O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Consternação

Embirro coronhada
Fabulo melindrada
Por demais atontada
Sem meu amor pra eu amar
Sem meu amor pra me amar.

Dia após dia nas estradas
Pelas noites, só e desocupada.
Ainda lúcida primando
Arremato e
Finalizo poetizando.

Escavo alguns lugares,
Freqüento igrejas, bordéis e bares,
Reparo nos cantos,
Nos ambientes afastados,
Nas esquinas,
E, particularmente, em suas ruínas.

Revejo alguns vizinhos,
Sempre tão sós,
Tão sozinhos.

Depois da ilusão espalhada,
Num curto tempo desandada,
Laçou, laqueou
O lado certo e certeiro acertou.

Abrigou-se no meu corpo
Minha cabeça rodou e rodou
O coração solitário,
Novamente blefou,
Um terceiro ensaio circundou.

Renasci,
Acendi,
Elevei,
Luz branda, luz clara, clareei.

Uma vida a sós,
Uma vida a dois,
Uma vida a três.
Ou quem sabe
A quatro,
Cinco,
Ou seis.

Hoje ainda amargurada,
Com as costas queimando e raspadas,
E uma história para lhes contar:
Após períodos enlevada
Fui do meu caminho
Levianamente desviada.

Calei,
Permaneci calada.
Mentiras e
Mentiras conheci
Visitei-as, percorri.

Tomei café sem açúcar
Saboreei a refeição
Apontada de janta
Jantei,
Janta com pão.

Reparo agora nas paragens
Homens,
Mulheres,
Indigentes e
Crianças...
Crianças sempre carentes.
Escancaro a porta da frente,
Quem quiser, fique a vontade, entre.

Inclino-me na janela,
Contemplo o céu azul
Por alguns segundos penso
Num sim ou num não.
Resposta iluminada ou
Sagrada eu dispenso
Careço não.

Busco a torneira da pia,
E esfrego minhas mãos.
O cheiro de uva permanece
Abraçou-me,
Fortaleceu-me,
Fez-me intensa,
Garantida,
Fez-me TUA INIMIGA.

Dei pra distanciar
Você igual
A ação duplicar.

De lá pra cá
Vagas, vagueio
Meu amor, seu amor, sem amor,
Os dois apaixonados e,
Equivocadamente, envenenados.

Entupo-me de ópio
Quero o mais simplificado
Quanto a você de novo embriagado
Precisando me esquecer.
Eu uma resposta por merecer,
Ainda perguntando por quê...

- Porque eu?
- Porque esse lugar?

Nada de explicação
As questões retornam vazias
Pouco saudáveis,
Menos sadias.
Eu distante de ti,
Da tua vida.

Logo o sol partirá
Continuarei aqui nuveada
Nas minas tardes raivosas
Nas minas tardes espaçadas.

Já nas madrugadas frias,
Ou congeladas,
Ajoelho-me na beirada da cama
E não encontro aquele que me ama.

Mais uma noite sem dormir
Outra noite sem sentir
Teu corpo no meu
Como antigamente.
Repara:
Meu coração ainda mente.
Ouvi que ilusão passa
Que nada é permanente.

Rezo sem crença
Não sou mulher de fé
Sou pecadora
Remei minha maré.

Giro na cama,
Vigio o som do interfone,
Deitado ao meu lado
Um amigo ingrato
O aparelho de telefone.

A manhã chegou
Esqueça,
Esqueço,
Escape,
Eis minha oferenda.
Enquanto isso borboleteio
Sou puro rancor,
Creias que para sempre
Meu ódio conquistou.

3 comentários:

Anônimo disse...

Consternação...parece que você adivinhou, pois estou passando por isso...é difícil...lindo. Bj

Anônimo disse...

Simplismente divino....
Voçe sempre foi òtima em tudo que faz.
Te admiro muito.
Bjus

Chico Bigotto disse...

seu poema é bonito, bem escrito...