Palavras, poesias, poemas, versos, sonetos, estrofes, contos, crônicas, pensamentos, devaneios...
O caminho...
Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.
Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.
Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade
Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.
Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.
Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.
É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.
Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.
Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.
É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.
Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.
Humana sou.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Suplicação
Repara nas minhas mãos
Sempre frias
A denunciarem
Os danos que me amortecem
Todos os dias.
Repara na minha solidão
Constatarás, assim, minha inaptidão
De não saber viver
Cercada pela grande multidão.
Sou crua
Sou pouco afável
Aos poucos vou morrendo
Com a falta que experimento
De afeição e amor.
Repara na minha solidão
Preciso de uma mão
Careço de amor
Oferta-me
Alivia, assim, a minha dor.
Repara em mim
Nos meus movimentos
Vês?
Não alento.
Com isso sofro
A dor dos que foram
De lado deixados
E, penosamente, vivem perturbados.
Repara nos meus olhos
A anunciarem minha melancolia
Repara:
Meu olhar denuncia
Quem eu sou
O que eu fui
E essa sobra tardia.
Repara na minha vida
Sabias que fui predestinada
A uma longa e isolada jornada?
Repara nas minhas tardes
Tão tristes
Tão vazias
Elas todas
Minhas crias.
Repara na solidão
Que enfrento sozinha
Abraçada a um não
Ofertado por mim
Ao meu acanhado coração.
Repara:
Não reconheço
Para mim todos os dias
São feitos de imperfeições.
Repara:
Disso favoreço-me
Da mesma dor
Da maioria dos mortais.
Porém, sejamos francos
Intimamente sabemos
Que somos todos iguais
Miseráveis e, em demasia, banais.
Sempre escondidos
Atrás d'uma pretensiosa máscara
Fingindo que somos
Humanos normais.
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