O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Peso adocicado - Para ti "iSA bELA"



Estranha qualquer tentativa de elucidar
Estrangeira é a forma desse ensaio
Vê-se imperiosa rápido articular
Não agüenta mais - tão Bela - calar

Há um peso adocicado em suas costas
Não arreda pé posse ou lugar
Atende essa garota orgulhosa
Impedindo-a de notar como o largar

Há um peso adocicado em suas costas
Frente a algo quase não esquecido
Intrusa prerrogativa perdura do passado
Remoendo tantos anos desajustados

É um peso estranho de explicar
É um peso estranho de sentir
Ela o reconhece como um peso adocicado
Sua grande dificuldade: Deixá-lo de lado

Peregrina caminha por sua extensa alameda
Avança a passos longos e compridos
Deleita-se no gosto desgastado - seu paladar
Não descobriu, todavia, como agir como evitar

Procura formas e formas de expulsá-lo
Vê-se arranhando os próprios calcanhares
Equilibrada em suas sandálias de salto alto
Alcança os mínimos e maiores lugares

É o peso adocicado das suas costas
Suplicando, ambicionando continuar
Pela manhã estrondosamente, na sua frente, gritou:
- Irei embora somente à minha hora!

Largou as sandálias e agora pisa na areia molhada
Agatanhou as solas dos pés cândidos delicados
Todavia, não sentiu dor - há até um pequeno rumor
“O peso adocicado tem lá um forasteiro sabor”

Dissimulado, esse danado, não disfarça mais
Intrometido, o velado, nem pede licença
Indiscreto, tal safado, chega a qualquer hora
Arredio desvairado louco a namora

Tornou-se deveras mal-educado
Mantém-se principiando nada gentil
Tampouco guardou o que lhe era afável
Maldição perdeu o doce ar da dor pueril

Cansada bem mais que enamorada
Decidiu resoluta removê-lo – ainda paira certo temor
Precipício abaixo há de arremessá-lo
Aspira vê-lo só, bem longe, devastado

Agarra-o, maneja-o com destreza
Despenhadeiro abaixo o impele – pura certeza
Com a força de mulher madura a execrar
Deseja sua alegre tristeza – por fim - serenar

Nesse momento Isa pisa na calçada
Retrai-se um pouco meio desamparada
Ignora, não pensa, segue abençoada
O peso adocicado transformou-se em nada

Agora persegue acompanhada seu caminho
Apaziguada - atenta - menos desalinho
Forte e serenizada
Tranqüila mais adocicada

Enxerga adiante o mundo que se abre
Abraça-o com energia abstrata
Pede exílio para ela mais o pequenino
Tão senhora, tão exata
Dá partida sossegada.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

"Apagamento II" - Para a amiga Tany por gill benício

Desejar sem aspirar não discorrer
Como carentes indigentes e enamorados
Buscando desesperados somente sobreviver
Por palavras digeridas mastigadas e corroídas

Ler? Não ler nada - sumir
Escrever? Menos ainda - apagar
Cada uma com sua alma salgada
Condenadas ao sol que não despontará

Desatar as cortinas descortinar
Doar sangue - doar vento - ventar
Na ânsia de simplesmente reter os sentidos
Existir, para quê?

Sumir não divagar
Não abrandar menos afastar
Não iludir-se - desesperançar
Dobrar o relógio - despertar

Maldito encanto nosso - doce retiro
Rarefeito puro espanto
Onde me abrigo noite adentro dia afora
Sem pensar na maldita hora

Apavoras-te?
Eu também
Sozinha, cá sem ninguém
Reduzida a nada
Um pouco mais, menos encantada

Saboreio o sal do teu ar
Sou a voz do mundo a te enfrentar
Açoite sólido açoite lírico
Ecoando divinamente devagar
Pairando de qualquer forma
Pairando em qualquer lugar

gill benício

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Perdão para o pai



Não penso mais num ser humano errando
Por intento ou desejo
Ninguém ingressa a errar por aspiração
Seria falta de ciência ou capricho vão.

Faz-se tudo no intuito de acertar
Todavia, o desacerto chega
Sem aviso prévio
Ninguém a comunicar só desarranjar

Dói ter ciência da ausência do nome do teu pai
Na tua certidão de nascimento
O quão difícil deve ter sido
E ainda persiste encoberto o enigma.

Por isso não te desgosto mais
As mágoas se quebraram
De tempos pra cá, posso te asseverar
Com lisura e integridade no coração

Que as angústias espancaram
Nos muros e paredes da minha solidão

Compreendi,
Tomei aviso,
Senti:

Foi o que podias
Foi o que sabias
Foi o vivenciado por ti
Foi o atingido com o pai dos outros

É sabido:

Altercarmo-nos por alguns trocados
O tempo foi incumbido tornando tudo miúdo
Porque não dizer sagaz
Ao mirarmos nossos valiosos filhos de paz.

Releva o padecimento
Perdoa a humilhação
Se puder, esqueça as ofensas
E anistia o quebranto causado.

Do mesmo modo compete a mim:
Fui o sugestionado o recomendado
Porque não dizer o mais cômodo ou indicado
Menos sofisticado o mais iludido lado

Tão arredia em meu casco quebrado
Sem reza nem bênção
Sem graça ou consternação
Fui só mais um alguém
Nós - dois seres miúdos -
Eu e você também.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Por fim, o coração abrandou a razão

'O coração é mais sábio do que a razão...'

Senti aversão ao perceber minha razão
Perturbando, fria e seca,meu coração.
Lembrei-me da história da mulher do pintor
Aquele pintor da arte e do amor,
Ela, um dia sentada na janela, às costas paro o céu,
Mirou-me indagando:

- “Você sabe o que é o amor?
O verdadeiro amor?
Você já amou tanto que se condenaria
À eternidade no inferno?
Perdoa, já vou...".

Não tive réplica
Quase não atingi a pergunta
Amar pra mim, até então, era unicamente amar
Nunca embalara amor às provas mistas da dor.

Conto-te agora:
Não sabia amar até encontrá-lo
Nunca sentira qualquer pesar
Nem lamentara nada, face seca e calada.

Nesse momento chora a alma dos amargurados
Arde o coração dos vivos angustiados
Sabedores da dor da razão
E conhecedores por viverem uma grande paixão.

Quanto a mim, perdi minhas referências
Afastei-me do meio-fio e da ilusão
Inundou-se também minha percepção
Antes, o Amor denominado como certo
Fui obrigada a abortar e
Reconhecer seus manifestos.

Recordo, amei-te mais ainda
Ao ouvir: - Espera, confia, imploro,
Repara, nosso tempo não se perdeu.
Desejo ansioso um filho teu.

Apoquentada, perguntei a meu modo, insegura e rígida:
- Quanto tempo ei de esperar
Acolheremos e impeliremos
Todos os desgostos judiciosos por vir?
A resposta não me apaziguou, fingi.

Bem sei que mentiras, no passado, 'por amor'
Abominei-te severamente impiedosa e cruel
- Inconveniente, covarde e prosaico
Tu, rendido a um preço tão baixo.

Algumas situações a sorte não adota
Menos ainda permite ou consente
Felicidade só conhece amor vindo da pura alma
Somente assim, ao saber, distingui.

Volto a minha questão peculiar
O que fazer do presente
Nossa história, por pouco, não se foi
Largo-me nesse momento, entrego-me a ti
Quase depois da minha hora.

Seguidamente falo-te tensa
Perdoa, bens sabes que não me contenho,
- Amado, receio ir além,
Postar-me, perder-me, aquém.

Essa maldita e perversa insensatez
Talvez me leve à procura – não! Outra vez -
D’um outro alguém. Ninguém?

Temo não suportar o tempo necessitado
Alarmo não ter meus próprios aparatos
Sou pobre, mistura do aqui e agora ,
Mas reponho-me circunda:
- Deixa-me ir embora?

Leva contigo a ciência de ter golpeado bem
Conquistastes teu desejoso bem
Obteve êxito, fez-se o meu homem precioso .

Minha alma arde, alardeia e entoa
Roga calma, paciência a minha pessoa
Meu corpo contrai-se, é puro fogo
Enquanto meus seios nus aspiram tua boca
Vem e apossa-te desse teu ser asilado.

Outra história vou te contar:
Não rias, envergonhar-me-ia
O beijo dito 'roubado'
A ti foi astuciosamente doado!

Não, não amolgarei ou golpearei
Nosso retraído retiro
Nossa luz não escurecerá
Abandonando nosso canto,
Tomando outra direção, tolice, em vão.

Acatada agora minha tola e ingênua alma
Despreza meu acanhado e minúsculo momento
Ausentar-me solidificar-me-ia uma farsa - longe de ti –
Inadequadamente engenhosa.

Quanto à despedida faremos depois
Revogaremos, um ou outro, o destino apontará
É sabido: Jamais estaremos os dois.

Reconhecido o tempo perdido
Cruzadas as horas perfiladas
Forço a razão a acudir-me, de novo,
Nega-se impiedosa
Tomará novo rumo pelas auroras.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Temeroso discorrer tua ausência

Queixo em demasia tuas lacunas
Não concebo indispor tua presença
Não cultivarei somente tuas sobras
No fundo de uma gaveta por amor esqueça

Tenho medo tenho pressa
Sou ansiosa inquieta
Admitias bem antes
Agora aceitas muito mais

Há um temor grande não impetrar
Lidar com a situação hesitar
Eis uma nova etapa
É aqui que dispõe-se outra porta na vida
Vivida por nós - um e dois – a sós

Apreendo-me intimidada
Quando se traz à baila o tempo imperioso
O que perpetrarei em minha temporada
Algo a improvisar nas horas vagas

Nesse momento meu amor
Meu desejo é encontrar-me contigo
Nesse momento meu querido
Agonia-me cobiçá-lo sem senti-lo

Há tempos não vivia algo similar
Um alguém tão próximo a mim
Homem cuidadoso que és a me acalmar
Atinado bem como deveras apaixonado

Há estações vago atravessadamente noites escuras
Trafegando madrugadas embrenhadas
Buscando o porquê do antigo sofrimento
Esqueço

Agora se faz passado
Deixado de lado alongado
Carecidamente finado acurado
Mereço

Peço, não me deixes
Peço, monopolizes a expiação
Peço que alcances a situação
De estar unicamente meio com medo

Trafico: Eu a escrever alucinada
Com a cara quase que lavada
Você a podar plantas a tirar ervas
Fazendo arroz e improvisando a salada

A história acontecerá de forma pacata
Essa que agora teima e contra-ataca
Discrepando do vivido e imaginado
Discordando do passado tão planejado

Queremo-nos um mais que o outro
Não há entusiasmos a aferir
Não há estaturas nem há peso
Menos ainda comedimentos
Há nessa era nossos desejos

Não se chora mais nem se lamenta
Eis meu amor à nossa frente
Um mundo acenando de cara pra gente

Eis meu amor na nossa frente
A vida ofertando-se acabrunhada
Eis meu amor na nossa cabeceira
Mais uma chance límpida transpirada

Faz-se agora imperioso vigiar
Ter acurado cultivar
Com amor amar
Com carinho afagar
Sem pudor descomposturar

Atravessei quase tudo atravanquei por quase todos
O que sinto não me é nada novo
Menos ainda trivial
O que dizer de abjeto ou senão banal

Vejo como raro assisto como belo
Vejo como puro percorro como deleitoso
Algo a viver tão único e tão apetitoso

Toma-me em teus braços
Acolhe-me e aperta-me
Amolga-me enfim
Teu amor a embaraçar em mim

Para perdurar meu querido
Abafa-me em tua astúcia
Em teus braços serenarei na fleuma
Em teus estreitos serei feliz
Viverei calma viverei plena.


Ferdinand by Victor Delacroix

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Vidas Sacadas

Conclui, a duras penas,
Talvez tardias
De que viver é somente ir levando
Seu pequenino dia-a-dia.

Não há de ter fé, menos ainda, esperança
Há de ser desprovido de quaisquer expectativas
Mesmo essas julgadas por vocês como nobres

Como se atrevem a discorrerem sobre nobreza
Diante de tanta miséria perante tanta penúria
Ocultando milhões e milhões de biografias?

Não consideram - faz-se evidente -
O outro a vocês não diz nada
Ou fingem bem, parabéns.

Saiba, disseram-me um dia,
Ser mais fácil ignorar
Sendo assim, senhoras e senhores, mascarados
Misto de regalos enojados
Não me digam nem me apontem
Quais regras devo seguir

Não as quero
Nem mesmo anseio ouvir
Devolvo-as, abraças e siga-as
Tampando o teu coração
Mas, o meu não.

Continuo seguindo minha direção
Nada modifico - vou levando -
Já que a vida
Não me cumprimenta mais, essa danada
Tornou-se mal educada
Também não respondo presença
À sua lista de chamada
Prefiro escarrar na sua cara

Não me perguntem
Não tenho respostas
Quais são os lados quais são as facetas
Oportunas por denominarmos de certas

Aproprio-me das minhas crostas
Lado esquerdo, lado direito enxotados
Pensando bem, até mesmo, mal arranjado

Não me importo
Informo-lhe um pouco apressadamente
Que também não te suporto

Quanto ao que denominas
Tristezas, desgraças e infelicidades
Procure-as nas tendas
Essas que são esticadas
Sob as pontes edificadas
Agora, peço licença
Pra vomitar na tua cara

Queres muito, bem sei, teu ego anseia
Minhas súplicas, minhas solicitações, esqueça
Penando bem, sei que no fundo,
Isso até te alivia, diminui a tua culpa, tardia

Não rogo nada
Serei rápida, darei partida
Não arrazoarei da tua
Menos ainda de outras vidas
Deixadas por ti - esquecidas -

Creia, tenha uma única certeza,
Podes me titular
De louca e completamente desvairada

Enquanto a hora
Não se apresenta
Fumo meus cigarros
São vários, são profusos
Abasteço meus pulmões
Ei-los repletos da mais pura fumaça

Num intento temperamental, nefário, aturdido
Em percorrer o caminho das moradias
Daqueles denominados simples migalhas

Dá-se o encontro
Eis meu canto, talvez, um pouco fingido,
Não me bestifique
Nem me trates feito tola
Não me engano com a tua pessoa
Nem me Iludo com a tua fala

Todos os refúgios apontam-me ninharias
Tuas e também minhas
Então, permito somente à essa teimosa
Continuar buscando
Os leitos de morte dos inúmeros
Dos sofridos e apelidados de ninguém.

Esses mesmos que não têm casa
Não têm comida
O que dizer, então,
De esperança ou expectativa?

Pra terminar, não tente
Nem se atreva, tampouco ouse me doutrinar
Seu maldito hipócrita e fingido

Por isso, todas as vezes que me ofereces
Um copo d’água, bebo-a
E vomito um misto de sangue
No chão da tua abastecida casa

Quanto à minha boca
Limpo-a com ternura – um tanto brava -
Não sou pura menos ainda imaculada
Mas grito, berro e exclamo
Por essas vidas roubadas
Desses cuja a história insana
Não doou nem doa nada.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Sobras

Tens aqui as sobras de um alvo antigo e aspirado
Tens aqui as sobras do aglomerado e vinculado
Tens aqui as sobras do glorificado e brioso e enfatizado
Tens aqui a porção do que permaneceu abotoado em tua goela
Recheando meus casebres e recheando teus casarões
Vasculhando grandes moscas e vasculhando pequenas mansões
Abarrotando latas
Abarrotando latões
Vomitando na cegueira dos que já não vêm quase nada – dói dizer -
Vês aqui o que deixou calado
A ferro e fogo reprimidos
Fechados pela tua existência
Escorraçados e banidos
Parvos e acabrunhados
Tão insignificante, a pó, agora amortizado.

És:

Fogueira na água;
Sombra na pedra e
Sabonete no corpo denso

E, se queres, saber
Tens também
Um pedaço do chão de alguém.

Essa que te fala
Engradada quase calada
Petrificada por pouco não amarrada
Pouco amada meio assombrada
Desaventurada na vida não foi largada
Em pratos desnuda e abençoada.

Eu mesma
Lambendo teus pés
Lavando tuas feridas
Secando tua face e
Buscando teus lábios, ainda.

Teu Interesse Por Mim

Muitas Palavras Palavras Soltas
Nessas Águas Mornas Esfriadas
Molhadas Em Riachos Vazios
Palavras Ditas Palavras Enviesadas

Teu Interesse Por Mim
É Grosseiro Atrevido Obsceno
Teu interesse Por Mim
Fez-se Ínfimo Mesquinho Avarento

Teu Interesse Por Mim
Passa Batido Leva Porrada Sem Pena Sem Ninharia
Teu Interesse Por mim
Não Faz Sentido Algum A Mim

Teu Interesse Por Mim Nada Me Fala
Faz-se Eco No Hall Da Sala De Entrada
É Oração Friamente Entrecortada

Teu Interesse Por Mim Vem Como Bala Invadida
Desvio-a Nos Riachos Paralelos Inflamados
Submissas Acampadas Sem Sentido Desatinadas

Teu Interesse Por Mim
Pra Mim
É Instantâneo Mal Combalido
Perverso Prenúncio Desatento Combatido

Esqueça
Peço Não Te Atrevas
Risca
Rogo Não Te Submetas

Apenas Saia
Por Favor
Agora Talvez Por Amor
Vá Embora.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Pensamento: Asno

"E um dia, a pequena grande senhora daquele vilarejo, perdido ao longo das rodovias, olhou para o pequeno grande homem de sua vida e pensou: Deus meu, era tão inteligente e agora, assim, da noite para o dia, virou um asno. "

Sofrimento Avessado


Com gosto arranco minhas feridas
Boto fora minhas cascas
Boto fora tuas calças, compridas

Junto, segue envio essa capa
Tua tortura encobre os teus desejos
Esse é o teu piegas
Ou senão, maior medo

Ignoro
Faço vista grossa
Uso-a agora
Na tua hora

Minha rouca ou louca redenção
Submetida a tua insinuação
Persegue algo distante
Mediante a azáfama cobiçada - minha mão

Sei que não sou
Somente estou
Aceno
- Olá. Cheguei. Desculpem, já vou.

Não há o que contemporizar
O tempo deverá ajustar
Grande será a vida fortuita
Sei que não veio
Iludo-me de novo - Abençôo
Sei que não virá

De costas mando todo o mundo à merda
De frente, sou gente, mando a puta que ME pariu
De lado sou escrava morta a tesouradas
D’uma dor meramente amargada
Entre as portas abertas
Inabalavelmente escancaradas

Sigo assim
Não me recordo de ter sido feliz
‘Felicidade alimenta a ignorância da alma’
Não me apetece e na fleuma fujo
Vôo para bem longe

Minha couraça é uma fantasia blindada de papel crepom
A cabeça se debate contra os murros nas esquinas
Mesmo assim, meu estômago corrupto ainda assenta pó
Bem como, meu pulmão molhado tende a denunciar
Os maços e maços de cigarros fumados
Numa noite só

Meu cauto precário e raro
Feito de mineral esfumaçado
Leva as últimas lágrimas soltas
Não se ausentam, seguem sem fim
Dessa vez, não mais em mim

No final, penso,transformei-me num quase nada
Sou apenas mais uma fenda recortada
Talvez aquela dona meio embebedada
Pela vida, à ela, monopolizada

Porém, é na palma dessa mão
A estreita veia da minha canção
O que vem – se sim, se não

Sinto pena do tempo
Esse pobre coitado
A perseguir meus passos
Equivocados e desajustados

Reconheço, encontrei nas enxurradas
As pragas obscenas e mal lavadas
A escorrerem no meio fio uma erva danosa
D’entre um coração em pedaços - pena penosa

Enfim, dediquei-me a outro percurso
Sem saber qual foi, menos ainda, qual será
- Minha plena canção bucólica -
Meu acabrunhado e pequeno
Tão intrigado - quieto - lugar

Excluo-o, lembra-te bem, de qualquer passagem
Apresento-lhe meu mais novo recente limiar
Reconstruo quieta o passo - a - passo
Sou eu sim, assim e
Longe de ti hei de ficar.