O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fim da linha



Sequei
Sucumbi
Imaginei um troféu
Desprezo e abandono recebi.

Para eles fracassei
Para mim fui muito além
Tudo à minha frente
Sempre cruzei
Tudo à minha frente
Bravamente enfrentei
Assim, cedo me acabei.

Nada restou
Nada - ninguém - 
Nada aqui
Nada além.

Na minha memória
Ficará para sempre
Uma bela história
Da qual eu somente
Guardarei eternamente.

Em contrapartida
Levarei pela vida
Um peso imenso
Herdei uma interrogação
Herdei a penitência mais poderosa
Herdei a penitência mais dolorosa
Herdei uma questão que não tem resposta.

Meus dias serão compostos
Sempre da mesma indagação
Porém, não, nunca, ninguém
Saberá revelar por que
De a mim ter sido lançado
Tão fadado maltratar.

Levarei para a eternidade
Esse poço de crueldade
Levarei para a eternidade
Esse poço de hostilidade.

Esse foi e será o preço
Que a mim foi cobrado
Essa foi e será a moeda conquistada
A qual alimento algum alcançará pagar.

Eis aqui meu prêmio
Eis aqui meu troféu
Deram-me por alguma razão
Qual?
Nem eu nem ninguém sabe não.

Então, nada mais a dizer
Somente no peito uma convicção a conter
Motivo, razão, merecimento, praga, sei lá
No ar a indagação permanecerá.

O troféu herdado me permitirá
Dia após dia
Sem pensar nem praguejar
De vez minha alma anular.

Dele farei o que conseguirei
Passarei, assim, a adormecer nas trevas
Passarei, assim, a alimentar-me só de pão
Por companheira terei a meu lado a escuridão
Será essa a arrancar-me os olhos
Será essa a tapar-me a boca
Será essa a afogar meu coração.

Quanto à alma já se foi
Desfeita está
Desfeita feito pó
Desfeita sem piedade
Desfeita indigna de dó.

Sequei
Sucumbi
Eles e eu nas entrelinhas
Tomamos a mesma decisão: - ‘Dela’ desistir.

Nada mais eu sou
Nada mais em mim restou
Respondo agora pelo nome de Ninguém
E vezes e vezes ao dia
Dou-me os parabéns
Por ter conquistado
E por fazer merecer
Em vida me por a morrer. 

Sequei.


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