Palavras, poesias, poemas, versos, sonetos, estrofes, contos, crônicas, pensamentos, devaneios...
O caminho...
Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.
Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.
Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade
Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.
Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.
Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.
É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.
Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.
Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.
É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.
Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.
Humana sou.
domingo, 20 de janeiro de 2008
Choro em vão do meu coração: O pedido que não saiu - Para ti Chamusca
Tive vontade de implorar, não vá, fique, por favor, aqui ao meu lado.
Queria te pedir pra me tirar desse casulo, desse quarto, desse canto onde me estabeleci e passo a maior parte dos meus dias refletindo sem comer, sem dormir, sem saber nada de mim.
Queria que me fizesse um pouco feliz.Sabe felicidade momentânea, espontânea, rica?
Preciso dela. Não há espaço para negligenciá-la agora. Faz-se tarde.
A busca tornou-se exaustiva, estou cansada.
Ao perceber que irias, mesmo tendo alegado chuva, tempestade, vendaval e nada o deteria, roguei a Cristo, roguei à toa.
Fica, por Deus, fica aqui. Preciso de um deus diante de mim.
Que te custa?
Cuida da pipoca, cuido do filme. São cento e oitenta títulos. Decerto ainda não viu algum.
Depois podemos ler abraçados, lado a lado, no tapete encarnado da sala, enquanto nossas bocas se procuram sedentas. Enquanto meus pés resvalam nos teus.
Música? Há de fazer-se ouvir, sem pressa, sem medo, sem receio, sem interferências seguindo a cumplicidade do respeito individual e glorioso do que cada um aprecia.
Adquiri o hábito de interessar-me por aqueles que estão sempre em fuga.
Seja fuga de si que acaba refletindo em mim.
Não me faça pensar que não há saída.
Os meninos? Ah os meninos. Não corres risco algum.
Não me faça crer que nosso porão é oco.
Não me faça acreditar que não valeu a pena, não me faça rastejar, não me maltrates com tua indiferença.
“Deixo-te antes para que não me deixes depois. Sofro menos. Essa é a dor de quem não encara uma partida”.
Tu agüentas, bem sei. Quantas vezes me pus longe e ficastes a esperar sem espanto, sem temores, sem receio.
Nenhuma dúvida a torturar teus pensamentos ingênuos.
A dor do esquecido consome também quem a esqueceu.
A dor do esquecido dilui aquele que a viveu.
A dor do esquecido, meu amor, nesse momento, sou eu.
Assusta-me a rotina do dia-a-dia, logo eu, tão desvinculada desses princípios, tão dona do meu nariz, tão senhora das minhas horas.
Tão desprendida. Mas, sinto, não há como mudar. Não mais agora.
Não vejo como retroceder. Fiz-me assim.
Mas, pensa comigo: Assim me encontrou e quis, assim me conquistou. Assim me perpetuou na tua carne.
Sou como gostas e precisa. Encaixo-me nas tuas medidas.
Sigo amando aquilo que revelastes pra mim...
Confessado,
No filtro amarelo do cigarro Hollywood, quando não Marlboro.
Nu,
Perante a Portela – Enredo de samba – Puro carnaval – Eu a rir de ti.
Cruel,
Perante meus desejos incertos, insaciáveis, translúcidos.
Obcecado,
Nas suas viagens junks tão esporádicas quanto profundas. Obcecado pela minha inteligência. Pelo nosso complemento, pelo nosso composto, pela tequila varando madrugada.
Libertino,
Na medida daquilo que anseio e preciso.
Maltrapilho,
Vestido com um sobretudo rasgado, furtado? Quê importa?
E, maltratado pela violência do perdão que não veio.
Tua presença faz-se mais necessária do que tudo, agora.
Tua presença transforma-se em luz, não te olvida.
Vê? Chega a iluminar aquela casinha, mais precisamente o quarto dos fundos, detrás dos morros esverdeados.Por cima dos fios dos postes perdidos.
Tua ausência é você atravessado, sobreposto a mim.
Tua presença é poder revelar, não esconder a minha existência.
E fazer com que tu me enxergues.
Estou aqui, olha, sou eu, anunciando-me pra ti.
O que fiz para merecer tal sentença?
Se eu fosse diferente tu não me quererias.
Se eu fosse diferente jamais despertaria tua curiosidade ou interesse.
Se eu fosse diferente teu amor não me abarcaria.
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