O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Desastre


















Ainda há algo a ser dito.
Nenhum dos dois sabe ao certo o que é.
Ele está meio debilitado de tanto se questionar.
Ela se encontra nervosa por ter esperado tempo demais para tomar uma decisão.
Na cabeça os dois ruminam formas e formas de colocarem para fora o que está parado em suas gargantas.
Talvez, sei lá, falar da confusão que plantaram durante o tempo em que se amaram.
Talvez, sei lá, falar do desejo que ainda insiste em confiscar seus corpos.
Talvez, sei lá, falar dos sonhos que sonharam juntos.
Pena. Estão alojados no cárcere da falta de palavras, ou melhor, da coragem de algo dizer.
Acredito que enquanto não se apropriarem novamente de seus corações – puros - infaustos nada ensejarão.
Os dois sabem como se resumir o momento. Para isso basta apenas uma pequena palavra: - Fim. Expurgado. Definitivo.
De repente, ele, com a cabeça abaixada, emite um som frouxo:
- Julgamos.
Logo ela sussurra:
- Reconhecemos.
Baixinho ele continua:
- Fomos incivis.
Ela:
- Merecemos.
Depois dessa palavra volta-se para a cama e pega a maleta vermelha que está sob ela.
- Vou agora.
Sai pela porta da sala.
Não lhe dá a oportunidade de dizer-lhe adeus.
O adeus fica na mente. O adeus fica parado na garganta.
Ela se foi.
Enfim, o fim.

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