O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

terça-feira, 31 de maio de 2016

Poesias x Verdades x Poesias que... sei lá.

Li em algum lugar, não faço ideia de onde, que 'a verdade é como a poesia, são poucas as pessoas que apreciam'.
Mesmo triste, de alma amuada, tenho que concordar.
Ah...
Mas, se nem versos ou estrofes as pessoas leem, o que dizer de um poema inteirinho?

Ei, trouxa, nasce de novo, quem sabe...
Esquece 'trouxona'. Vai nascer de novo um pouco mais trouxa, um pouco mais iludida e de novo sonhando, seja dormindo, seja acordada, seja em pé, seja deitada.

Vixi

Mais um pouco e meu estoque 'fenomenal' de paciência se esgota. PQP.

Ceifa

Perdemos a força - constatação –
A guilhotina dividiremos não,
Impiedoso o amor nos separou,
E quando, os dois já solitários, 
Destituiu-nos ligeiro pelo ralo.

Círculo

Bondoso tu chamas de vício,
Porém, há tempos, denominei,
De denso meu sacrifício,
Não, nada mais suplico!

The Animals - The House of the Rising Sun Mafia III Trailer 3



sexta-feira, 13 de maio de 2016

Cenário Da Ruptura

Sim, o tempo passou,
Rápido, rasteiro e impiedoso,
Ali mesmo, por mais alguns instantes,

Os dois permaneceram.

Em suas mentes vieram as imagens,
Passaram, rapidamente, todos os retratos,
Guardados, um por um, silenciosamente.

Não, não haverá amanhã para esse casal,
Quanto ao ontem todo se desfez,
Não pedirão sequer - nunca - 
Nem pensar - não - perdão.

Ela fará o mesmo percurso outrora realizado,
Agora, rumará lado contrário,
Enquanto ele, mesmo desejoso,
Jamais permitir-se-á,
Sua face uma lágrima molhar.

Acabou o caso do casal,
Enquanto a cortina transparente de voil,
Continuará pendurada encardida
Na porta da sala central.

Possibilidade ínfima sequer,
Poderá, um dia, 
Unir de novo - ah, poderia -
Esse homem à essa mulher.

Prolongado por uns dias,
Fez-se o fim,
Tanto para ele,
Quanto para mim.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

John Lennon - Imagine (original instrumental)

“Sou grata à fé,
Que não me cegou,
E, o baque atenuou,
À infelicidade do fato...
- Previsto - ”. By Ana Gill







José - Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Tia Minha Socorro

Tia Socorro, 
Meu amor pela senhora será infindo,
Irá além do eterno. 


Obrigada por ter sido sempre minha tia,
Tão minha tia minha!


Eu, pequena e mulher feita,

Sempre,
Sua 'Vaninha'.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Pesar

Duro. 
    
                       Difícil. 
    
             Doído.
 
      Pesado.


Arranha.

       Machuca. 

Rasga. 

 Sugado.


Aponta com a ponta suja aguda.

                  
                             Sente sem querer o que não crê.
                   

                                           Futuro não há.

    
                Duro difícil penoso pesar.


                                      Pesar que se paga por em nada ceder. 

                                         
Pobre esse SeR?

                                     Sei não. 

Jamais pensei. 

                         Sequer imaginei. 

Nunca pensei
      
                      Que vaidade assombrada,


Sangrasse na pele fechada.

          
                         Só esse ser seguirá só


                                  Eternidade a viver acompanhado do pesar a ele necessário.


domingo, 1 de maio de 2016

Estio

Seca,
Nua,
Crua,
Tanto por dentro,
Quanto por fora.

Dentro dela também um vazio a envolve,
Depois se auto expele pelo nariz, olhos e outros poros.

Ela deixa a casa,
Segue rua adiante,
Caminha e não repara,
Em quem nela repara,
Somente frente a uma vitrine,
Percebe seu corpo desnudo.

Plateia pequena ovacionou,
Ela sequer se abalou,
Se, era ordinária e vil,
Os demais filhos de putas,
Que nenhum sequer pariu.

Quando a plateia decidiu de novo gritar,
Desnuda, despida, seca e também incrédula,
Ela percebeu a quão vil e ordinária poderia ser.

Praguejou a todos que a rodeavam,
Ofendeu mães, filhas, pais, talvez até tias,
Nem por um momento sentiu pesar,
Agora aquilo que se fazia resto,
E resto se joga no lixo.

Resto essa mulher não iria mais ingerir
Resto alguma essa mulher se permitiria,
Novamente deglutir.

A partir desse momento,
Deu-se conta de que só haveria,
Uma única maneira de ajuizar:

- Ou seria do jeito dela,
Ou ele poderia à casa da mãe retornar.

Se por um tempo ela permitirá,
Que ele logo a moesse como lixo orgânico.

Agora, seca e vazia,
A explorar seu papel vil,
Não seria a morte dela,
Ele a celebrar.

Inverteram-se os pesadelos:

- Agora sou eu quem te esmago,
Pisoteio,
Arranco-te da casa, sem nada,
Desnudo e descalço,
E lanço com essa força que ganhei,
Um merecido pé na sua bunda.

Tratar logo de escolher,
Frouxo, bundão,
Em qual estrada tu,
Há de bradar por nela correr.

Problema teu, meu bem
Problema teu, neném,
No meu ventre não te carreguei,
Nem em meus seios te amamentei.

Problema teu, meu exibem,
Ponha-se daqui para fora,
E, por definitivo, esqueça,
O caminho de volta.

Para mim foi uma década de azaração,
Consolo-me, porém, em saber,
Que para ti,
Serão décadas de humilhação.


Tchau bundão!

Ah...

Como assim?
Como poderei eu assimilar,
Que o meu eu você insiste,
Em mim, logo, encontrar?

Ah...

Esqueça,
Nem você,
Nem minha mãe,
Nem eu,
Nem o pai,
Nem mais ninguém,
Chegou a conhecer,
O caminho tomado,
Naquela tarde chuvosa,
Por esse peregrino – meu eu meu - tão estragado.

Ah...


Tendência

Oi, desculpe,
Cheguei,
Sei que demorei.

Mas, cá estou,
Com a noite quieta,
Que ainda nos aguarda,
Repara, amor, repara,
Será ela a nos abraçar? 
Será?

Sim,
Fiz sim,
Fiz o percurso de volta,
Direitinho do jeito que você me ensinou.
Sabias que voltaria, não?
Então, porque, deixou-me ir?

Meses fiquei longe, 
Longe de ti,
Meses fiquei tão...
Não, não falo mais disso,
O recomeço para nós,
Dá-se agora.

Engano seu,
Desde que se foi,
Seu espaço cedi,
Para flores e cordão,
E, todo os dias,
Faço ramalhetes,
Imaginando que um dia,
Um deles contigo carregaria.

Antes que me perca,
Perante tantas palavras,
Preciso lhe contar,
Que não voltei por você,
Não, não e não,
Voltei somente por mim.

Desculpe, nada entendi.

Olhe aquela janela,
Parece cinzenta - é não -
Por dentro e por fora toda esverdeada.

Só veio para isso?
Responder não posso,
Não sei o que dizer,
Melhor calar.

Primeiro calo eu,
Em seguida cala você,
Não conheço outra forma,
Disso vir a funcionar,
Lua clareando ao lado,
Casa apedrejada por lá.

Vá.
Vá.
Vá.

Ou...