O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Remate























Ao ouvir o som da campainha corri e abri a porta da sala. Para minha surpresa era o carteiro. Pediu que eu assinasse um protocolo e entregou-me um telegrama.

Ao ver que era para mim fiquei surpresa. - Uai, carta para mim?

Sabedora do quanto sou afoita e desajeitada com as coisas que passam pelas minhas mãos, resolvi me sentar antes de abrir o envelope. Sentadinha, destaquei as laterais com bastante cuidado. Não queria correr o risco de rasgar a correspondência.

Passei os olhos pelas palavras que ali foram fincadas sem um pingo, sequer, de piedade. Maldita seja essa palavra.

Fechei os olhos.

Abri os olhos.

Li novamente.

Dorido crer no que meus olhos percorreriam.

Havia ali um texto sucinto, objetivo e bastante claro que dizia assim:

- Parti. De vez. Nunca mais voltarei. Trate de me esquecer. Adeus.

Ocorreu-me que o 'adeus' talvez tivesse sido escrito propositadamente, como desfecho, para, quem sabe, talvez, suavizar um pouco aquela determinação.

Encostei o telegrama no peito e agarrei-me à uma almofada. Lentamente fui escorregando o corpo pelo sofá até estar completamente estirada e sentindo-me um pouquinho mais protegida pelo calor do veludo do assento.

Depois disso chorei. Chorei minha primeira ilusão de amor na vida.

Chorei.

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