O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Por fim, o coração abrandou a razão

'O coração é mais sábio do que a razão...'

Senti aversão ao perceber minha razão
Perturbando, fria e seca,meu coração.
Lembrei-me da história da mulher do pintor
Aquele pintor da arte e do amor,
Ela, um dia sentada na janela, às costas paro o céu,
Mirou-me indagando:

- “Você sabe o que é o amor?
O verdadeiro amor?
Você já amou tanto que se condenaria
À eternidade no inferno?
Perdoa, já vou...".

Não tive réplica
Quase não atingi a pergunta
Amar pra mim, até então, era unicamente amar
Nunca embalara amor às provas mistas da dor.

Conto-te agora:
Não sabia amar até encontrá-lo
Nunca sentira qualquer pesar
Nem lamentara nada, face seca e calada.

Nesse momento chora a alma dos amargurados
Arde o coração dos vivos angustiados
Sabedores da dor da razão
E conhecedores por viverem uma grande paixão.

Quanto a mim, perdi minhas referências
Afastei-me do meio-fio e da ilusão
Inundou-se também minha percepção
Antes, o Amor denominado como certo
Fui obrigada a abortar e
Reconhecer seus manifestos.

Recordo, amei-te mais ainda
Ao ouvir: - Espera, confia, imploro,
Repara, nosso tempo não se perdeu.
Desejo ansioso um filho teu.

Apoquentada, perguntei a meu modo, insegura e rígida:
- Quanto tempo ei de esperar
Acolheremos e impeliremos
Todos os desgostos judiciosos por vir?
A resposta não me apaziguou, fingi.

Bem sei que mentiras, no passado, 'por amor'
Abominei-te severamente impiedosa e cruel
- Inconveniente, covarde e prosaico
Tu, rendido a um preço tão baixo.

Algumas situações a sorte não adota
Menos ainda permite ou consente
Felicidade só conhece amor vindo da pura alma
Somente assim, ao saber, distingui.

Volto a minha questão peculiar
O que fazer do presente
Nossa história, por pouco, não se foi
Largo-me nesse momento, entrego-me a ti
Quase depois da minha hora.

Seguidamente falo-te tensa
Perdoa, bens sabes que não me contenho,
- Amado, receio ir além,
Postar-me, perder-me, aquém.

Essa maldita e perversa insensatez
Talvez me leve à procura – não! Outra vez -
D’um outro alguém. Ninguém?

Temo não suportar o tempo necessitado
Alarmo não ter meus próprios aparatos
Sou pobre, mistura do aqui e agora ,
Mas reponho-me circunda:
- Deixa-me ir embora?

Leva contigo a ciência de ter golpeado bem
Conquistastes teu desejoso bem
Obteve êxito, fez-se o meu homem precioso .

Minha alma arde, alardeia e entoa
Roga calma, paciência a minha pessoa
Meu corpo contrai-se, é puro fogo
Enquanto meus seios nus aspiram tua boca
Vem e apossa-te desse teu ser asilado.

Outra história vou te contar:
Não rias, envergonhar-me-ia
O beijo dito 'roubado'
A ti foi astuciosamente doado!

Não, não amolgarei ou golpearei
Nosso retraído retiro
Nossa luz não escurecerá
Abandonando nosso canto,
Tomando outra direção, tolice, em vão.

Acatada agora minha tola e ingênua alma
Despreza meu acanhado e minúsculo momento
Ausentar-me solidificar-me-ia uma farsa - longe de ti –
Inadequadamente engenhosa.

Quanto à despedida faremos depois
Revogaremos, um ou outro, o destino apontará
É sabido: Jamais estaremos os dois.

Reconhecido o tempo perdido
Cruzadas as horas perfiladas
Forço a razão a acudir-me, de novo,
Nega-se impiedosa
Tomará novo rumo pelas auroras.

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