O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

domingo, 28 de junho de 2009

by Baudelaire

"Esta manhã ainda me maravilha a imagem viva e distante da terrível paisagem jamais contemplada por olhos mortais".

Isolação

















Isolação,
Companheira ardilosa
Amiga de plantão
Presente na minha vida
Freqüente no meu coração.

Guia-me com sua mão taluda
Virou pátria, virou rainha
Dias de folga
Ela não me propicia.

Afeiçoou-se a mim
Tornou-se meu apreso
Movimenta-se pela minha estrada
Pactuada, garantida e abastada.

Contumaz,
Fez-me sua afável cria
Acompanha-me pelo mundo
É ela quem me guia.

Hipocrisia
















Hipocrisia, praga encachaçada
Que à grande maioria
- Quase todos, eu diria –
Pela vida sentencia.

Hipocrisia,
Doença grandiosa
Com sua força
Tornou-nos miseráveis
Presunçosos e insaciáveis.

Desgraçadamente,
Não nos damos conta
De que para dessa miséria
Libertarmo-nos
Basta somente
Arredores minutarmos.

Prece de desesperado










Desunhada infindamente
Faz-se agora a deus recorrente.
Flinge,
Roga,
Clama e
Implora
Deposita seu pedido sem fé
Num deus que não quer.

Bom dia

sexta-feira, 26 de junho de 2009









Suporto o frio
Suporto o calor
Só não suporto mais
Essa intensa dor.

Eu comigo

Círculo

















Vaga vaga ainda vago
Nesse mundo de estranhezas
Perdôo com o coração
Enquanto paraliso minha tristeza.

Vaga vaga vagueei
À toa na sinceridade
Fui honesta, fui ridícula
Mas o fiz com a pura verdade.

Vaga vaga vaguearei
Nesse mundo corroído
Não tenho dúvidas, enfraquecerei
Mas, meu caminho seguirei.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Desejo













Despertei pensando nele
No bem que me propicia
Não resguardo que me oferece
E na cama em que me sacia.

Recordei nossos movimentos intensos
Ocorreu-me nosso frenesi embriagado
A barriga suada, os músculos cansados
Meu bem querer é amar você.

Ruir






Viés
Enviesado
Medo de nada
Inadequado
Àquele que teima
Em buscar
O mal das ruínas
Arruinar.

Cíume


















Outrora árduo se fez
Para sempre árduo se fará
Ele nela acreditar
A suspeita se apresentou
A desconfiança presente está.

O amor tornou-se intoso
O amor tornou-se pesar
O amor volteou-se praga
O amor doente está.

Afigurava-se verdadeiro
Afigurava-se normal
Para eles parecia seleto
Para eles soava natural.

Na cabeça da moça
Uma questão teimosa
Trancafiada está:

- Merecedora se fez
Merecedora será
Dessa história desviada
Dessa narrativa irregular?

Privaram-se da espontaneidade
Em outros se disfarçaram
Nada mais a apostar
Ninguém mais a amar.

terça-feira, 23 de junho de 2009

deus












Asseveraram-me que tu existes
Asseveraram-me que tu acalantas os corações amargurados
Asseveraram-me que tu apaziguas as mentes cansadas
Disseram-me até que tu serenas as dores
Dos que são fortes e dos que são fracos.

Todos os dias
Falam muito em teu nome
Chamam-te, rogam-te, enunciam-te
Quanto a mim
Não sei como te invocar
Não te conheço
Nunca te vi
Nem sei mesmo qual é o teu lugar.

No meu pescoço
Carrego um adorno
Daquele que disse um dia
Ser a tua cria.
- Não consigo retirar –

Essas sentenças cortam a minha pele
Essas sentenças afinam o meu sangue
Essas mesmas sentenças
Travam a minha garganta de fala rouca.

Em meus ouvidos
Os sons seguem acorrentados
Em meus ouvidos
Os sons entoam fortes
Ofertando-me um passaporte
Ao mesmo tempo em que
Anelam minha pessoa
Ao mesmo tempo
Em que anelam a minha existência.

Incito tua presença
Se em algum lugar estás
Vem e te apresentas.

Curioso é que diariamente
Algo me desvia
Das armadilhas que me propicio
Curioso é que quando chega a noite
Do mundo o sono me distancia.

Disseram-me que isso – desculpe não sei como denominar -
Que me acalanta
Todos os dias
És tu que me propicias.

Não rio mais
Travei minha boca
Recolhi-me ao concreto
Porque de abstrato
Eu sozinha já me basto.

Faço-te um convite
Se é que tu realmente existes
Venhas me visitar
Falar-te-ei dos meus dias
Que seguem agarrados
À tão poucas alegrias.

Desafio-te
A me conhecer
Porque anseio te avistar
Quem sabe assim
Possa eu em tu acreditar.

Durante essa visita
Tu me contas uma história
Qualquer que seja
Vinda à tua memória
Quem sabe assim
Possas isso para mim
Validar tua aclamada glória.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Necessidade noturna

Na noite ela encontra o sossego que procura
A noite a faz serena
A noite a acolhe
Não a despeja
Não pede para ela ir embora.

A noite a acalma
A noite a emudece e apazigua
Com ela ela cala
Com ela ela esquece,
Com ela ela esqueceu.

domingo, 21 de junho de 2009

Sobrevivência
















Se tu realmente existes
Peço apenas que me ajudes amanhã
Porque hoje já não sou mais nada
Resta apenas um pouco de pó
Resta apenas um copo de dor
Dor resistente
Dor forte
Dor da ausência do amor.

Masculino






Homem duro
Homem rude
Homem sereno
Quando abraça é o mais puro
Ao abraçar é o mais pleno.

Penedo
















Há uma pedra rochosa em sua calçada
Essa pedra o distancia
Essa pedra o faz distanciado.

O rochedo não ousa se remover
Encontrou na pedra sua solução
Para um mundo que lhe deu as costas
Agonias e angústias alheias.

No mundo imundo ele pensa
No mundo cão, mundo ruim
Quanto à pedra na calçada
Decidiu há tempos, tira não.

Lágrimas
















O amor do amado não vingou
No chão desfalecido ficou
O amor do amado não vingou
No chão ele todo se esparramou.

Choram os corações
Choram os pais
Choram as mães.

Mas não adianta
Porque o amor do amado não vingou
Para sempre se retirou.

Soslaio






Ando
Reparo
De soslaio
Nada vejo
Lembra?
- Tenho medo.

sábado, 20 de junho de 2009

Estes versos te dou... by Baudelaire












Estes versos te dou para que, se algum dia,
Feliz chegar meu nome às épocas futuras
E lá fizer sonhar as humanas criaturas,
Nau que um esplêndido aquilão ampara e guia,

Tua memória, irmã das fábulas obscuras,
Canse o leitor com pertinaz monotonia,
E presa por grilhão de mística energia
Suspensa permaneça em minhas rimas puras;

Maldita que, do céu infindo ao mais profundo
Abismo, a mim somente escutas neste mundo!
- Ó tu que, como sombra de existência fátua,

Pisas de leve, sem que aqui jamais te afronte
Nenhum mortal que te suponha amarga, estátua
De olhos de jade, grande anjo de brônzea fronte!

Caminho
















Pensas que sou ingênua
Assim desfrutas das minhas amarguras
Saibas que escolhi esse caminho
Saibas que escolhi meu porto principal
Nunca quis meu bem
Nunca me fiz mal.

Rosas

As rosas não me olham. Eu as desprezo.

Ascensão

















Vôo alto
Vôo firme
Parto
Na direção contrária
Sem esforços
Sou arredia
Não me arrependo
Barganho
Tornei-me uma vadia.

Invisível








Apontas o dedo para o meu nariz
Perdes teu tempo
Não o vejo, és transparente.

Vastidão








Sou um poço
Uma vastidão
Semeando
Com minhas próprias mãos.

Aprofundo-me
Vou de encontro
Machucada
Desencontro o ponto.

Desafio meu orgulho próprio
Caminho pelas pedras
Páro num lugar sombrio
E rio, rio, rio.

Apanhado





Apanhou
Mais uma vez, dormiu
Acordou
Nada lembrou, saiu.
Passeou
Por entre as árvores
Repentinamente
Nada mais viu.
Seus olhos cegaram
Correu, fugiu.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Fim



Não entende nada
Desse disparate
Dessa disparada
Foice – Faca - Facada
Morte – Vida - Acabada.

Avesso






Brigo comigo
Brigo feio
Apanho
Sou o meu oposto
Não sinto amor
Nunca saboreei o gosto.

Miserável

Tu
Esmoleiro
Miserável
Desfavorecido
Esfaimado
Espelhas
Nosso vilarejo
Refletes
Nosso estado.

Povo








Brinquedo novo
Vestidinho de sal
Esbranquiçado esse povo
A viver do assombroso mal.

Do Amoroso Esquecimento

Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

by Mário Quintana

Tenção segundo o Aurélio:

Do lat. vulg. *tentione < *tentiare < tentus, a, um, part. pass. de tendere, ‘contender’.]

Substantivo feminino.

1.Resolução, plano, intento, intenção:

Se a sua tenção é ir rápido, tome um avião;
“- Esta bolsa, mamãe Justa, é que eu trouxe do Recife para Arnaldo. Tinha feito tenção de não lha dar mais, por causa da desobediência que ele praticou” (José de Alencar, O Sertanejo, p. 191).

2.Devoção, veneração.

3.Assunto, tema:
a tenção do livro.

4.Briga, contenda.

5.Heráld. Divisa de brasão relativa a feitos gloriosos.

6.Jur. Voto escrito e fundamentado que, nos julgamentos de segunda instância, os juízes divergentes dão em separado. [Nesta acepç., cf. voto vencido. Cf. ger.: tensão.]

Tenções dobradas. 1. V. trocadilho (1).

Tenção
















Intenta
Articula
Formas
Jeitos
Modos
Possibilidades.

Procura
Um meio
Um caminho
Uma maneira
Um feitio
De satisfazer sua vontade.

Vacância

















Vagabunda
Vadia
Falsa
Mentirosa
Denuncia
Com o olhar
Sua podridão
Seu bem estar.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Nossas tardes

















As tardes chegam
E trazem seus receios
Afloram nossos medos
Entristecem nossas almas
Que acreditam merecer
Um pouco de alegria.

Então, fortalecem-se
Trocam de roupa
Pintam o rosto
Enfeitam-se e
Ensaiam uma saída
Mas, retraídas permanecem
No mundo que já conhecem.

sábado, 13 de junho de 2009

Desatinado


















Acordou desatinado
Mais um dia pela sempre
De cara deparou com a sua dor
Que adentrou pela porta da frente.

Ainda entre os lençóis amarelados
Remoeu alguns pensamentos pesados
Ensaiou uma agenda
Mas, burlou o novo diário.

Dormiu um pouco mais
Imóvel, quieto, afastado
Coberto pelos lençóis
Quente, acobertado.

Lamedo



Podridão
Escárnio
Lama
Carvão.

É hora
Agora
De ir-te embora.
Meu caminho
Pisará mais não.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Retrato






Esfrego na tua cara o resto da minha melancolia.
















Branco
Verde
Morte
Aliança.

Aplausos
Aplausos
E
Alguma esperança.

Roxo
Lilás
Preto
Muito preto.

Mantemos a distância perspicaz
Sem pensar na sorte sagaz
Rarefeita, nunca e jamais.
Mantemos a distância perspicaz.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Fome














Barriga d´agua
Barriga feia
Corre nas veias
Um sangue claro
De quem se alimenta pouco
Em momentos raros.

Alma partida




Ela olha, ela escuta
Aquele que a desagradou
Aquele que sua alma feriu
Com martelo partiu,
A alma não mais se juntou.

Os canos estão largados no chão
Ali estão,
Por lá ficarão.

Acabou meu amor, acabou


















Acabou meu amor, acabou.
Dessa vez para sempre terminou
O que torto, recorda, principiou.

Por mais que nos doa a saudade
Por mais que nos doa a ausência
Longe um do outro havemos de ficar
Para sempre sós nos sustentaremos.

Cientes somos:
Não nascemos para viver a dois
Não conhecemos o amor
Desconhecemos o amar.

Resolvido está
Não mais te verei
Tu não mais me verás.

Mais uma vez sucumbiremos a nós
Sucumbiremos às nossas ordinárias mentiras
Tu envergonhado pelo ciúme
Eu envergonhada pelo medo impune.

Por fim, voltaremos
Aos nossos mundos perturbados
E agarraremos nosso piedoso passado.

Acabou meu amor, acabou.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Menina













Uma melodia, uma canção
Uma menina carente
Andando na contramão.
Não receia, não foge
Sabe que em breve a buscarão.

Estranheza







Aplaudo minha insanidade
É ela que me mantem em pé.
É ela que me acolhe e abraça.
É ela que me mostra o caminho.

Merda









Meu corpo dói
Minha alma pesa.

Eu








Diariamente afundo-me um pouco mais na minha própria ignorância.

Realidade


















Sou fraca e covarde
O medo me consome
Medo de respirar
E não encontrar o ar.

Sou hipócrita
Engano-me diariamente
Com a capa da alegria
Meu coração é solitário, é triste.

Minto, iludo, engano
Sou perversa e arrogante
Não preservo sentimentos
Mantenho-me sempre distante.

sábado, 6 de junho de 2009

Peso

















Sinto fome, sinto frio
Da minha barriga vazia
Vaza um intenso calafrio.

Olho para mim
Não vejo ninguém
Sei que somente uma pessoa
Sabe quem sou
E me vê além do além.

Não me preocupo
Não me irrito
Nem falo palavrão
Sou mansa desde sempre
Sou mansa desde então.

Vou para a rua
Busco me embriagar
Qualquer líquido serve
Tudo que quero
É algo que me tire do ar.