O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Plaustro (Ou 'Esperou pelo sol...').


Esperou pelo sol, insensível não o acudiu
Ateou lembranças distantes, vãs, dispensou-as
Inquiriu nas palavras algum sentido à vida
Não dominou signos nem significados; chorou assentado.

Impelido visitou botecos, contornou vielas
Vias, alamedas e passarelas
Entretanto, nas passagens exausto desbotou
Cambaleado o chão, pela primeira vez, enxergou.

Com uma manta verde se adornou
Intentando não mais seguir caminho
O corpo contrário tremeu acelerado
Mesmo desprovido partiu derrocado.

Seus pés lamosos perderam-se
Um verdadeiro vai e vem
Rapidamente transformou-se em nada
Constituiu-se em mais um ninguém.

Dores no corpo ecoaram suas mágoas
Cercou-se de pastilhas, gotas e agulhas
Pouca alegria aventurou,
Desnudado quis despir sua existência - tarde recuou.

Pensou na morte como solução para a vida
Mesmo com as lentes quebradas de tempos atrás
Quando já aporrinhado clamava algum tipo de paz.

Ofuscado e fiel concluiu
Suas tristezas a ruína acolherá
Nela há de encontrar beleza e serenidade
Ultimadas numa cama branca e asseada.

Mas, seus olhos ainda infantis
Não perderam o lacrimejar
O medo do medo o assaltou e fez-se fiel e parceiro
Um verdadeiro companheiro.

O que fez dele? O que fez por ele?
Respostas cruas vieram-lhe a mente
Junto com o medo, seu amigo alanhado,
A cabeça rodou e o mundo girou.

Ainda assim remoeu possibilidades
Prendeu-se a um antigo lugar
A corda invitando mais tempo
Algo a lhe acompanhar.

Golpeado, o chão novamente fitou
Pingos ensangüentados escorreram
Pelas pernas magras e trêmulas
Ardilosamente acanhado desmoronou.

Resolveu pedir ajuda, gritou por socorro
Todavia, não havia mais ninguém, lembram-se?
Partiram em seus barcos azuis
Folgazões navegando mares e marés hostis.

Agora mais pobre, caluniado e doente
Tornou-se transparente, quase invisível
Seu rosto deslembrado para trás ficou
Nenhuma bóia a esse homem sobejou.

Rastejante encontrou o trecho indicado
Caminho confuso, percurso bifurcado
Achacado não reconheceu o passado
Seu coração soa em vão, grita inutilizado.

Restaram-lhe algumas manchas escuras no peito
Borbotando um liquido morno e avermelhado
Faz-se casto, puro e enlouquecido
Enfim, seu lugar encontrado e merecido.

Um punhal de osso dourado no peito fincou
Pelo pai, quando vivo, a ele doado
Ostentou, dias ao vento, ali, bem alojado.

Nuvens claras teimam e figuraram pelo ar
As janelas estão semi-abertas e as portas encostadas
Porém, seus olhos acuados
Dificultam reparar, desviam o admirar.

Igrejas, prédios, campos de futebol
Fez-se puro silêncio.
A pouca esperança atrás descartada
Carente se esgotou e com o punhal de osso dourado findou.

Escreve emaranhado, o estômago vazio
Pensa numa prece, oração
Ou num trecho de alguma canção
Esqueceu-as; o corpo já arrebata o frio.

Seu coração opaco escora a descobrir
O que exclamou e perpetuou nunca existir
Exausto conclui que se enroscou por completo
Nos cadarços de seu tênis amarelo e indiscreto.

Restaram-lhe alguns pensamentos
Bem sabe que água não entornará
O corpo miúdo e desprovido
Não incluirá como se afogar.

Casualmente avista sua pretendente
Uma fogueira bela e candente
A ela esse homem pertence
Alquila seu braço e ruma um caminho diferente.

Terras áridas visitarão
Por nada esperam, bem sabem, nada terão
A companheira o informa:
- A água doce o mar sugou e graceja sem perdão.

A partida principiou, logo há de cessar
Aqueceu-se por completo no fogaréu
Nenhuma alma a contemplá-lo lá do céu.

Dedico esse poema à amiga Gilmara.

7 comentários:

Rosa costa disse...

Neste momento plagiando o velho Platão,eu digo é impossível construir
um mundo de beleza,sem os poetas,para filosofar é necessário poetar,os governantes que não sabem poetar não sabem governar, e para ser profeta antes ter que ser poeta.Doi sentir antes, durante e depois,tudo isto é pra dizer que é muito lindo...ainda
estou me deliciando. Arrebente conterrânea.Rosa de Luxemburgo

Unknown disse...

Oi amiga, estou me sentindo assim como esse poema, estou com problema de depressão muito sério, quase nem saio da cama.Tenho problema com depressão já faz tempo e agora estou pior pois meu marido me deixou alegando que não me ama mais e isso está me matando. Obrigada pela homenagem é bom ter amigos como você. Bj

Ana Gill disse...

Gilmara, envio-te um email falando sobre isso.

bj

da amiga

gill

Unknown disse...

ótimo, como td que já tenho lido escrito por vc., penetra lá no fundo d1 alma adorei bj

Chico Bigotto disse...

Chico Bigotto
lindo seu poema...algo épico sobre a dor de todos nós. do mundo
contineu produzindo coisas assim tão belas
beijos

Escritora Tânia Barros disse...

POetisa, grande poetisa... talvez meu lapso em não pairar por aqui estes dias tenha sido mesmo intuição, pois quando a leio (sua obra) não me permito uma fuga de ler por ler. Seu poema narra tanta vida, dor, como se guerreiros sangrados, como se um Quixote nos afrontasse a alma alardeada por tanta riquiza vocabular e produndeza.

Beijos, e saúde minha querida para continuar assim, muito firme em seus propósitos por um país melhor, cujos filhos possam desfrutar do saber, da alta tecnologia desta arte que a literaatura feita por pessoas como vc.

Tânia (de boca aberta e queixo caído)

Unknown disse...

Tia,

Cada dia me supreendo mais com vc...

Te Amo!

Fabi