Palavras, poesias, poemas, versos, sonetos, estrofes, contos, crônicas, pensamentos, devaneios...
O caminho...
Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.
Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.
Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade
Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.
Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.
Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.
É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.
Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.
Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.
É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.
Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.
Humana sou.
sábado, 15 de janeiro de 2011
Fragmentos
ando comigo
ando somente
ando comigo
pouco frequente
ando comigo
de mim mais distante
mais distraída
menos falante
mentirosa continuo
sempre fui e sempre serei
foi dessa forma
que sozinha me criei.
pode clamar à vontade,
não há no teu ar
alegria alastrada
sabes bem que finges tu também.
(para ficar menos cruel
é bom lembrar
que todo mundo
dia-a-dia
cria um mundo
de aluguel).
ando comigo
ando contente
menos presente
de mim mais ausente
continuo ignorando ao redor
enxergar essas situações
que passam por aqui
que passam acolá
para quê?
Para nada, ao meu ver.
meu negócio há tempos
deixou de insistir
deixou também de ser
cansei e a mim determinei:
chega!
para mulher de escolher
sempre o caminho que finda no sofrer.
ando comigo
ando pensante
no dia de hoje
e num futuro nada brilhante
esse sei que jamais terei
nada fiz par merecer
luz ou sombra, vai saber
não quero
menos ainda ei de querer
algo aqui de outra forma fazer
Do jeito que vai está bom
então, é assim, que vou permanecer.
ando comigo
ando vagarosamente
todo dia ao raiar do sol
e ao levantar-me da cama
não tem ninguém para me chamar
sou eu sozinha a me despertar
quando desperta meu maior desejo
é que o dia corra e alcance a noite
afinal, ela é responsável por trazer
a paz através do sono sagrado.
ando comigo
ando frequente
sou assídua no caminhar
não ligo para a canção que ouço
seja ela qualquer uma
a tocar em qualquer lugar
da música me desprendi
música agora para mim
faz-me sentir um ser transparente
somado àquilo que me fez fingida
por ser, reconheço, bestial,
tão sentida e trivial.
Sendo assim,
ando comigo
ando frequente,
ando distante,
ando falante,
ando contente,
ando presente,
ando ausente,
ando pensante,
ando brilhante,
ando vagarosamente,
ando transparente e
ando sempre carente.
mas, não se atreva
a querer comigo se importar
fique no seu canto
esmere-se no teu lugar
quanto a mim foi aqui que eu escolhi
para viver e nada na pele sentir.
sendo assim,
sonho todos os dias
que um dia existi
sendo assim
sonho todos os dias
que um dia fui alguém sim.
humana
criança
grandona
e hoje tudo que sou
transformou-se num caco pesado
que por mim foi colado.
na época alardeei
na época chorei
na época embasbaquei.
hoje tudo isso
não me diz nada
hoje tudo isso
ficou para trás
são águas escuras
águas salgadas.
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