O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O cessar da nossa história

Que saia de mim,
De dentro pra fora.

Que saia de mim,
Que seja agora.

Que saia de mim,
Permaneça nem mais hora.

Que saia de mim,
Que vá rua afora.

Que saia de mim,
E vá logo embora.

Tudo isso porque,
Aqui dentro, em mim,
Dói a dor do dorido.

Tudo isso porque,
Aqui dentro, em mim,
Dói a dor da chorosa.

Tudo isso porque,
Aqui dentro, em mim,
Dói a dor,
Daquilo que se foi outrora.

Que saia de mim,
Que vá logo embora.

Que saia de mim.
Novo caminho vá conhecer,
Porque tolamente o que fiz,
Foi meu passado desmerecer,
Nada erguido restou,
Nada do vivido sobrou.

Bem como, de nós, eu e você,
Nada resta mais agora,
Nem por dia, sequer por hora,
Nem para mim,
Tua ex-senhora,
Essa que ainda teima,
Em se fazer meio chorosa.

Peço a ti que ao ir de mim,
Pise fortemente,
Quem sabe assim,
O solo poderá até marcar,
O último passo que tu.
Por aqui venha a firmar.

Acordo combinado - eu e você -
Daqui para a frente,
- Na tua ou na minha mente -
Nada a lembrar,
Meio riso nem pensar esboçar,
Seja ao dormir,
Seja ao acordar.

Até que chegado o dia,
Quando se dará a total libertação,
O dia em que nossas mentes fora porão,
Do meu e teu peito – coração, coração,
Esse será o percurso tomado,
Para nossa história vivida,
Agora tão franca, perdida,
Possa, enfim, ser enterrada,

Que saia de mim,
Que vá logo embora,
Que saia de mim,
Por favor, vá agora.

Que saia de mim,
E, por completo,
Faça-se de esquecido,
Do caminho tão percorrido.

Que saia de mim,
Não deixe estrada alguma mapeada,
Que saia de mim,
Simbolizando nossas vidas passadas,
Doem agora, judiadas,
Momentos ínfimos de clamor,
Doem agora, judiadas,
Momentos ínfimos em alvorada.

Percebes, agora por final,
O que de fato transcorreu?
Nosso amor imaginado,
Sentido e pelos poros dos corpos trocados,
Relutou inutilmente em resistir,
Nem ao meu ou teu ciúme,
Mas à toda a desconfiança,
Que habita ainda hoje em ti,
Homem que chamo agora de criança.

Pela última vez,
De meu amor te chamo agora,
Somente para te te lembres sempre,
Que o final dessa história,
Por um só não foi narrada.

E, por fim, agradeço
A pequena vida a dois consternada,
E, por fim, agradeço,
Saber que tu serás o responsável,
Em rapidamente me fazer te esquecer.

Agora chega,
O adeus por muito se estendeu,
Saia, por favor, vá,
Lembre-se somente de pendurar,
A cópia da chave – maldita sala de jantar – .

Volto-me para o quarto,
Sem pensar no que acabara de acontecer,
Volta para o meu quarto,
Preciso, um pouco, adormecer.

Zona de perigo

Hás que suar mulher, 
Para teres o domingo que quer!


Vais ou não vais?

Tens um segundo para dizer se vai ou se ficas
Se for, terás meia hora para arrumar todas tuas tralhas
Depois disso, dou-te três minutos para atravessar esse corredor
E, definitivamente, dar o fora daqui!
Não, nem pergunte,
Não há opção para sua estadia
Esqueça, pura retórica tardia.



terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Mãezinha

Mãe não penses em mim como alguém capaz
Saibas que me escondo atrás dos lençóis que tu lavas
Sempre, durante todos dias
Depois que tu anuncias
Tua reza diária
E vanglorias teu senhor
Num ato sereno de amor.

Mãe, tu sempre desejaste
Viver por mim
Viver para mim
Para me extrair
Da dor que o mundo
Far-me-ia sentir.

Mãe, precisas tomar ciência
Apregoou lhe que não sou apta
O medo que sinto da vida me abstrai
E, assim, faz-me incapaz.

Mãe, saibas que quando saio por aí sozinha
O que queria na realidade
- Escuta essa verdade -
Era ficar em casa
Com a cabeça recostada
Em teu colo, mãezinha.

Mãe, tu que sempre ambicionou
Um sonho para eu na vida percorrer
Mãe, tu que sempre ambicionou
Uma quimera em minhas mãos despejada
Mãe, tu tens que saber
O quanto sou inadequada
Para a vida viver.

Mãe, é assim que levo
Meus dias e minhas noites
Mãe, é assim que sobrevivo
Ao medo do invisível
Ao que desconheço

Esse temeroso e imprevisível.


Balanço calculado (errado)

Conspira cativante a ação,
Caneta a penar na palma da tua mão,
Se tens dúvidas do que poderias criar,
Esse é o momento único e singular,
Delas todas tu te livrar.

Tu não és quem pensas – aspiração -
Tu não pensas quem és - ambição –
Tu não és sequer um adjetivo herdado,
Pobre daquele que intentou, coitado.

Tu somente és absorvida,
Através do paladar alheio,
Teu sabor, tu mesma,
Nunca experimentou.

Também nunca permitiu odor de teus poros exalar,
Quisera eu ter sentido no teu colo ao ninar.
Não, só enxerguei essa dor profunda no teu olhar.

E, sem rumo definido,
Continuas peregrinando pelas noites,
Não se mantém calma e aquietada,
Não, procuras os becos e vielas,
Andas descalça pelas calçadas molhadas,
Parece até que pelas tuas lágrimas foram lavadas.

Insisto em ti dizer,
Insisto para que tu saibas,
Que essa alusão a que se refere,
Quando para frente ao espelho,
Não é a mulher de quem algo ainda quero.

Minha dúvida até então latente,
Começou a se dissolver,
Sim, um pouco pela manhã,
Sim, um pouco pela tarde,
Sim, o restante se deu à noite.

Foi tu que neste quintal,
Plantou a semente do teu mal,
Foi tu que neste quintal,
Jamais soube acolher,
Teu próprio ser.

Sinto que saibas,
Mas preciso que entendas,
Não consigo lidar com tuas idas,
Idas essas à tua mente,
Não consigo lidar com tuas idas,
Idas essas à tua mente,
Porque lá, sei bem, nada encontrarás.

Perdida estás!

Peço que se retire agora,
Não, não olhe para trás,
Não, mulher, frente à tua vida,
Não intente teu pranto deixar correr,
Ele nada será capaz de mudar,
Esses anos todos de peregrinação,
Dois seres no mesmo lar,
Um sem saber aonde o outro poderia estar.

Faça por ti o dever de sair,

Se perderes a força pelo caminho,
Deita teu corpo frágil no cimento,
Quem sabe aquele beco escurecido,
Ainda te ofereça o ópio agradecido.

E, depois de se drogar,
Com o ópio que tu pagarás,
Usando como moeda,
Teu corpo magro,
Teu corpo calado.

Percebes que de mim, nada precisas,
Percebes que de mim, nada um dia lhe interessou,
Fui somente o instrumento de abrigo,
Para tuas noites de frio e de dor.

Bata a porta ao sair,
Quero guardar em meus ouvidos,
A sirene da tua despedida. 

Adeus mulher, adeus,
Adeus mulher, adeus,
Adeus mulher, apressa-te,
Adeus mulher que nunca intentou,
Mesmo que por acaso em mim se reencontrar,
Menos ainda comigo ser o viver,
Ou permite-me contigo lidar.

Adeus.


Torto

Desastre,
Sentimento lateral,
Matéria,
Material,
Da era circunstancial.

A todos o bem 
Ou o eterno mal?


The Voice 2015 Sawyer Fredericks - Top 10: "Iris"



Beautiful boy,
Beautiful voice,
Beautiful hair,
Beautiful soul
Unique, Sawyer.

Contramão

Eu por mim,
Quase sempre,
Ou vez ou outra,
Durante o dia,
Também pelas madrugadas,
A andar calmamente
Buscando a beirada das calçadas.

Sem pressa,
Pressa não,
Sem correria,
Correria não,
Devagar,
Devagar sim,
Amacio o piso,
E, por pouco, no liso
Não fico largada no chão.

Ida e volta seguindo o mesmo ritual:
Indo e vindo na contramão,
- Ahn?
Não entendeu meu irmão?
Sei que não e não,
Problema algum vejo nisso,
Cá entre nós,
Quem poderia entender?
Pretensão essa tenho mais não.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Padecer sem ser

Porquê?
Vem a pergunta,
Fica sem a resposta.

Talvez um dia,
Possa vir também,
À memória de alguém,
O letrado a dizer em seguida...

Pela tua,
Pela minha,

Pela nossa eterna e ferida vida.

Depois, logo adiante,
O ciclo se refaz,
Depois logo adiante,
Ninguém se despede mais. 

Virá novamente a pergunta,
Ficará novamente sem resposta.

A única certeza obtida
Será a ferida cultivada e viva 
Em nossas vidas, pequeninas, vividas.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Obstinação

Eu, por mim, mais uma vez, sem muito nexo,
Eu, por mim, mais uma vez, de ponta cabeça,
Eu, por mim, mais uma vez, incompreendida...
E, além disso, ainda sendo guiada,
Por uma duvidosa - tão teimosa - direção,
Que guia minha mente na contramão...

Danada,
Maldição!




domingo, 3 de janeiro de 2016

Luz tardia


Luz tardia
Agonia
Gélida
Também fria.
 
Está tudo tão vazio
E o nevoeiro ainda teima em ser tão rude
Batendo incansável nas minhas janelas - antes belas e belas -
Enquanto isso sinto aqui bem dentro de mim
Sim, no meu peito pequeno,
A sangria da ida sem volta.

Enquanto isso sinto aqui

Sim, bem dentro de mim,
No meu peito pequeno
A sangria da volta sem ida - tardia e desconhecida.

Por fim voltei para casa
Voltei talvez para mim
Confesso que queria poder assim lhe dizer:
- Querendo ou não gostaria de estar junto a você, só você.

Meu amor mesmo reinando soberano 

Frente a esse nevoeiro reticente
Teimando em cair e dispor-se a apoquentar-me como se fosse um desejo pessoal
Vim sem pensar muito no depois, no voltar.


Foi de estalo pois, precisava eu agradecer
Mesmo sem bem saber direito o quê ou a quem
Se a ti ou talvez outro alguém - bem - 
Deixemos isso para lá 

Agora é pouco - não mais importa - nem vigora. 

Vim, sim, acho que é assim,
Dizer o quão grata sou a você - a certeza, o instante, teu merecer
Sim, vim, acho que é assim
Dizer o quão sou grata a você - a certeza, o instante, o longe querer.

Grata a quê?
Difícil ou fácil de resposta ater?

O quão sou grata?
Difícil ou fácil de resposta emitir:
Grata por ti
Em contrapartida, também grata a ti
Por mim, de mim.

Luz tardia
Agonia
Gélida
Também fria
Meia volta
Foi descansar
Não mais aqui
Talvez, quem sabe,
Lá,
Beira mar.