O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Balanço calculado (errado)

Conspira cativante a ação,
Caneta a penar na palma da tua mão,
Se tens dúvidas do que poderias criar,
Esse é o momento único e singular,
Delas todas tu te livrar.

Tu não és quem pensas – aspiração -
Tu não pensas quem és - ambição –
Tu não és sequer um adjetivo herdado,
Pobre daquele que intentou, coitado.

Tu somente és absorvida,
Através do paladar alheio,
Teu sabor, tu mesma,
Nunca experimentou.

Também nunca permitiu odor de teus poros exalar,
Quisera eu ter sentido no teu colo ao ninar.
Não, só enxerguei essa dor profunda no teu olhar.

E, sem rumo definido,
Continuas peregrinando pelas noites,
Não se mantém calma e aquietada,
Não, procuras os becos e vielas,
Andas descalça pelas calçadas molhadas,
Parece até que pelas tuas lágrimas foram lavadas.

Insisto em ti dizer,
Insisto para que tu saibas,
Que essa alusão a que se refere,
Quando para frente ao espelho,
Não é a mulher de quem algo ainda quero.

Minha dúvida até então latente,
Começou a se dissolver,
Sim, um pouco pela manhã,
Sim, um pouco pela tarde,
Sim, o restante se deu à noite.

Foi tu que neste quintal,
Plantou a semente do teu mal,
Foi tu que neste quintal,
Jamais soube acolher,
Teu próprio ser.

Sinto que saibas,
Mas preciso que entendas,
Não consigo lidar com tuas idas,
Idas essas à tua mente,
Não consigo lidar com tuas idas,
Idas essas à tua mente,
Porque lá, sei bem, nada encontrarás.

Perdida estás!

Peço que se retire agora,
Não, não olhe para trás,
Não, mulher, frente à tua vida,
Não intente teu pranto deixar correr,
Ele nada será capaz de mudar,
Esses anos todos de peregrinação,
Dois seres no mesmo lar,
Um sem saber aonde o outro poderia estar.

Faça por ti o dever de sair,

Se perderes a força pelo caminho,
Deita teu corpo frágil no cimento,
Quem sabe aquele beco escurecido,
Ainda te ofereça o ópio agradecido.

E, depois de se drogar,
Com o ópio que tu pagarás,
Usando como moeda,
Teu corpo magro,
Teu corpo calado.

Percebes que de mim, nada precisas,
Percebes que de mim, nada um dia lhe interessou,
Fui somente o instrumento de abrigo,
Para tuas noites de frio e de dor.

Bata a porta ao sair,
Quero guardar em meus ouvidos,
A sirene da tua despedida. 

Adeus mulher, adeus,
Adeus mulher, adeus,
Adeus mulher, apressa-te,
Adeus mulher que nunca intentou,
Mesmo que por acaso em mim se reencontrar,
Menos ainda comigo ser o viver,
Ou permite-me contigo lidar.

Adeus.


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