado'
A ti foi astuciosamente doado!
Não, não amolgarei ou golpearei
Nosso retraído retiro
Nossa luz não escurecerá
Abandonando nosso canto,
Tomando outra direção, tolice, em vão.
Acatada agora minha tola e ingênua alma
Despreza meu acanhado e minúsculo momento
Ausentar-me solidificar-me-ia uma farsa - longe de ti –
Inadequadamente engenhosa.
Quanto à despedida faremos depois
Revogaremos, um ou outro, o destino apontará
É sabido: Jamais estaremos os dois.
Reconhecido o tempo perdido
Cruzadas as horas perfiladas
Forço a razão a acudir-me, de novo,
Nega-se impiedosa
Tomará novo rumo pelas auroras.
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Temeroso discorrer tua ausência
Não concebo indispor tua presença
Não cultivarei somente tuas sobras
No fundo de uma gaveta por amor esqueça
Tenho medo tenho pressa
Sou ansiosa inquieta
Admitias bem antes
Agora aceitas muito mais
Há um temor grande não impetrar
Lidar com a situação hesitar
Eis uma nova etapa
É aqui que dispõe-se outra porta na vida
Vivida por nós - um e dois – a sós
Apreendo-me intimidada
Quando se traz à baila o tempo imperioso
O que perpetrarei em minha temporada
Algo a improvisar nas horas vagas
Nesse momento meu amor
Meu desejo é encontrar-me contigo
Nesse momento meu querido
Agonia-me cobiçá-lo sem senti-lo
Há tempos não vivia algo similar
Um alguém tão próximo a mim
Homem cuidadoso que és a me acalmar
Atinado bem como deveras apaixonado
Há estações vago atravessadamente noites escuras
Trafegando madrugadas embrenhadas
Buscando o porquê do antigo sofrimento
Esqueço
Agora se faz passado
Deixado de lado alongado
Carecidamente finado acurado
Mereço
Peço, não me deixes
Peço, monopolizes a expiação
Peço que alcances a situação
De estar unicamente meio com medo
Trafico: Eu a escrever alucinada
Com a cara quase que lavada
Você a podar plantas a tirar ervas
Fazendo arroz e improvisando a salada
A história acontecerá de forma pacata
Essa que agora teima e contra-ataca
Discrepando do vivido e imaginado
Discordando do passado tão planejado
Queremo-nos um mais que o outro
Não há entusiasmos a aferir
Não há estaturas nem há peso
Menos ainda comedimentos
Há nessa era nossos desejos
Não se chora mais nem se lamenta
Eis meu amor à nossa frente
Um mundo acenando de cara pra gente
Eis meu amor na nossa frente
A vida ofertando-se acabrunhada
Eis meu amor na nossa cabeceira
Mais uma chance límpida transpirada
Faz-se agora imperioso vigiar
Ter acurado cultivar
Com amor amar
Com carinho afagar
Sem pudor descomposturar
Atravessei quase tudo atravanquei por quase todos
O que sinto não me é nada novo
Menos ainda trivial
O que dizer de abjeto ou senão banal
Vejo como raro assisto como belo
Vejo como puro percorro como deleitoso
Algo a viver tão único e tão apetitoso
Toma-me em teus braços
Acolhe-me e aperta-me
Amolga-me enfim
Teu amor a embaraçar em mim
Para perdurar meu querido
Abafa-me em tua astúcia
Em teus braços serenarei na fleuma
Em teus estreitos serei feliz
Viverei calma viverei plena.
Ferdinand by Victor Delacroix
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Vidas Sacadas
Talvez tardias
De que viver é somente ir levando
Seu pequenino dia-a-dia.
Não há de ter fé, menos ainda, esperança
Há de ser desprovido de quaisquer expectativas
Mesmo essas julgadas por vocês como nobres
Como se atrevem a discorrerem sobre nobreza
Diante de tanta miséria perante tanta penúria
Ocultando milhões e milhões de biografias?
Não consideram - faz-se evidente -
O outro a vocês não diz nada
Ou fingem bem, parabéns.
Saiba, disseram-me um dia,
Ser mais fácil ignorar
Sendo assim, senhoras e senhores, mascarados
Misto de regalos enojados
Não me digam nem me apontem
Quais regras devo seguir
Não as quero
Nem mesmo anseio ouvir
Devolvo-as, abraças e siga-as
Tampando o teu coração
Mas, o meu não.
Continuo seguindo minha direção
Nada modifico - vou levando -
Já que a vida
Não me cumprimenta mais, essa danada
Tornou-se mal educada
Também não respondo presença
À sua lista de chamada
Prefiro escarrar na sua cara
Não me perguntem
Não tenho respostas
Quais são os lados quais são as facetas
Oportunas por denominarmos de certas
Aproprio-me das minhas crostas
Lado esquerdo, lado direito enxotados
Pensando bem, até mesmo, mal arranjado
Não me importo
Informo-lhe um pouco apressadamente
Que também não te suporto
Quanto ao que denominas
Tristezas, desgraças e infelicidades
Procure-as nas tendas
Essas que são esticadas
Sob as pontes edificadas
Agora, peço licença
Pra vomitar na tua cara
Queres muito, bem sei, teu ego anseia
Minhas súplicas, minhas solicitações, esqueça
Penando bem, sei que no fundo,
Isso até te alivia, diminui a tua culpa, tardia
Não rogo nada
Serei rápida, darei partida
Não arrazoarei da tua
Menos ainda de outras vidas
Deixadas por ti - esquecidas -
Creia, tenha uma única certeza,
Podes me titular
De louca e completamente desvairada
Enquanto a hora
Não se apresenta
Fumo meus cigarros
São vários, são profusos
Abasteço meus pulmões
Ei-los repletos da mais pura fumaça
Num intento temperamental, nefário, aturdido
Em percorrer o caminho das moradias
Daqueles denominados simples migalhas
Dá-se o encontro
Eis meu canto, talvez, um pouco fingido,
Não me bestifique
Nem me trates feito tola
Não me engano com a tua pessoa
Nem me Iludo com a tua fala
Todos os refúgios apontam-me ninharias
Tuas e também minhas
Então, permito somente à essa teimosa
Continuar buscando
Os leitos de morte dos inúmeros
Dos sofridos e apelidados de ninguém.
Esses mesmos que não têm casa
Não têm comida
O que dizer, então,
De esperança ou expectativa?
Pra terminar, não tente
Nem se atreva, tampouco ouse me doutrinar
Seu maldito hipócrita e fingido
Por isso, todas as vezes que me ofereces
Um copo d’água, bebo-a
E vomito um misto de sangue
No chão da tua abastecida casa
Quanto à minha boca
Limpo-a com ternura – um tanto brava -
Não sou pura menos ainda imaculada
Mas grito, berro e exclamo
Por essas vidas roubadas
Desses cuja a história insana
Não doou nem doa nada.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Sobras
Tens aqui as sobras do aglomerado e vinculado
Tens aqui as sobras do glorificado e brioso e enfatizado
Tens aqui a porção do que permaneceu abotoado em tua goela
Recheando meus casebres e recheando teus casarões
Vasculhando grandes moscas e vasculhando pequenas mansões
Abarrotando latas
Abarrotando latões
Vomitando na cegueira dos que já não vêm quase nada – dói dizer -
Vês aqui o que deixou calado
A ferro e fogo reprimidos
Fechados pela tua existência
Escorraçados e banidos
Parvos e acabrunhados
Tão insignificante, a pó, agora amortizado.
És:
Fogueira na água;
Sombra na pedra e
Sabonete no corpo denso
E, se queres, saber
Tens também
Um pedaço do chão de alguém.
Essa que te fala
Engradada quase calada
Petrificada por pouco não amarrada
Pouco amada meio assombrada
Desaventurada na vida não foi largada
Em pratos desnuda e abençoada.
Eu mesma
Lambendo teus pés
Lavando tuas feridas
Secando tua face e
Buscando teus lábios, ainda.
Teu Interesse Por Mim
Nessas Águas Mornas Esfriadas
Molhadas Em Riachos Vazios
Palavras Ditas Palavras Enviesadas
Teu Interesse Por Mim
É Grosseiro Atrevido Obsceno
Teu interesse Por Mim
Fez-se Ínfimo Mesquinho Avarento
Teu Interesse Por Mim
Passa Batido Leva Porrada Sem Pena Sem Ninharia
Teu Interesse Por mim
Não Faz Sentido Algum A Mim
Teu Interesse Por Mim Nada Me Fala
Faz-se Eco No Hall Da Sala De Entrada
É Oração Friamente Entrecortada
Teu Interesse Por Mim Vem Como Bala Invadida
Desvio-a Nos Riachos Paralelos Inflamados
Submissas Acampadas Sem Sentido Desatinadas
Teu Interesse Por Mim
Pra Mim
É Instantâneo Mal Combalido
Perverso Prenúncio Desatento Combatido
Esqueça
Peço Não Te Atrevas
Risca
Rogo Não Te Submetas
Apenas Saia
Por Favor
Agora Talvez Por Amor
Vá Embora.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Pensamento: Asno
Sofrimento Avessado
Com gosto arranco minhas feridas
Boto fora minhas cascas
Boto fora tuas calças, compridas
Junto, segue envio essa capa
Tua tortura encobre os teus desejos
Esse é o teu piegas
Ou senão, maior medo
Ignoro
Faço vista grossa
Uso-a agora
Na tua hora
Minha rouca ou louca redenção
Submetida a tua insinuação
Persegue algo distante
Mediante a azáfama cobiçada - minha mão
Sei que não sou
Somente estou
Aceno
- Olá. Cheguei. Desculpem, já vou.
Não há o que contemporizar
O tempo deverá ajustar
Grande será a vida fortuita
Sei que não veio
Iludo-me de novo - Abençôo
Sei que não virá
De costas mando todo o mundo à merda
De frente, sou gente, mando a puta que ME pariu
De lado sou escrava morta a tesouradas
D’uma dor meramente amargada
Entre as portas abertas
Inabalavelmente escancaradas
Sigo assim
Não me recordo de ter sido feliz
‘Felicidade alimenta a ignorância da alma’
Não me apetece e na fleuma fujo
Vôo para bem longe
Minha couraça é uma fantasia blindada de papel crepom
A cabeça se debate contra os murros nas esquinas
Mesmo assim, meu estômago corrupto ainda assenta pó
Bem como, meu pulmão molhado tende a denunciar
Os maços e maços de cigarros fumados
Numa noite só
Meu cauto precário e raro
Feito de mineral esfumaçado
Leva as últimas lágrimas soltas
Não se ausentam, seguem sem fim
Dessa vez, não mais em mim
No final, penso,transformei-me num quase nada
Sou apenas mais uma fenda recortada
Talvez aquela dona meio embebedada
Pela vida, à ela, monopolizada
Porém, é na palma dessa mão
A estreita veia da minha canção
O que vem – se sim, se não
Sinto pena do tempo
Esse pobre coitado
A perseguir meus passos
Equivocados e desajustados
Reconheço, encontrei nas enxurradas
As pragas obscenas e mal lavadas
A escorrerem no meio fio uma erva danosa
D’entre um coração em pedaços - pena penosa
Enfim, dediquei-me a outro percurso
Sem saber qual foi, menos ainda, qual será
- Minha plena canção bucólica -
Meu acabrunhado e pequeno
Tão intrigado - quieto - lugar
Excluo-o, lembra-te bem, de qualquer passagem
Apresento-lhe meu mais novo recente limiar
Reconstruo quieta o passo - a - passo
Sou eu sim, assim e
Longe de ti hei de ficar.
domingo, 20 de janeiro de 2008
Choro em vão do meu coração: O pedido que não saiu - Para ti Chamusca
Tive vontade de implorar, não vá, fique, por favor, aqui ao meu lado.
Queria te pedir pra me tirar desse casulo, desse quarto, desse canto onde me estabeleci e passo a maior parte dos meus dias refletindo sem comer, sem dormir, sem saber nada de mim.
Queria que me fizesse um pouco feliz.Sabe felicidade momentânea, espontânea, rica?
Preciso dela. Não há espaço para negligenciá-la agora. Faz-se tarde.
A busca tornou-se exaustiva, estou cansada.
Ao perceber que irias, mesmo tendo alegado chuva, tempestade, vendaval e nada o deteria, roguei a Cristo, roguei à toa.
Fica, por Deus, fica aqui. Preciso de um deus diante de mim.
Que te custa?
Cuida da pipoca, cuido do filme. São cento e oitenta títulos. Decerto ainda não viu algum.
Depois podemos ler abraçados, lado a lado, no tapete encarnado da sala, enquanto nossas bocas se procuram sedentas. Enquanto meus pés resvalam nos teus.
Música? Há de fazer-se ouvir, sem pressa, sem medo, sem receio, sem interferências seguindo a cumplicidade do respeito individual e glorioso do que cada um aprecia.
Adquiri o hábito de interessar-me por aqueles que estão sempre em fuga.
Seja fuga de si que acaba refletindo em mim.
Não me faça pensar que não há saída.
Os meninos? Ah os meninos. Não corres risco algum.
Não me faça crer que nosso porão é oco.
Não me faça acreditar que não valeu a pena, não me faça rastejar, não me maltrates com tua indiferença.
“Deixo-te antes para que não me deixes depois. Sofro menos. Essa é a dor de quem não encara uma partida”.
Tu agüentas, bem sei. Quantas vezes me pus longe e ficastes a esperar sem espanto, sem temores, sem receio.
Nenhuma dúvida a torturar teus pensamentos ingênuos.
A dor do esquecido consome também quem a esqueceu.
A dor do esquecido dilui aquele que a viveu.
A dor do esquecido, meu amor, nesse momento, sou eu.
Assusta-me a rotina do dia-a-dia, logo eu, tão desvinculada desses princípios, tão dona do meu nariz, tão senhora das minhas horas.
Tão desprendida. Mas, sinto, não há como mudar. Não mais agora.
Não vejo como retroceder. Fiz-me assim.
Mas, pensa comigo: Assim me encontrou e quis, assim me conquistou. Assim me perpetuou na tua carne.
Sou como gostas e precisa. Encaixo-me nas tuas medidas.
Sigo amando aquilo que revelastes pra mim...
Confessado,
No filtro amarelo do cigarro Hollywood, quando não Marlboro.
Nu,
Perante a Portela – Enredo de samba – Puro carnaval – Eu a rir de ti.
Cruel,
Perante meus desejos incertos, insaciáveis, translúcidos.
Obcecado,
Nas suas viagens junks tão esporádicas quanto profundas. Obcecado pela minha inteligência. Pelo nosso complemento, pelo nosso composto, pela tequila varando madrugada.
Libertino,
Na medida daquilo que anseio e preciso.
Maltrapilho,
Vestido com um sobretudo rasgado, furtado? Quê importa?
E, maltratado pela violência do perdão que não veio.
Tua presença faz-se mais necessária do que tudo, agora.
Tua presença transforma-se em luz, não te olvida.
Vê? Chega a iluminar aquela casinha, mais precisamente o quarto dos fundos, detrás dos morros esverdeados.Por cima dos fios dos postes perdidos.
Tua ausência é você atravessado, sobreposto a mim.
Tua presença é poder revelar, não esconder a minha existência.
E fazer com que tu me enxergues.
Estou aqui, olha, sou eu, anunciando-me pra ti.
O que fiz para merecer tal sentença?
Se eu fosse diferente tu não me quererias.
Se eu fosse diferente jamais despertaria tua curiosidade ou interesse.
Se eu fosse diferente teu amor não me abarcaria.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
Luiza Laura e Laurinda
Encontro-me com ela
Pequeno começo estabeleço
Um momento a sós – só nosso -
Junto à esquina daquele farol
Brigadeiro com Consolação.
" Tamanha indiscrição a sua
Meta-se com tua vida
Prurida fantasia modesta e fria
Pequena prolongada
Nada refinada."
Bota medo, bem sei
Àqueles que ainda não foram
Correm o risco de perderem-se
Pelas vilas lidas ladainhas.
- Ignora,
Típico de gente
Bem gentinha
Quase um nada
Um nadinha.
Encontro-me com ela
Estabelecemos outro momento – só nosso -
Eu a pedir - Roga por ti
Quanto a mim, esqueça
O momento abençoado é todo teu
Trague-o
Por mim não desafies nenhum rancor
Não atormente
Nem transforme
Veste-se de seu minúsculo pudor.
Diferente do começo, lembro bem
Principiou tão curiosa quanto banal
Na cara espelhava
Transtorno ventania vendaval
-Mas é ela quem se levanta
À noite, pra fazer o mal?
- Que mal?
Por isso deixou-a assim,
Perplexa, sozinha amedrontada
Numa rua pequena encruzilhada
Maleta em punho empunhada?
Saiba, foi naquele momento
Viu-se inteira
Aos pés do chão abandonada
Diferente dos becos das tuas ruelas
Desafiando teus ecos pela goela
Alegoria de gente,
Bem gentinha
Chorando calada sozinha
Sem pensar em melhorar
Ser melhorzinha.
Nesse momento
Dói-lhe a barriga a cabeça
Suas mãos denunciam medo
Os pés estão úmidos gelados
Grudados ao lado do pequeno coração roubado.
Mas é na garganta da minha canção
Que te vejo na contramão
Diriam, tens aí uma canção vestida
Encontrada justamente pela menina desavisada
Durante sua estreita estadia.
Novo encontro estabelecem
Fez-se outro momento a sós - mais um entre nós -
Melhor se comparado aos outros
Outrora denunciados
Há até um pequeno luar na saia bem guardado.
Viu-se na tua lua esbranquiçada
De pó empoeirada
De calma acalmada
De azul bem azulada.
Fizeram-na podre sem calor
Teimosa em adormecer durante o dia
E acordar somente nas madrugadas
Recorda-te,
Em minhas mãos permeiam suas mãos vazias.
Roga perdão
- Implora ao teu coração!
Mais uma vez elas se encontram
Novo momento - outro a sós -
Duas confusas, tal como nós.
- Cuida,
Há vômito na geladeira
De pó tanta poeira
- Repara,
Recebestes um luar esbranquiçado
A ti todo doado
Enquanto não me acostumo
Eu retardo.
Sei que mereço menos do que já faz
Mas há espaço
Doa-te um pouco mais.
Com tua lua luazinha - branca esbranquiçadinha
De calor acalorada
De medo amedrontada
De branco enviesado
Eu? Louvo o preto ao cinza avivado.
Teu pequeno medo tornou-se desajustado
Transformou-se em choro desavergonhado
Chora bem
Chora calado
Choro imundo
Empoeirado.
Lá, na beira, mar estiva tua dor
Por pouco, quase nada,
Não te dou outro valor.
Por menos, fiz-me sozinha
Correndo pelas calçadas
Os pés descalços
As havaianas largadas.
Imploro teu ponto final
Abono o momento abjeto
Soubesse, juro,
Percorria contigo outro trajeto.
- Mas e dela, alguém ainda se lembra?
Perdeu-se, foi embora
Levou as sobras mal agouradas
Roga paz recebe nada
Pede amor simulam paixão
Quanto a mim penso em suicídio
Por outro lado, hei de confessar,
Por ela morreria sem nada carregar
Só assim ,entre nós, outro momento haveria.
Mas,é em teu destino que ela se faz febril...
- Agora não!
Cala
Ouve a poesia - pequeno regalo -
Atirado na sala pelo hall de entrada.
Pelas brechas ainda te vejo rodopiar
Rodopias curto bem devagar
Pena, a partir desse momento não te vejo mais
Acabou, maltratastes minha imunda paz.
Dividida fico eu como miolo de jornal
Nado na chuva desavergonhada
Procuro um caminho seco
Mas só vejo o da frente largueado
A neblina? Tempestade baixou
Abriga-me e pensa
Encara tua efêmera dor?
A mim, sei, doaria um coração embalsamado
De desapego desapegado
Não anseie galanteios, não por hora,
Esse momento é dessa senhora.
Mesmo sem alimento e sem cozinha
Ainda é de cata-vento
- Venta a vadia -
Agora, menos enjaulada
É noite, não parou de dia
- Vai menina
Descansa sossegada
Fico a espiar tuas passadas
Ouço ranger os dentes, confusa
Faço deles suave melodia
A parte que faltava
Da minha biografia não autorizada.
- Ei-lo
Está morto
Decompôs-se
Puro desgosto
Ao acordar
Levanta-te logo
Procura tua cama
Mamãe aflita cedo te chama
Em desespero há de gritar
- Levaram teu corpo
Não se sabe ainda quem.
Novamente sozinha
Procuro um outro raro e velho bem
- Ei-lo
Morto amortecido
Quieto encarecido
Feito anjo louro endiabrado.
Resta agora seu som sobre o meu
Essa, já não sou mais eu
Fiz-me alvo de ninguém.
Tornei-me refém.
- Ei-la
Está viva e embalada
Pela preguiça amparada
Despida e embebida
Coitada, rechaça.
Rezou,
Chorou,
Cremou o corpo nu
Disso tudo fez um culto.
Jaz morto,
Não alivia dor
De quem nasceu atravessado
De lado, quase um finado,
Digno como qualquer outro rejeitado.
- Espera,
Não terminei
Cuspiu no retrato da própria filha
À sua propriedade agora reduzida.
Nada mais a abala
Segue quieta perante a ida
Alcançou
Com laço laçou
Arrematou
Apoderou-se
De sua corrente sangüínea.
Como és bela,
Melhor, fez-se linda!
Conto: A playboy da Sheila Carvalho
Não tinha mais as bitucas do cigarro do pai, o véio sacou que eu tava limpando cinzeiro com o beiço, começou a jogar na privada. Não tinha nada pra beber, adolescente precisa de manguá.
Porra, meu, não tô vendo nem Ki-suco... É foda, viu?
Juca saiu com essa:
- Então conta daquela vez que o teu tio Af (Afonso) se mijou no metrô.
- Nem ôh... O coitado tá mau pra caralho... Fala aí de quando cê cagou na Calça, Elvis (Elvis sou eu, o próprio). Minha mãe fez o favor de me abençoar - ela fala que abençoou - com esse nome, nunca perguntou pro meu pai. Os dois se bicam até hoje porque ele não curtia o som do cara – nem sei qual é óh – E a safada – da minha mãe - não pensou que eu ia ser gozado pra caralho na escola, no futi e pagar mó mico com as mina. É foda, viu?
– Conto e daí, tenho vergonha não, óh...
Vamo lá: Juntei a grana do lanche pra comprar a revista. Demorou pra caralho. Seu Vicente, o da banca, liberou. Fui felizão pra casa.
- Deitei cedo, nem esperei terminar a bosta da novela – minha mãe é quem gosta - quer que a gente assista tudo junto – É foda, viu?
- Subi, escovei os dentes, troquei a roupa e peguei a Sheila, oh mulherão, tá louco, não tem pra ninguém...
- Deitei todo feliz, pronto pá dá uma boa gozada, sujar até o lustre, depois limpava.
Af interrompeu pedindo o final.
- Se liga oh Af deixa ele contar...
- To com as cueca no joelho, preparadão, é foda, viu? Ela entra... Enfiei a Sheila na bunda, sentei nela. Esqueci a porra da porta aberta... É foda, viu?
– Filho você subiu antes, está tudo bem?
- Tô com sono (se manda, oh, mãe...).
- Pode ser virose. Vou tirar a febre – nem eu me ligo mano que ela ainda faz isso – É foda, viu? Pegou a porra do termômetro no banheiro, voltou.
- Pensei: Se eu abaixar o cobertor ela vai vê que a cueca tá pra baixo...
Nem pensei duas vezes... Ela chegando eu soltei um puta fedorento, mano, a vizinhança toda sentiu, ela, então, deu meia volta e saiu rapidinho a intrusa:
- “Já volto, isso são modos?”.
Foi o tempo deu acomodar a Sheila na bunda, esconder bem, deitar nela e, É foda, viu? vi que o fedorento soltou mais que barulho soltou bosta e ainda na cara da Sheila, puta mano que que é isso mano, deu mó nojo, peguei o saco do lixo – sorte que tava vazio – enfiei a Sheila com a bosta e joguei pela janela.
- Agora é que é...
- Quer ouvir Juca? O mulamba do cachorro da vizinha olhou pro saco, pegou o saco, rasgou e saiu com a Sheila de merda latindo feito doido.
- Ela voltou e foi ver a barulhada da janela.
- Ué, que será que o Dong tem? Tá parecendo doido com papel na boca, girando pra lá e pra cá.
- Sei não... – É Foda, viu?
O puto do dono bateu lá embaixo, o pai reclamou e abriu, o puto do dono do Dong me viu jogar e foi falar com a mãe. Tava fudido. – Nem tinha conseguido tirar a Sheila da boca do cachorro – maldito dono – pior o cachorro.
Dono e Dong: - Dona Ana, eu vi, foi seu filho...
- Não seu Alfredo. O que é isso?
- ‘Que é isso’ foi o Dong latindo e mandando a revista pra testa da mãe.
Carimbão de merda. Fudeu geral.
- Nem vi mais nada. Subi rapidão... Falou que passou mó vergonha e eu tinha que ter um castigo adequado – falou assim mesmo – um mês sem dinheiro pro lanche, sem vídeo-game e sem playboy pra dar uma pimba sozinho... Ah, bosta de história. O Juca tua mãe saiu, pô, pega umas breja do teu pai lá pra gente.
Juca voltou com três latinhas de Brahma – tiradas do freezer, geladas!
- Adolescente é essa bosta, né: Fuma bituca do pai, bebe cerveja do pai dos outros e se fode porque precisa dar uma pimba. Não vejo a hora de sair dessa porra.
- De onde, que porra? Af, o lerdo perdido.
- Porra da adolescência, pô... É foda, viu?
domingo, 6 de janeiro de 2008
Conto: A Consulta
Temia que ao se levantar a agitação física - inoportuna e intrusa - aumentasse levando-a de encontro ao belo tapete branco estendido sob o piso de madeira.
De raiva iniciou nos dedos dos pés uma compressão rancorosa apertando-os com tanta força o que favorecia a cabeceira da cama se debater contra a parede num barulho agudo e irritante.
- Maldição - balbuciou.
Essa foi sua primeira palavra do dia e de horror àquela situação, bem como a todo o restante que estava por vir.
Num exercício frenético pôs-se a segurar a urina, contraindo, ao máximo, o abdômen. O medo sobrepunha à vontade de urinar. Por outro lado sentia a bexiga prestes a alagar o colchão e ainda exalar um odor asqueroso emporcalhando sua última muda de lençóis.
- Era só o que faltava - pensou em voz alta - repelindo a idéia de molhar-se toda ali mesmo.
Atentou novamente para seu pensamento. Aquietou-se: Havia necessidade de se concentrar em outra coisa - não sabia o quê – isso lhe daria um pouco mais de tempo até o primeiro comprimido do dia fazer efeito e conduzi-lá ao toalete.
Ingerira-o há quase quarenta minutos tempo suficiente para manifestar-se, todavia nada. O frenesi insano persistia, percorrendo cabeça, barriga, braços, pernas e pés.
Ocorreu enfiar outra cápsula goela abaixo. Bastava abrir a gavetinha do criado-mudo acertar a embalagem e pimba.
Sua garrafinha d' água, verdadeira e fiel companheira, tanto dela quanto do criado, estava a postos facilitando a intenção de apoderar-se da segunda pílula.
- Maldição - retornou a palavra num sussurro.
O desejo de expelir a água amarelada misturava-se agora a necessidade de dar vazão aos alimentos sólidos ingeridos no dia anterior.
Como de costume comera pouco, mas mesmo esse pouco buscava uma forma de desprender-se de seu organismo.
Mijar já não era prioridade. Inundar os lençóis transformara-se em algo pequeno perante a infeliz coincidência, comumente, denominada de 'Tipo Dois'.
Estranhava não falar cagar ou defecar. Considerava as palavras feias além de remetê-la ao que via na privada antes de puxar a descarga.
Quanto à expressão cocô jamais: NEM EM PENSAMENTO.
– Gargalhou, imaginando: - Adultos fazendo cocô. Adultos infantilizados. Adultos dementes. Adultos em-merdados.
Assim, num determinado momento da vida, não sabia mais qual, optou por utilizar a expressão ‘tipo dois’.
Obviamente só mencionava caso alguém lhe perguntasse o porquê da demora, mesmo considerando tamanha indiscrição acrescida de falta de educação.
-Tipo dois. (Filho d’uma puta curioso).
Deu um suspiro infundado e dirigiu os olhos ao criado. Foi quando percebeu que os choques haviam parado.
Enfiou-se, agora, num outro exercício de dúvida e questionamento: Conhecedora de seu organismo acreditava que ao colocar-se em pé voltaria a senti-los.
- Maldição!
Deu de cara com sua descrença. Suspeitava do corpo como quem suspeita da existência de um ser maior, sim, na mesma medida e proporção.
Passara por situações constrangedoras, não poderia desconsiderá-las a ponto de confiar num primeiro recado físico.
Decidiu-se pela segunda drágea. Melhor certificar-se por completo.
O pensamento na drágea fê-la desprezar, por segundos, a praga da urina e o infortúnio 'Tipo Dois'.
Voltou a perceber a desventura física quando o intestino enviou sinais mais agressivos, por meio de sons estrondosos, vazados pela barriga.
Assentou-se e abrigou-se nos travesseiros encostados na cabeceira da mísera cama barulhenta.
Foi quando experimentou a sensação de ter um buraco no estômago, é como um vão, não, enfureceu:
- Fome!
O suspiro, agora engasgado, apresentou-se novamente numa atitude de total reprovação às necessidades biológicas.
Todavia, considerou: - Se os choques haviam findado – a posição sentada confirmava - era o momento de aproveitar e fazer tudo que a apoquentava:
- Mijar, cagar e comer (nessa seqüência).
Pensou novamente na merda. Não lidava tranqüilamente com a idéia de todos os dias, numa típica via sacra anal, ter mais essa obrigação de caráter intestinal. Infeliz. O organismo, prá lá de fraco, presenteou-a com uma diarréia constante, fazendo com que a água do vaso sanitário não alcançasse os espirros jorrados debaixo da tampa.
Enfim, era MERDA sobre M E R D A!
Olhou novamente o criado e furtivamente abriu a gavetinha. Acertou de primeira. Retirou o comprimido e apropriou-se, claro, de mais uma dúvida:
- Um ou dois? – Pergunta implexa.
Como medida de precaução e resposta à questão optou por ingerir dois, desviando qualquer possibilidade das sensações físicas voltarem a atormentá-la. No total, somariam três comprimidos ingeridos em menos de uma hora o que certamente poderia levá-la a uma outra grandiosa e definitiva MERDA!
Glub, glub.
Voltou à posição anterior. Cobriu-se nervosamente com o edredom de malha vermelho, companheiro diário e fiel, escorregou o corpo na cama alternando o costumeiro.
Pôs-se a contemplar a parede branca, rente a porta, ansiosa por colorir. Saboreou um gosto levemente salgado nos lábios. Mecanicamente, lambeu-os.
Adormeceu devaneando num arco íris imaginando qual cor a parede acolheria melhor. Sonhou com um verde-água, cor de mar muito sereno, quando ambiciona seduzir alguém:
- Verde água. Decisão tomada.Feng shui rejeitado.
Com tanto pensamento envolto em tanta merda, não poderia ser diferente, perdeu o horário da consulta.
Melhor assim: Já estava cansada daquele repeteco semanal e de todo o blá blá blá Freudiano.