O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Carta para meu filho João Gabriel



Filho não te afastas de mim
Sei que sou assim tão diferente
Eu: Um eu sem fim

Mas não adianta tentar isso diferenciar
Não consigo sequer o modo de como
Ao uma das mãos movimentar, alternar.

Filho não te afastas de mim
Sei que sou assim tão diferente
Eu: Um eu sem fim
Que não tolera dores fortes
E quando se dá conta de que isso 
A todos os seres sempre acontece
Sofre chorando feito criança 
Que precisa ser embalada até adormecer.

Filho não te afastas de mim
Sei que sou assim tão diferente
Eu: Um eu sem fim
Mas aqui por dentro muita coisa se passa
O calor existente suprime algumas deficiências
O amor que faz meu peito bater vai direto aos teus ouvidos
E sei, tu me dissestes uma vez, que por ti é percebido.

Filho querido não te afastas da tua mãe
Essa que corre solta sem saber o caminho certo
Essa que ao parar frente a qualquer igreja ainda se benze
Mesmo afirmando em deus não crer
Essa mulher que por fora demonstra certa firmeza
Em contrapartida, fez disso, sua capa
Para enfiar os pés e no chão os dois conseguir fincar.

Filho meu, sabes tu o quanto eu a ti pertenço
Questiono meu merecimento, ah, como questiono
E dançando entre as dúvidas
Para as quais não tenho resposta alguma
Sei apenas que tu ao meu mundo adentrou
A partir disso consegui, finalmente, um lugar
Que posso chamar de meu
Lugar esse que dividimos todos os dias
Canto nosso, meu, teu e se ele existe
Também permito que seja de deus.

Com amor

"Mãezinha"

Porcaria








A mediocridade humana me aterroriza
No mundo somente sobras fétida restaram
Sinto muito por mim
Faço parte dessa miséria sem fim.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Livre-arbítrio








Tua liberdade permite que tu vivas a me insultar
Em contrapartida ela jamais lhe possibilitará
Que tu, mais um ser na terra, a sobreviver
Consigas a proeza do meu eu suster.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

By Einstein






"A coincidência é a forma escolhida por Deus para permanecer anónimo."

Oi mãe tô aqui























Oi mãe
Não quero eu com minhas coisas te incomodar
Mas preciso tanto dizer a ti
O que passa aqui dentro de mim.

No fundo do meu peito
Aqui do lado direito
Repousa uma dor aguda
Mãe, é uma dor tão profunda.

Não sei o que poderia eu fazer
Para essa dor parar de doer
Tento forçosamente chorar
Porém, as lágrimas à minha face não vêm.

Mãe, poderias tu nesse momento
Com tua força e teu amor
Meu corpo em teus braços tomar?
No teu colo, mãe, preciso chorar
Quem sabem, assim, tu consigas  
Minha dor aliviar? 

Mãe, podes me abraçar?



P.s.: Depois de escrever essas linhas telefonei para minha mãe e perguntei se poderia ler algo que tinha escrito para ela. Disse que sim, claro, poderia. Pediu apenas que eu não me demorasse muito pois, ia sair.

Ao término da leitura ela me disse assim: “Posso minha filha, posso sempre te abraçar”.

Mãe, obrigada. Eu te amo muito. Muito obrigada.





segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Apesar...







Louvado seja aquele que reconhece em si mesmo os defeitos que avista nos outros.

Bestial






















Minha alegria profunda
Vive e se apega ao viver
Para frisar sua importância
Dentro do que se diz saber ver

Porém, dela vivo desconfiada
Nunca a entendi, essa danada
Pregando peça ao entardecer
E trazendo água toda noite
Que eu possa me saciar ao acordar.

Alegria que exulta
Que tenta e embala
Em mim tu apenas
Reforça minha fala
Agora, em ti, mando eu
Cala-te.
Vai-te daqui.

Derradeiro


















Sempre, como de costume, entre nós aconteceu
Novamente sobre algo tu pensou e, sozinho, resolveu
Aqui estás na minha frente tomado, penso eu, pelo que vejo,
Acompanhado de teus seus objetos pessoais
A revelarem teu desejo de retornar
A revelarem teu desejo de ficar
A revelarem teu desejo de ocupar
Teu ex-canto-lugar.

Entendo eu, afinal, vezes infindas ocorreu
De tua elevada independência crer lhe possibilitar
Sozinho decidir ora onde estar
Sozinho decidir ora quando partir
Sozinho decidir o local que mais te agradar.

Também é ela que te assegura o poder das decisões finais
Seja o que for: Situações variadas ou o corre corre habitual.
Aqui estás novamente a agir
Repetindo-se como és, considero eu que talvez nem seja intencional.

Volto a dizer que também é ela que te faz acreditar
Que fiquei eu aqui nesse canto, nosso ex-sagrado-local,
A guardar para ti o 'teu' espaço
Entretanto antecipo que outra realidade cá estabelecida
Será responsável por te mostrar a porta de saída.

Não se apaga da vida os acontecimentos e as situações vividas
Afinal ela não é escrita numa caderneta usando-se grafite
No papel onde é constantemente grifada
O azul se firmou
O azul firmado deixou
Além do que juntos passamos
Também o que haveríamos de passar e manter.

Não entendo eu muito bem como tal decisão lhe ocorreu
A considerar pelo tempo em que tu se ausentou
Não entendo também eu também muito bem o que fazes aqui
Pois, foi sem sequer um sopro prévio a mim anunciar
Que outro lugar irias buscar
Partindo assim, sem se acanhar.

Agora, nessa hora, tarde da noite, já passa das dez
Aqui estás e manifesta o desejo de reatarmos nosso laço
Como podes nisso pensar?
Não lhe restam recordações?
Do dia em que tu foi
E fiquei eu com o corpo todo gelado
Sem saber se repousaria na cama ou iria a um bar beber.

Tentas agora meu corpo novamente aquecer
Com o calor do teu abraço
Não será assim, olhe, reconheças em mim em mim
Algo se diferenciou.

Durante o tempo da tua ausência, foi o tempo, sim, ele próprio,
Que veio ao meio encontro desdobrando-se em me observar
Até clamar gentilmente à luz do sol
Que meu coração fosse envolto pelo perdão
E que meus dias e noites também abraçasse
Para assim, também contribuir e diminuir minha solidão.

Despertei
Dei conta
Vi
Senti
Tua ausência já não me doía tanto
Tua partida já não me fazia sofrer
Tampouco roguei eu a deus clemência
Para tu voltar e em teu colo me ninar.

Para terminar, somente algo mais tenho a lhe dizer
- Deves continuar a caminhar no percurso que começou
Não pare mais aqui nesse lugar
Nem penses que ainda poderás algo sequer
Ao meu lado, por ventura, firmar.

Peço, por favor, que saia agora
Abrirei a porta da frente para ti, será a última vez
Não mais, nunca, voltarás a atravessá-la
Esqueça por completo de quem agora
Sozinha aqui mora
Esqueça por completo de quem agora
Sozinha aqui ficou e bem se instalou.

Adeus.

Ah, desejo eu que um dia tu recuperes a tua fala.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Al always

Fragmentos
























ando comigo
ando somente
ando comigo
pouco frequente
ando comigo
de mim mais distante
mais distraída
menos falante
mentirosa continuo
sempre fui e sempre serei
foi dessa forma
que sozinha me criei.

pode clamar à vontade,
não há no teu ar
alegria alastrada
sabes bem que finges tu também.

(para ficar menos cruel
é bom lembrar
que todo mundo
dia-a-dia
cria um mundo
de aluguel).

ando comigo
ando contente
menos presente
de mim mais ausente
continuo ignorando ao redor
enxergar essas situações
que passam por aqui
que passam acolá
para quê?
Para nada, ao meu ver.

meu negócio há tempos
deixou de insistir
deixou também de ser
cansei e a mim determinei:
chega!
para mulher de escolher
sempre o caminho que finda no sofrer.

ando comigo
ando pensante
no dia de hoje
e num futuro nada brilhante
esse sei que jamais terei
nada fiz par merecer
luz ou sombra, vai saber
não quero
menos ainda ei de querer
algo aqui de outra forma fazer
Do jeito que vai está bom
então, é assim, que vou permanecer.

ando comigo
ando vagarosamente
todo dia ao raiar do sol
e ao levantar-me da cama
não tem ninguém para me chamar
sou eu sozinha a me despertar
quando desperta meu maior desejo
é que o dia corra e alcance a noite
afinal, ela é responsável por trazer
a paz através do sono sagrado.

ando comigo
ando frequente
sou assídua no caminhar
não ligo para a canção que ouço
seja ela qualquer uma
a tocar em qualquer lugar
da música me desprendi
música agora para mim
faz-me sentir um ser transparente
somado àquilo que me fez fingida
por ser, reconheço, bestial,
tão sentida e trivial.

Sendo assim,
ando comigo
ando frequente,
ando distante,
ando falante,
ando contente,
ando presente,
ando ausente,
ando pensante,
ando brilhante,
ando vagarosamente,
ando transparente e
ando sempre carente.

mas, não se atreva
a querer comigo se importar
fique no seu canto
esmere-se no teu lugar
quanto a mim foi aqui que eu escolhi
para viver e nada na pele sentir.

sendo assim,
sonho todos os dias
que um dia existi

sendo assim
sonho todos os dias
que um dia fui alguém sim.

humana
criança
grandona
e hoje tudo que sou
transformou-se num caco pesado
que por mim foi colado.

na época alardeei
na época chorei
na época embasbaquei.

hoje tudo isso
não me diz nada
hoje tudo isso
ficou para trás
são águas escuras
águas salgadas.

Sinônimos perpetuados...



















Sinônimo de mãe? 

Resposta 'bobinha', pô:
 
Queres saber mesmo qual é?

Pois olhe aqui:

= Múltiplas Funções. Uso Variado.

Ah, merda, bem lembrado.

Pra terminar: Faz o teu e vê se não reclama, heim? Que saco.  

'O ciúme' - Caetano Veloso. Tão bela... tão única...

Fantasia




Enfim,
Um dia
Será assim:

- Eu por você e
Você por mim.

Enfim,
Um dia
Será assim.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Invito diário

Por vezes rogo
Por vezes imploro
Ao deserto da minha alma
Que caminha e não encontra nada
Caminha sem chão
Caminha tanto e tanto
Sempre e tão em vão.


sábado, 1 de janeiro de 2011

Merda III























Um caminho
uma jornada
novo percurso
nova estrada.

Agarrei
e, claro, dele fiz
minha nova caminhada.

Como resultado enjoei
pus tudo pra fora, vomitei
o que deveria ser algo novo
se revelou como sendo mais uma porcada.

Retratei o fato em preto e branco
e tudinho de tudo documentei
Merda, eu de novo, pra sempre, outra vez.