O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Dejeto






Uma vírgula
Um ponto
Outra exclamação?
- Não.

Ruína




Não ocupe sua mente acreditando que os outros poderão arruinar a sua vida.

Será você o (a) responsável por realizar essa façanha.

Você tem tanto poder sobre isso que conseguirá sua própria destruição num espaço de tempo menor do que imagina. Creia.

Quero dormir o resto dos meus dias

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Zona de perigo

Há que suar mulher para teres o domingo que quer!

Sabedoria


















A sabedoria é uma virtude destinada a poucos.

Pertence àqueles que não carregam, em juízo, qualquer tipo de pretensão.

Como exemplo posso citar as pessoas que não vivem com o dedo em riste, dominadas por 'suas verdades', proclamadas como 'únicas'.

Porém, os que se apossam dessas 'verdades' acreditam deter o poder do julgamento e do aconselhamento.

Pensam poder ensinar aos outros modos de viver, à sua imagem e semelhança, e, pior, formas de sentir a vida a seu modo e também de como deveriam, supostamente, demonstrar suas emoções.

Incrível.

Penso nessas pessoas como, por completo, desprovidas de bom senso e, mais, sem vergonha alguma na cara.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Para os 'meninos'

Sangue sussurrado
























Palavras ditas
Depois caladas
Palavras cruentas
E abafadas
Pelo suor do calor
Pelo suor dos corpos do amor

Palavras ditas
Depois reforçadas
Já não soam mais
Tão cruentas
Já não soam mais
Tão abafadas

Palavras agora
Ditas ao ouvido
Por nós dois
E saboreadas
Sempre e mais depois.

Questão



Amor
Amar
O que é?
Como será?

sábado, 25 de dezembro de 2010

Desastre

Sentimento lateral
matéria
material
era circunstancial
a todos
o bem
ou o eterno mal?

'Torturazinha'

















Mãezinha vai não
olha aqui tua filha, 'filhinha'
tão mirrada, 'mirradinha'
sofre por nada, 'tadinha'
tão aperriada, 'aperriadinha'
sempre só, 'sozinha'
e calada, 'caladinha'.

Mãezinha vai não
fica aqui perto da tua 'filhinha'
essa grande mulher, 'mulherzinha'
ainda medrosa, 'medrosinha'
fugindo do escuro do quarto e da 'cozinhazinha'.

Vixi maria mãezinha
tão lastimada, 'lastimadinha'
'inda por cima, uma coisa, 'coisinha'
'inda dormir de luz acesa, 'acesinha'
tão pobre, 'pobrezinha'
nunca feliz, 'infelizinha'
meio besta, ah, pra lá de 'bestinha'

Segura mãezinha a mão da 'sofridazinha'
quem sabe ela cala, 'caladinha'
quieta, basta, 'quietinha'.

Eita mãezinha olha só o que é que é a tua filhinha...

Minha? Sei não... quem dera fosse de outrem, nem.

























Um caminho
Uma estrada
Novo percurso
Nova jornada
Que no final se nublará
No deserto o qual será
Responsável por fazer
A mim, sim, eu sim,
Enfim,
Acordar e perceber
Que para a vida terei
Novamente que despertar.

Essa, deixaram claro,
É minha última chance
De viver acordada
Mesmo quando a madrugada
Minha memória
Respingue o passado
E puxe-me para o escuro
Da vida que se fez até agora.

Esse pouco, esse quase nada,
Sim, essa fadada,
Essa, a minha,
Curta e transparente
História besta e intransigente.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

'Poeminha' da alegria

























Diz sim
sim pra mim
sim e sim
olha ali
lá em cima
vamos
alegra essa cara
sorria
viu?
não?
adivinha
que belo
que beleza
que puro
quanta pureza
olhadando de frente
na cara da gente.

Vai
diz sim
aceita
pega
leva pra casa
é teu
não paga
leva de graça
nenhum tostão
precisa de real não.

Vamos pessoal
aleluia
aleluia
meu irmão
eis aqui
aos nossos pés
a divina doação
pra todo mundo
que quiser
basta se envergar
o corpo abaixar
e tascar sua porção.

vai diz sim
pega e leva
não, não diz não.

Aleluia meu rapaz
aleluia minha menina
aleluia meu senhor
aleluia minha senhora
alegria também pra criancinha
e pr'aquela rapariga
filha da vizinha.

Eita
agora é pra valer
ninguém mais vai precisar
trabalhar
menos jornada enfrentar
porque tá aqui
na nossa cara
só basta a gente se ligar
que agora é pra valer
acabou.

Já era
emprego tem mais não
dinheiro se foi todo
levado pela mão
do senhor dito
senhor do amor
senhor, o dono do sertão.

Tem pão mais não
tem não.

Aleluia meu irmão
agora é, sim, essa hora
a que foi
designada pelo senhor
do louvar e do louvor
momento escolhido a dedo
pra acabar de vez
exterminar
fazer cinza virar
é
essa gente aqui
essa gente esfomeada
vai, morre gente desgraçada
os sãos serão queimados
na fogueira do diabo
os enfermos despejados
nas águas do rio são joão.

Aleluia irmão.

Vai
É
É isso aí
Isso mesmo
Segue acreditando
Que depois vem a glória
E o perdão
Vai, acredita bestão.

Aleluia meu irmão.

Contrariar as Contrariedades by Clarice Lispector

Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inlcusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora da minha própria vida.


'Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres'

Thor, sorry

"Trabalheira"




Há que suar muito mulher para teres o domingo que tanto quer.

Vai ou não vai?

Tens um segundo para dizer se ficas e meia hora para arrumar tuas tralhas e dar o fora daqui.

Mãezinha te amo tanto...

João 'ajuda' Gabriel


Vem João
Segura firme
Aqui, minha mão
Permita não
Que eu tropece
Ou siga
Pela contra-mão.

Deixa não, João.

Henrique


Henrique foi um pequenino viés
Que em no nosso caminho se prostou
Eu não sei como tirar
Somente sei o que direi agora:

- Falta - faltou.

Fudeu geral




Eu não sei mais o que fazer eu só sei que preciso sair daqui...

Precioso

Amanhã
















Sentimento lateral
Matéria
Material
Era do tempo
Circunstancial
A todos doada
E junto à ela
O bem...

Ou será um pouquinho mais de mal?

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Pensamento







Pensando bem
Pensando melhor
Pensando na vida
Pensando no pior.

PH

JG

By Virginia Woolf






"É o nascimento do cinismo. Perco o meu senso de romantismo, pois nunca mais serei capaz de ter esperanças sem nenhuma restrição, de confiar sem reservas. Eu sempre ouvirei em minha cabeça vozes que fazem essa perguntinha importuna, que o romântico não ousa fazer. Um romântico não pergunta".

By Clarice Lispector















"Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

By Billy Bob Thorton











"Você nunca vai superar isso
Essa dor nunca vai passar
E quando você aceitar que é assim
Você entenderá que não quer superar a dor
“Quer apenas deixar que ela faça parte de quem você é".

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Contemplação



















Eu nunca vou entender isso.

Eu nunca vou querer entender isso.

Eu nunca vou suportar entender isso.

Mas, reconheço: Nunca conseguirei me distanciar disso . Pois assim sou eu, assim fui eu e assim serei eu até o dia em que deus (ele???), tenha um pouco de misericórdia e tire-me, arranque-me, arraste-me daqui.

A imagem que você vê agora, essa do retrato, simboliza minha história. Remete ao meu eu por completo.

Dizem, sempre os mesmos infelizes dizeres, que nos acostumamos a tudo na vida.

Sucumbi à falácia:

Há tempos eu me acostumei à solidão.

Há tempos eu me acostumei aos meus dias isolados.

Há tempos eu me acostumei a manter a janela do quarto fechada impedindo o sol de entrar.

Há tempos também eu me acostumei a calar, não tenho com quem falar.

Agora vou te revelar algo que até então somente ficara comigo: Adoro minha solidão. Entreguei-me a ela por livre arbítrio. Fiz minha escolha.

Sou sempre questionada pelo meu modo de viver e até tempos atrás explicava tim tim por tim tim chegando à exaustão de tanto querer justificar ao filho da puta intrometido que me indagava.

Resolvi que de agora em diante frente a quaisquer questionamentos ou infelizes conselhos ei de dizer somente uma única e curta frase: "Eu não sou você. Então, meu caro, vai te fuder".

Repito para que não pairem dúvidas pelos ventos: "Eu não sou você. Então, meu caro, vai te fuder".

Até (nunca mais).

sábado, 11 de dezembro de 2010

Oi pai, voltei










Oi pai, comi porra nenhuma. Tomei um copo de leite e fumei dois cigarros. Fiquei um pouco deitada de barriga pra cima deletando as pastas do meu celular. A merda já não tem quase aplicativo nenhum. Mas é mais forte do que eu. Não aguento passar por elas - aquelas pastinhas filhas da puta amarelinhas - olhar para a tecla 'del' e não pressionar. Verdade, nem consigo mais gravar uma porra de uma música sequer e olha que a bicheira é top de linha. Quem diria hein pai que um dia eu ia andar com dois celulares de primeira? Um motorola fudido e um samsung que só falta falar. Tem até TV a merda. Não sei pra que. Acho que pra acabar ainda mais com a vista da gente.

Eu deletei o aplicativo de gravar músicas mas esse foi sem querer, afinal cê sabe que eu não passo sem uma canção. No meu note tem mais de 300 músicas gravadas e sabe o que é mais foda é que só ouço a Joni Mitchell. É. E o mais foda ainda é que dela eu só ouço "Both Sides Now". Sério, pai. Se eu ficar 30 horas na frente dessa telinha eu fico as 30 horas ouvindo a porra dessa música. Sabe, quando eu escuto parece que meu sangue vai sair jorrando pelos meus poros. Chega a doer e você sabe que eu adoro carregar uma cruz. Devia ter vivido na época de Jesus. Tenho certeza de que com meu nível de argumentação mais esse jogo todo de dramaticidade eu teria convencido aquele cara, o tal que mandou crucificar o moço, como é mesmo, ah, sei lá, teria convencido ele me deixar carregar em forma de revezamento a madeira em x com o Jesuzinho. Coitado. Gosto dele pra caramba. Sério pai. Sou fã dele. Mesmo não acreditando em deus, e ele disse ser filho dele, isso eu relevo, porque para mim ele foi um puta cara corajoso ao anunciar alto a frase: 'Amai-vos uns aos outros'. Nossa, como ele pode dizer isso? Tinha que ser muito macho mesmo e muito bom. Que puta coração. Que sensibilidade. Quanta generosidade: 'Amai-vos uns aos outros'. Olha só que oferenda. Meu, pai, isso é lindo. Isso é tão lindo. Acho que mesmo que eu viva trocentos milhões de anos jamais ouvirei algo semelhante. Tenho certeza de que nunca ninguém será capaz de dizer algo que chegue aos pés ou a terra disso aí. Puta frase fudida. Chega a doer de tão linda e de tão poderosa. Eita homem fudido né? Conquistou o mundo de chinela e só usou a palavra. Puta merda, que história bonita, por isso que eu relevo quando ele delirou e disse que era filho de deus. Isso perto do que ele fez e falou virou merdinha. Digno de se descartar.

Pai, lembrei que no sonho nós comentávamos da geladeira vermelha. Lembra dela? Aquele estrupício que tinha em casa quando você chegou aos pouquinhos. Nossa. Eu tinha uma vergonha do cão daquela geladeira. Morria de vergonha de quando as meninas da escola tinham que ir em casa fazer trabalho. Acho que eu ficava mais tempo em pé tentando esconder a merda do estrupício com meu magro corpo do que colaborando com a tarefa.

Pai, cê sabe né que com você eu consigo falar pra caramba. Bem diferente do que com a mãe. Lembra quando eu cortei os pulsos? Eu não quis que ela fosse na Santa Casa ficar comigo. Eu quis que você ficasse comigo. Eu já te contei tanta coisa que eu não contaria pra mãe nunca. Que merda isso né? A nossa intimidade ficou em algum lugar que eu não faço idéia alguma de qual seja menos ainda de em qual tempo parou. Simplesmente, acho eu, pensamento melhor, que nunca houve. Coitada da mãe né? Trabalhava feito doida pra criar os 4 filhos. A semana inteira naquela bosta daquela fábrica de linguiça, lugar podre, e de final de semana fazia faxina e passava roupa lá na Vila dos Remédios, na cada daquela metida a besta.

É, ri não pai. Eu sei que foi aí que você meteu os zóião na muié. Também né como ela era bonita ainda é. Puta corpo, cabelão e uma pele danada. Lembra de que quando ela saia com a Gil (Gil – Gilvanice, a mais velha - a impostora porque Gil sou eu a Gilvânia a verdadeira Gil ou será vice versa por ela ser mais velha?), lembra que pensavam que elas eram irmãs? A mãe trabalhou duro pra caramba, né pai, mas também namorou pra caralho. O que era de homem batendo naquele portão tá louco, eu tinha uma puta vergonha. E olha só, ela escolheu você um cara meio baixinho, meio gordinho, meio pobrezinho, assalariadinho, enfim, meio coitadinho né? Tô brincando pai, escolheu você porque viu que você era e é o cara mais maravilhoso do mundo e que nunca deixaria nem deixou atrasar um aluguel, que nunca deixaria nem deixou de fazer mercado num mês, de que nunca deixaria nem deixou passar uma sexta-feira sem a gente ir na feira, de que nunca deixaria nem deixou faltar mistura, nem atrasar luz e o cacete a quatro né não?

Lembra de quando a gente mudou da casa de dois cômodos pra quatro? Puta que pariu. Da miséria pra vida de madame. Casa de quatro cômodos, que porra era aquela? Ainda por cima sobrado, dois quartos, sala com uma puta TV colorida, sofá. Vixi maria.

Lembra que eu era a única - puta merda hein a Nena e a impostora da Gil eram muito filhas da puta porque trabalhavam mas não davam um tostão em casa, não ajudavam em porra nenhuma, agora cê lembra de mim? Comprava cortina, tapete, lençol, aparelho de som parcelado, tudo lá na Sears, isso com 16, 17 anos, de sábado metia água no banheiro, deixava brilhando, depois quando eu fui fazer colegial, nossa pai eu queria fazer mecânica mas só tinha eu de mulher na sala, então eu fiz programação e nunca aprendi a porra da linguagem cobol, lembra que fui eu mesma que paguei?

Pai!!! E a casa que a gente comprou? A gente vírgula né? Mas cê lembra que eu tinha acho que uns 18 e ajudei a compor renda que a porra da escritura tinha teu nome e o meu? Cê lembra de quando a gente saiu da Caixa Federal e foi num rodízio e comeu pra caralho? Meu que puta orgulho, tá certo que não ajudei a pagar as prestações mas meu, o meu nome tava lá junto com o teu. Nossa, que lindo lembrar isso, pai. Que lindo.

Pai, sabe outra coisa que nós falamos no sonho? Dos livros e dos discos em vinil. Você me falou que eu ia numa livraria na rua Direita no centrão e abria um crediário em doze parcelas. Chegava em casa carregada pelo Marx, Tolstoi, Lispector até as tampas, e Olívia Hime, Válter Franco, Pink Floyd. Nossa pai. Cê acredita que eu ainda tenho isso? Não consigo me desfazer não. De jeito nenhum.

Eu pus um monte de coisa fora mas tem alguns que não dá. Pink Floyd é um exemplo. Eu tenho em CD e em vinil. Pai, não dá pra por fora e você sabe mais do que eu que sou mão aberta pra caramba. Que ganhei uma puta grana na minha carreira de executiva, dinheiro feito louca. Que com 22 anos ganhava 4 pau por mês e tudo que eu comprei foi AP (puta AP, né) e tive carro a vida toda. Lembra quando eu morava em Blumenau e que a mãe falava que eu era doida de mandar os meninos toda semana de avião aqui pra SP pra ver o pai deles? Eu tava cagando e andando. Vinham mesmo. Ih, lembra na eleição do Lula pra presidente, meu eu sempre fui petista, feito uma doida deixei 100 pau em casa pros meninos comerem mac, peguei um vôo às 8 da matina, cheguei em SP, votei e depois me mandei pra Navegantes? A mãe achou que eu tinha enlouquecido, me mandou até tomar calmante. Ah, ainda passei na Gregory, é claro, no Shopping Paulista, fiz o taxista ficar me esperando enquanto eu comprava umas roupinhas afinal não era de ferro e não sou até hoje né? Roupinha, sapatinho, reloginho, perfumezinho, bolsinha e mais um monte de merdinha é comigo mesmo.

Pai, deixa eu te falar uma coisa: Sabe o que você fez por nós? Você tirou a gente do gueto, da sobrevida, da mortadela fatiada pela metade de domingo. Do bolo pullmann uma vez por mês, também fatiado por dois um mesmo pedaço. Tubaína de quinze em quinze dias. Você tirou a mãe da fome. Lembra que ela não comia a marmita pra trazer pra gente. Meu, que horror. Que merda.

Eu vou parar pai. Eu tenho que parar pra chorar. Eu tenho que parar pra por isso que eu tô sentindo e que tá doendo no meu estômago de lembrar de quando eu tava na quinta série e ia fazer trabalho na casa das meninas tinha biscoito, pão, leite, manteiga, queijo e quando era o dia de ser lá em casa eu escondia dos meus irmãos umas mexiricas. Meu, mexirica. Era isso que eu dava pra elas. Ninguém sabia que eu não tinha pai. E sempre que tinha reunião de pais a mãe não podia ir e eu mentia dizendo que ela tinha ido levar meu irmão no médico e que o meu pai era encarregado numa fábrica e por isso não podia faltar no serviço.

Nossa, pai, sabe o que eu lembrei? De que na terceira série eu dormia na sala. Sabe porque eu dormia, pai? Pai, que vergonha, que dor, que dor, eu dormia porque eu tinha fome aí a professora de religião começou a levar um lanche pra mim, pai eu queria morrer. Eu tenho vontade de morrer. Como é que pode existir deus? Esse filho da puta? Filho da puta mesmo. E hoje eu tô aqui. Tem três porra de notebook em casa, o meu AP tem quase 200 metros, os meninos sempre fizeram escola particular, eu fiz mestrado, pai como? Me explica como. Eu não sei. Eu nunca vou entender como eu sobrevivi. Eu sobrevivi a essa merda de vida. Como pai? Oh pai, é por isso que dói tanto tudo em mim, é por isso que eu carrego essa porra de sensibilidade a flor da pele. É por isso que eu faço a merda da terapia. Porque eu sou uma bosta de uma sobrevivente inundada de culpa por ter conseguido sobreviver. Eu não tinha que ter conseguido. Eu não tinha pai. Eu tinha que ter morrido. É por isso pai que eu penso tanto em me matar. Oh pai me dá um abraço. Me segura que eu tô com tanta tontura senão eu vou cair. Pai, vem cá rápido, vem cá. Eu te amo tanto. Eu sou tão grata mas porque você deixou eu sobreviver? Porquê pai? Porque você me deu vida? Você devia ter me deixado morrer. Agora você vai ter que cuidar de mim pro resto da minha vida. Cê tá fudido. Cê vai ter que segurar minha mão pra sempre, foda-se. Cê vai ter que ficar do meu lado pra sempre, sem você eu não vou conseguir. Sem você eu morro, eu me mato, eu me acabo. E dessa vez eu juro que consigo. Por quatro vezes eu fracassei. Mas na próxima se você não estiver comigo eu juro que não falho. Eu juro. Não sai do meu lado. Não, por favor. Eu te amo tanto. Perdão pai. Perdão pai. Perdão.

Eles

Pai essa noite sonhei com você...


Pai deixa eu te contar uma coisa:
Essa noite você veio me visitar de madrugada
Esteve presente quase que o tempo todo
Ali, ao meu lado
Nossa, nós conversamos tanto
Falamos de futebol
Relembramos o tempo em que você ouvia o jogo pelo radinho de pilha
E aquilo simplesmente me enfurecia.

Falamos do São Paulo e do Corinthians
Você jogou na minha cara que eu não tenho 'personalidade futebolística'
Isso mesmo: Porque antes de eu ter os meninos eu era São Paulina e depois com a chegada deles e o crescimento passei a dizer que sou 99% Corintiana e 1% São Paulina.
Fica bravo não tenho você no coração.

Ah, tenho você também tatuado em inglês - chique né? - no meu pulso direito - 'daddy'
Fiz pra você lembra? Fiz pra te homenagear e te carregar comigo para todos os cantos e não somente pelas filas da filha da puta da 'securidad social ' (em espanhol, hein?) - tô metida né?
Ah, fala sério, sempre fui. Principalmente com as letras.

Lembra quando eu era adolescente e vivia corrigindo o vocabulário alheio - meu deus - quanta pretensão.
Ih, pai, sou cínica, não corrijo mais em voz alta, mas continuo corrigindo na cabeça.
Não passa nada. Nadinha de nada. Corrijo até o William Bonner e a sra. Fátima Bernardes.

Mas voltando ao sonho: Você falou do tempo em que eu pregava cartazes nas fábricas - petista e bicho grilo - e deixava a mãe louca de raiva.

Ah, eu te falei do dia em que você me 'comprou'. Isso mesmo: Foi quando você me deu dinheiro para cortar o cabelo no salão de beleza. Nossa pai. Fiquei enlouquecida. Tinha treze anos e nunca tinha entrado num salão de beleza. E lá fui eu. Toda embasbacada e contentinha.

Ah pai, nós falamos também dos sucos que a mãe fazia. Meu, cada suco bom, tudo com fruta natural. Eu adorava - continuo adorando - o de maracujá.

E a briga do Gerri? Você relembrou. O Gerri apanhou e você saiu de casa alucinado para bater na cara do safado que tinha dado uma porrada na cara daquele que já era o teu menino.

É, eu lembro bem. O moleque com 15 anos já pegava tua Brasília para dar umas voltas. Você ficava cheio de orgulho. Claro, tinha ensinado ele a dirigir. Pena que o Gerri pra ensinar foi e é totalmente diferente de você. Lembramos no sonho de quando ele foi me dar umas aulas. Era uma instrução seguida de uma porrada. Todas as vezes em que fui aprender com ele voltei chorando pra casa. Nunca vou me esquecer da maldita frase que o filho da puta do meu irmão dizia pra mim: - Mas você gosta da rabeira de um ônibus, hein? E hoje o cachorro é professor. Fico imaginando os coitados dos alunos que o infeliz ensina todo dia. Ah, é mesmo ele também tá no BB. Pai, imagina o Gerri atendendo correntista. Vixi, deve ser uma safadeza de atendimento que eu heim enquanto gerente e consultora de costumer service simplesmente ficaria estarrecida vendo uma merda dessas. Não fala isso pro bicho não hein?

Oh pai o Gerri é foda né? Maldita pretensão que ele tem de querer interferir no que os outros sentem ou então querer que outros sintam as coisas como ele sente. Oh moleque filho duma puta. Coitada da mãe.

Mas pai, no sonho você falou tanto dos meus meninos. Relembrou a época em que eu viajava pela Abril a trabalhava feito uma condenada. Chegava sábado eu morta de tanto cansaço e com uma puta preguiça de sair de casa. E??? Lá vinha você. Batia na porta às 7 da matina pra levar os guri pra treinar futebol. Nossa pai, você é demais. É mesmo, até em tamanho. Brincadeirinha.

Oh pai, eu vou por alguma coisa na barriga que tô há uns 3 dias, of course, pra variar, sem almoçar. Depois vamos continuar falando da tua visita madrugadeira? Do teu passeio pelo meu sono?

Antes deixa eu te dizer uma coisa: Eu quero te agradecer por você ter me escolhido pra ser tua filha. Obrigada pai. Obrigada mesmo. Putis cara como eu te amo. Te amo pra cara... caramba. Ia falar um palavrão. Você sabe que eu adoro falar um palavrão.

Ah, já comprei teu presentinho - inho mesmo - de natal - pouca grana - pra variar.

Fica bem.

Fica em paz.

Seja feliz porque você merece ser sempre um cara muito feliz.

Te amo

Tua filha que resolveu ficar doida e te dar trabalho depois de velha.

Gilvânia.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Dama de companhia para a eterna e longa moradia























Passeio pelo parque
Vou de costas fingindo que nada vejo,
Mais pura, somente mais um desejo,
Procuro apenas uma rosa amarela
Ela será a dama que a mim fará
Companhia particular na minha morte quando chegar
Essa de todo se fará singela pois merecida assim é e assim será.

Fantasia














Tento invento prossigo
No vão do caminho desejo são
Do destino então vanglorio
O que posso e permito
Sozinha na solidão dos meus passos
Vasculho tua pessoa e páro
No meio da multidão
Nada de nada encontro
Prossigo então
Para dizer a mim mesma de novo
Mais uma vez sozinha
Vai menina buscar ali
Na esquina teu elo vazio
Tua alquimia inventada
Pela tua liberta e infinda
De novo sozinha
Fantasia.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pai


pai lembra quando eu te conheci?
você já era assim
meio fanfarrão
gordinho meio sim meio não
um pouco moleque
disfarçado num meninão
meio de lá
vindo dum canto talvez de cá
isso nunca ninguém saberá
com firmeza firme afirmar
o porque e o então
de você ser esse homem grandão
tanto por dentro quanto por fora
meio vento meio viola...

pai lembra quando eu te conheci?
você já era assim
do faz agora
do não deixa pra lá
do traz pronto
pronto pra comer
feito pra fazer
feito na hora
sem deixar pra requentar
encomendado a ser entregue
quando a gente quisesse
ou quando a gente resolvesse
ou pensasse que a barriga
tava meio vazia
essa era a hora
que a gente pedia
pra você sem precisar
pedir não

toda vez era um que fazia
um de nós
safado
sem vergonha
meio ludibriando
te apoquentando
e você tão paciente
tão querendo ser nosso
ser nossa gente
pai você sabia
que podia entender bem
o que era
como se fazia
capricho de criança
coisa rara
desconhecida
aprendida
através de ti
que aconteceu
de forma tão amendrontada
pela vida
pudera
até então
para os quatro esquecida
afugentada
quase que algemada
alma
alma partida
pai deixa pra lá
eu tô perdida

eu tô com medo
meu medo é grande
essa porcaria
noite e dia
a doer
meu estômago vazio
a água nem querer
comida então
só recusar
esse vão
na minha barriga
isso porque
dói saber
que dói em você
qualquer coisa da vida
pai eu não queria
te fazer sofrer
mas eu preciso dizer
que hoje eu chorei
porque eu sei
que você sabe
que todo mundo vê
você mais magro
você mais fraco
você doente
você assim
diferente
para mim
e o meu cigarro
e agora?
o que que eu faço?
saio correndo
pego teu braço?
fujo pela porta da sala
me mato
vou embora
saio daqui
não vejo a hora
isso tudo
quero não
quero sentir
medo não
nem dor
no meu coração
pai
eu te amo tanto
por favor
faz isso não
levanta daí
vamos passear
na pracinha
tudo bem
bem devagar
eu e você
a gente toma
um picolé
tudo bem
você escolhe
o sabor que mais quer
eu deixo dessa vez
você decidir por mim
mas pai
não faz isso comigo
eu sinto
meu corpo sente
meu coração sente
meu corpo dói
minha cabeça gira
meu coração está apodrecendo
te vendo aí deitado sofrendo
pai levanta logo
você não foi feito
pra ficar desse jeito
você não pode
não é teu
esse direito
vem pra cá
escuta essa canção
essa melodia
que toca
na radiola
do meu coração
só diz assim
te amo tanto
te amo muito
te amo sempre
te amo muito
te quero aqui
perto de mim
vem pra cá
me deixa não
sozinha
morro aqui
de solidão
sem ti
sou nada
viajo
na contra mão
da vida
feita
para se viver
e assim
pai
sou eu
que agora
paro aqui
para morrer
de dor
de saber
que um dia
eu posso
perder você
me mato antes
porque isso
suporto não
sou fraca
covarde
minguada
podre
sem casca
descacada
pai desculpa aí
o desabafo
paro agora
tô sem fôlego
tô sem amar
só tenho em mim
o resto do direito
de saber que sou
eu tua filha
e posso
com minha garra de trapo feito
feito covarde
feito ninguém
poder pedir
a deus
esse homem
do além
que me deixe
aqui
aos teus pés
a pedir perdão
por te querer tanto
e ser egoísta
e saber somente
o que a gente sabe
quando a gente sente
no peito
no coração
esse amor
que não se mede
que não se nivela
que não se compara
que não se diz
que não se fala
esse amor
que tem aqui
em mim
e é teu
por fim
meu pai
querido
meu amado
amigo
pai
preciso ainda te agradecer
a chance de pode ver
a oportunidade de conhecer
o que é
amar um homem
sem saber
mas sabendo sem querer
que ele
foi e é
e para sempre somente haverá de ser
o pai que sempre se quis ter.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sente quem cala sai da sala e não consente com a gente?




Eu, Gill, do alto da minha sacerdotisa ignorância, afirmo: Cada um sente o que pode e consente e para si de cara nem tenta porque não consegue, fracassa e logo mente.

Amém.