O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Coita




Eis aqui mais uma cria
Feita por completo de pedra fria

Mista à mãe e à areia fina
Aceita-a, afinal, ainda é tua

Mesmo tendo ela
Tornado-se ao longo desses anos
Uma fina e preciosa ruína

Eis aqui mais uma menina
A sonhar pelas tardes - sempre de olhos abertos -
Com rapazes e também com meninas

Os rapazes ela se põe somente a observar
Quanto às meninas na face está
À elas profundo prezar

Eis aqui mais uma mulher
A esperar um motivo
A esperar que algo diferente aconteça
Deseja celebrar
Sua bebida?
Sidra Cereser

Embriagada está
Embriagada estará

Eis aqui mais um ser dito humano
Sem saber o que poderia desejar
Desconhece mesmo qualquer querer

O preço do renegado é caro
Paga de dia com o dinheiro arrecadado
Pelo ofício ao seu corpo, à noite, atado

Eis aqui mais uma descrente
Na vida sequer conquistou
Uma pitada de fé
Até agora não conseguiu reter
O que dizem depois da morte o que é vir a ser

Sem alternativas
Trata de se enganar
Para um pouco mais
A vida reles deixar
Um pouco mais nela essa vida torpe ficar

Eis aqui mais um dia
Eis aqui mais uma mísera história
De uma mulher colocada
Do lado de fora
E lá largada a ausência de vitória - piada.




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