O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

sábado, 26 de março de 2011

Mary Jane by Alanis Morissette (Linda canção).


http://www.youtube.com/watch?v=UTFgWLaBgRU&feature=channel_video_title


Mary Jane


What's the matter Mary Jane, you had a hard day
As you place the don't disturb sign on the door
You lost your place in line again, what a pity
You never seem to want to dance anymore


It'sa long way down
On this roller coaster
The last chance streetcar
Went off the track
And you're on it


I hear you're counting sheep again Mary Jane
What's the point of trying' to dream anymore
I hear you're losing weight again Mary Jane
Do you ever wonder who you're losing it for


Well it's full speed baby
In the wrong direction
There's a few more bruises
If that's the way
You insist on heading


Please be honest Mary Jane
Are you happy
Please don't censor your tears


You're the sweet crusader
And you're on your way
You're the last great innocent
And that's why I love you


So take this moment Mary Jane and be selfish
Worry not about the cars that go by
All that matters Mary Jane is your freedom
So keep warm my dear, keep dry


Tell me
Tell me
What's the matter Mary Jane


Mary Jane


O que há Mary Jane, teve um dia difícil?
Pois você pôs o sinal de "não perturbe" na porta
Perdeu o lugar na fila de novo, que pena
Você nunca mais pareceu querer dançar


É uma longa descida
Nesta montanha russa
O carrinho da última esperança
Saiu dos trilhos
E você está nele


Ouvi dizer que está contando carneirinhos novamente, Mary Jane
Qual a razão de estar tentando dormir?
Ouvi dizer que está perdendo peso de novo, Mary Jane
Já se perguntou para quem o está perdendo?


Você está na velocidade máxima, querida
E na direção errada
Há um pouco mais de mágoas
Se este é o caminho
Que você quer seguir


Por favor seja sincera Mary Jane
Você está feliz?
Por favor não censure suas lágrimas


Você é uma doce guerreira
E está em seu caminho
Você é a última grande inocente
E é por isso que eu te amo


Então aproveite este momento, Mary Jane, e seja mais egoísta
Não se preocupe com os carros que vão e vem
Tudo que importa, Mary Jane, é sua liberdade
Fique quente minha querida, fique seca


Me conte
Me conte
Qual o problema, Mary Jane?

Gill e sua eufórica ansiedade, associada à angústia, melancolia e um puta 'medão' abstrato:

Início do B.O.: 10:27 PM  - Término do B.O.: 00:20 AM

Gill até que enfim sai da frente do notebook, depois de ter ficado horas com a cara enfiada na telinha, e decide, claro que teve que tomar coragem antes de fazer a merda, ligar para seu filho mais velho João Gabriel - A primeira vítima - e soltar o medão que começou a gelar sua barriga: 

- Oi Filho....

- Oi mãe...

- Desculpa ligar essa hora pra te encher o saco...

- Imagina mãe, cê pode ligar a hora que quiser, cê nunca enche o saco... (Docinho).

Estamos falando de um fato que se passou agora há pouco, sexta-feira, lua cheia e o guri que depois do trampo foi pra uma festa na PUC/SP, com todo o direito que lhe é reservado, adquirido, permitido, e mais todos os 'idos' imagináveis.

- Então, filho, já vi mais de 36 milhões de sites e não achei nada. Claro que já bateu o medo, né?

- Calma mãe... (Docinho).

Um puta barulhão de fundo, o qual faz Gill, já meio surda do ouvido direito - verdade - 70 % da audição comprometida - quase não ouve nada de nada, mas, atordoada de medo soca o celular quase dentro da orelha... algo tem que ouvir pra barriga esquentar. - Mãe, olhei vários e encontrei alguns....

- Ah, filho, que bom... Ué será que tô ohando na porra errada?

- Mãe, fica tranquila. Amanhã te passo um email com todos os links... (Docinho).

- Passa mesmo filho? Senão cê sabe como a mãe é né? Maldição. A angústia e a bosta da ansiedade já estão me atacando... 

Coitado do guri - jovem, belo, saudável - ter que ouvir uma merda dessas numa sextona, numa festona, ao lado d'uma gatona, Luli, sua namorada.

- Passo sim, mãe... (Docinho).

- Então tá bom filho, vou dar uma pausa nisso e mexer nas minhas outras coisas.

- Mãe, te amo... (Docinho).

- Eu também. Um beijo e cuidado, heim? - Essa mãe por mais que tente não consegue deixar essa frase de lado.

- Tá bom mãe.

- Tchau.

- Tchau.

P.s.:1 "João Gabriel, desculpa aí tá, mas se eu não ligar pra você vou ligar pra quem? Nem zé mané tem". 

Essa foi a única merda que veio à cabeça de Gill depois que desligou o celular.

P.s.:2 Também ligou para Pedro Henrique que foi direto e reto: 

-  Mãe procura no Zukermann. Tô dirigindo. Beijo. Tchau.

E pronto. Desligou o telefone na cara da afoita. Esse guri é o caçula, entretanto, mais descolado, conhece bem como a mãe funciona. Toda vez que ela vira pra ele e diz que tá com um buraco na barriga ele lança: - É fome. Vamos pedir uma pizza!. E acabou. Já o pobre coitado do primogênito acredita que tem que carregar a senhora Gill nas costas enquanto ele é que deveria ser carregado, também nas costas, pela senhora Gill -  Cria vergonha mulher! 

Ah, deixa eu contar uma coisa pra vocês: Há alguns anos Pedro Henrique analisava a conta de telefone, sério, e de repente brada: - 19 reais numa ligação pra celular, número tal, de quem é? Gill, baixinho: - Minha. Ele: - Pra quem? Gill: - Pra Mirtis. Ele: - Porque? Gill: - Tava angustida, precisava falar. Ele: - Ué, nesse horário eu tava aqui, porque não falou comigo? Gill: - Emudeceu. Ficou quietinha. (Mirtis foi terapeuta de Gill por catorze anos...).

Outro P.s.: Número 3: Gill também tentou falar com o ex-marido, William. Esse não atendeu o celular. Também sabe bem a ex-mulher que tem. Essa ex, então, resolveu deixar uma mensagem. O recado ficou todo embasbacado, misturou imóvel com literatura, falou de Julio Cortazar e Emile Zola, perguntou do Gui (irmão dos filhos de Gill). Enfim, por todo o tempo em que as operadoras de telefonia disponibilizam para as pessoas se manifestarem quando não são atendidas - as operadoras sabem que todo mundo é angustiado, até que o tempo é razoável - Gill falou e falou. Deixou beijo pro ex. Deixou beijo pro Gui e berrou, sim, berrou: - Vê se atende essa porra desse celular e desligou. Não satisfeita ligou de novo: Caixa Postal. Miséria. A mulher, então, se mancou e deixou pra lá. Outra mensagem? Nem fudendo. - William filho da puta - pensou - Queria tanto conversar um pouquinho...

Ah, outro P.s.: Número 4: Gill também ligou para o pobre coitado de seu pai, Jarbas Tricola (São Paulino). Aqui a mulher foi mais comedida. Talvez, intentando evitar aborrecer aquele que lhe aguenta há quarenta e oito anos, vinte e seis dias, vinte e três horas e nove minutos: 

- Oi Pai, liguei só pra saber se você tá bem e pra dizer que te amo. Ah, também enviei um torpedo - A infeliz mandou o torpedo porque o pai não atendeu de primeira e ela em sua ansiedade já tascou um torpedo, claro - Manda um beijo pra mãe. Ah, vou colocar umas coisas no teu blog. - Assim mesmo: Só ela fala. Se liga e abre uma brecha pro pai abrir a boca - :

- Tá bom filha.

- Tchau.

- Tchau. O pai também te ama.

Dá pra acreditar gente? Difícil...

Boa noite, pessoal. Fiquem ao som, "again", de R. E. M. 

Night swimming (Mergulho noturno).

http://www.youtube.com/watch?v=Qx9br5ISRpo&feature=fvwrel

sexta-feira, 25 de março de 2011

Começou...

...Teu lugar o desespero adentrou
Tomou posse
Posse tomou.


Quem perdeu não fui eu, foi o amor
Que de ti bravamente se afastou
E, em seu lugar, o vazio deixou
Esse será aquele que pela vida te acompanhará.


Juntos seguirão, estradas cruzarão
Juntos também haverão 
De varrer querências e lamber chãos.  

Vai se fuder mulher




















Vai se fuder mulher, que tantos choras
Vai se fuder mulher, que tanto imploras
Vai se fuder mulher, que tantos rogas
Vai se fuder mulher, que tanta mágoa carregas
Vai se fuder mulher, que na própria dor te afogas.


Não conseguistes reparar?
Teus filhos, por amor a teu ser, 
Os dois, em conjunto, por crerem 
No direito justo de se viver
Rodopiaram e puseram o mundo aos teus pés.


Vai se fuder mulher
Aprenda com eles: O que é viver


Vai se fuder mulher 
Aprenda com eles: O que é se doar


Vai se fuder mulher
Desfrutes, finalmente, o melhor que puder
Do mundo que teu meninos puseram aos teus pés.


Vai se fuder mulher.

quinta-feira, 24 de março de 2011

R.E.M. - Losing My Religion



http://www.youtube.com/watch?v=L_XFMCgeI7c&feature=player_embedded

Losing My Religion


R.E.M.


Composição: Bill Berry / Peter Buck / Mike Mills / Michael Stipe


Oh, life is bigger
It's bigger than you
And you are not me
The lengths that I will go to
The distance in your eyes
Oh, no I've said too much
I set it up
That's me in the corner
That's me in the spot light
Losing my religion
Trying to keep up with you
And I don't know if I can do it
Oh no, I've said too much
I haven't said enough
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try
Every whisper
Of every waking hour
I'm choosing my confessions
Trying to keep an eye on you
Like a hurt, lost and blinded fool (Fool)
Oh, no I've said too much
I set it up
Consider this (2x)
The hint of the century
Consider this
The slip that brought me
To my knees failed
What if all these fantasies
Come flailing around
Now I've said too much
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try
But that was just a dream
That was just a dream
That's me in the corner
That's me in the spot light
Losing my religion
Trying to keep up with you
And I don't know if I can do it
Oh, no I've said too much
I haven't said enough
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try
But that was just a dream
Try, cry, why, try
That was just a dream
Just a dream, just a dream, dream


Perdendo Minha Religião


A vida é maior
É maior do que você
E você não sou eu
Os caminhos por onde irei
A distância em seus olhos
Oh, não, eu falei demais
Eu causei tudo isso


Aquele sou eu no canto
Aquele sou eu sob os holofotes
Perdendo minha religião
Tentando te acompanhar
E eu não sei se eu consigo fazer isso
Oh, não, eu falei demais
Eu não disse o suficiente


Eu pensei ter ouvido você rindo
Eu pensei ter ouvido você cantar
Eu pensei ter visto você tentar


Cada sussurro
De cada hora acordado
Estou escolhendo minhas confissões
Tentando ficar de olho em você
Como um tolo magoado, perdido e cego
Oh, não, eu falei demais
Eu causei tudo isso


Considere isto
A dica do século
Considere isto
O deslize que me deixou
De joelhos, fracassado
E se todas essas fantasias
Viessem nos rodear
Agora eu falei demais


Eu pensei ter ouvido você rindo
Eu pensei ter ouvido você cantar
Eu pensei ter visto você tentar


Mas foi apenas um sonho
Foi apenas um sonho


Aquele sou eu no canto
Aquele sou eu sob os holofotes
Perdendo minha religião
Tentando te acompanhar
E eu não sei se eu consigo fazer isso
Oh, não, eu falei demais
Eu não disse o suficiente


Eu pensei ter ouvido você rindo
Eu pensei ter ouvido você cantar
Eu pensei ter visto você tentar


Mas foi apenas um sonho
Tentar, chorar, por quê, tentar
Foi apenas um sonho
Apenas um sonho, apenas um sonho, sonho.

terça-feira, 22 de março de 2011

Reféns da hipocrisia






















Vivemos assim
Dia-a-dia a sobreviver,
Vivemos assim,
Fingindo alguém ser,
Vivemos assim,
Dia-a- dia a esperar que a morte
Venha nos acorrer.


Vivemos assim,
Não somos ninguém
Nem haveremos de ser
Humanos sequer parecemos
Humanos sequer, um dia, seremos.


Cegos, vivemos assim, a chorar
Essa vida não surpreendida
Não surpresa
Não,
Nem mesmo, 
Minutos vivida.


Cegos choramos
O dia em que, enfim, findará
Será ela, a senhora morte, a nos salvar
Quando vier um a um buscar 
Será ela, a senhora morte, a nos salvar
Quando vier um a um, de vez, arruinar. 

Meus meninos do coração...




















Sou assim louca por vocês e desvairada completamente por dentro de mim, eis vossa mãe, enfim.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Decepção: A primeira de muitas...




















E foi assim como estou te dizendo: Tive que usar óculos escuros no começo e de lá pra cá não os tiro de jeito algum. 


Essa foi minha primeira decepção na vida. 


Depois vieram outras, claro. 


Sabes tu  como me sinto ainda hoje?

Invisível. Totalmente transparente.

Melancolia retratada














Eis aí o retrato fiel da minha miserável melancolia.
Meu coração se fez água enquanto minha alma se despedaçava. Virei um 'isso'. 
Não tenho mais nada. 
Não tenho mais alma. 
Enfim, fez-se o fim. 
Acabou.
Para trás tudo ficou.

Isso, vai esperando...


... mas, saibas que se você é ruim eu posso ser bem pior.

Crueldade



Balança criança
Balança bastante
Balança agora
Balança sem pensar na demora 
Afinal, depois há de vir a hora
Na qual a ti ordenarão
Que daqui, sim, 
Desse canto
Desse lugar
Saias correndo
Jamais devagar
Saias correndo 
Não batas a porta
Mas, parta 
Parta já
Vá embora
Embora tu irás.


Balança criança
Balança bastante
Balança agora
Balança sem pensar na demora  
Afinal, depois há de vir para ti
Dias e dias
Afinal, depois há de vir para ti 
Horas e horas
Onde tu, sequer, por um único momento, 
De quaisquer sofrimentos deixarás de partilhar.


Tua vida, criança pequena, por completo, haverás de lastimar
Teu ser, criança pequena, por completo, haverás de lacrimar
Afinal, foi essa a oferta que recebestes 
E nela te enquadrastes 
E perante ela continuarás, durante tua existência, a se enquadrar.


Criança, da vida somente isso tu terás
Criança, da vida somente isso tu albergarás.


Balança criança
Balança bastante
Balança agora
Balança sem pensar na demora 
Enquanto isso eu continuarei parada aqui 
Nesse canto, nesse lugar
De ti escondida 
De mim bem protegida
Enquanto isso eu continuarei aqui
Nesse canto, nesse lugar
De ti escondida
De mim, por demais, protegida.


Foi aqui nesse lugar que há tempos estanquei
Será aqui nesse lugar que haverei de um dia findar
Resolvi
Resolvido está
Daqui não ouso sair
Daqui não ouso sequer pensar 
Em outro canto buscar para me abrigar 
Desse lugar não passa pela minha mente
Nem de longe um dia me afastar.


Foi aqui, nesse lugar, que encontrei um pouco de harmonia
Capaz de apaziguar os murmúrios da minha alma
Foi aqui, nesse lugar, que encontrei algo capaz de sublimar meus pensamentos
Também foi aqui, nesse lugar, que encontrei, algo que não sei ao certo como denominar, 
Sei apenas que aconteceu e conseguiu abafar minha agonia tão seca e tão fria.
Isso tudo ocorreu em momentos esmerados, pouco a pouco, momentos inesperados
Mas satisfez necessidades que habitavam meu ser
Conseguiu, assim, de mim subtrair um pouco do mal estar 
Esse que vive dentro de mim, latente,  percorrendo meu corpo dia após dia
Sem me permitir só ficar
Vive em mim 
Pela manhã
Pela tarde
E pela noite
Vive em mim
Frequente
Vive em mim 
Diariamente. 


Perdoa criança se me desviei de ti
Volto agora desejando ferrenhamente te suster
D'onde estou sentada consigo, por completo, enxegar-te
D'onde estou sentada, rente à essa muralha, consigo, por completo, observar-te 
Calada pairo
Calada permaneço
Acanhada teus gestos reparo 
Amedrontada teus movimentos acompanho 
E, por fim, alinho o que percebo de ti em meus pensamentos
Não movo um gesto em tua direção
Não sou capaz de nenhuma ação
Não sou capaz de qualquer reação
Diretiva alguma posso lhe oferecer
Diretivas nenhuma sei eu reconhecer
Delas nada consigo vislumbrar
Delas nada consigo eu fitar para entender. 


Infelizmente, não posso eu deixar de perceber
Uma tristeza branda a emanar, nesse momento, tua face rosa 
Repentinamente, paralelo a esse triste olhar
Avisto  num instante rápido 
Tua face reluzir 
Junto com essa breve luz
Esboças tu um meio riso.


Daqui, creio que por ti, repito teu gesto
Esboço também um riso lateral
Pois vi, vi sim em teus olhos negros 
Um fiasco de claridão 
Fazendo parecer que sonhastes algo bonito
Fazendo parecer que um sonho plantaram em teu coração
Mesmo sendo um brilho relampagueado
Revela, criança pequena, uma dose de alegria
Intrigada recorro ao motivo que possa ter te afetado
- Será que enquanto tu rodavas e rodavas 
Pensavas tu que alguém a tomara nos braços
E ao som de uma bela melodia 
Embalava teu corpo cansado
Fazendo tu saborear, pela primeira vez,
O doce prazer de ninada por alguém ser? 


Volto a mim
Eu, tão vil, continuo de ti a me esconder
Eu, tão vil, continuo de mim mais e mais a me afastar
Terei eu que ir até tu para dizer
Que não há espaço algum no meu ser
Que talvez pudesse tua candura acolher. 


Volto a mim
Eu, tão vil, fiz-me pobre, empobreci
Eu, tão vil, fiz-me podre, minha alma perdi
Eu, tão vil, fiz-me devassa, e meu coração longe lancei 
Meu coração, criança pequena, lancei todinho ao chão.


Só me resta agora por ti lamentar
Por quando o mundo tu adentrou 
Cruéis foram os que te receberam
Ao lhe ofertarem somente 
Os restos e as sobras fazendo de ti 
Já, um pequeno indigente para assim a  vida levar
Nada de pão
Nada de água
Nada de teto
Menos ainda amor e afeto.


Sozinha te deixaram no percurso que para ti arquitetaram
Sozinha te esqueceram na jornada que para ti foi ofertada
Não permitiram sequer que aprendestes uma prece
Não permitiram sequer que conhecestes uma oração
Para, ao menos, durante os momentos mais árduos da tua jornada
Pudesses com uma reza tua alma acalmar e tua estrada limpar. 


Sendo assim, recorro ao direito que me resta de imposição
Denomino ordinário esse alguém que ao mundo te trouxe nessas condições
Denomino ordinário esse alguém que para tu existir 
Apenas ofertou mendigar dia e noite, noite e dia, sem parar
Denomino ordinário esse senhor que pensa deter nas mãos o poder
De vidas e vidas arruinar sem nenhuma compaixão aos desgraçados apresentar.


Na minha memória guardarei secretamente, criança 
O pouco que de ti pude conhecer
Na minha memória guardarei secretamente, criança
O pouco que da tua existência consegui saber
Na minha memória guardarei secretamente, criança
O quão árduo é e continuará a ser
Tu no mundo a lutar fervorosamente para sobreviver
Quanto à tua existência assemelho a minha, criança
Fomos denominadas a saborear o desgosto que a vida pode doar
Fomos escolhidas a penar mágoas e dores sem sequer termos o direito dos olhos poder molhar. 


Insisto em te dizer
Continuarei eu a me refugiar
Continuarei eu a me esconder
Perdão, mas tudo que posso lhe propor
É que aprenda com isso e faça o mesmo
Somente assim teu eu em teu ser mais leve poderá soar.


Siga teu caminho e continue a ser somente a sombra
Não permita que a luz clareie tua imagem
Se isso por ventura ocorrer
Todos de ti mangarão 
Todos de ti se afastarão
Todos de ti haverão de lhe amaldiçoar
E desejar que conheças precocemente
O inferno para nele teu corpo queimar.


Perdão criança, não tenho nada belo a te dizer
Perdão criança, não posso ir em tua direção
Contrário fosse, arrastá-la iria pela mão
Contrário fosse, arrancá-la desse fétido lugar faria 
Entretanto, nada do que se supõe vinga agora
Entretanto, nada do que se supõe um dia haverá de vingar. 


Recorro agora ao lúdico e ponho-me a imaginar
Nós duas sentadas num lugar montanhoso
A acompanhar o sol se recolhendo
E a noite consigo trazendo
Estrelas e mais estrelas
Para que pudéssemos uma a uma contar.


Sinto, tudo isso é apenas um retrato 
Da minha mente, essa que vive a alucinar
Nada de nada haverá de acontecer
Tudo da mesma forma, igual, haverá de permanecer. 


Só me resta, então, pedir teu perdão
Por ser eu desprovida de bênção
Por ser eu desprovida de coração
E por carregar na pele os cortes
Desenhados pela minha solidão. 


Faz-se hora
Daqui preciso ir
Daqui preciso sair
Daqui vou-me embora
Daqui tenho, em verdade, é que fugir
Por completo me afastar
Tanto de ti quanto do teu lugar
Para finalizar
Se um dia tu resolver teu perdão a mim doar
Procure-me por aí, sugiro que vasculhe primeiro os becos
E ao me encontrar, peço por favor, que grites alto, bem alto
Para que eu possa além de ouvir também absorver
Que por ti perdoada fui 
Sendo assim haverei de diminuir
A culpa que carrego comigo e parece não ter fim.


Vem à minha cabeça uma interrogação:
- Serás tu a pessoa capaz de abrandar
Todo o mal que em mim existe
Todo o mal que em mim há?


...Reparastes, criança pequena,
Começamos por ti
E findamos em mim...






















segunda-feira, 14 de março de 2011

Piedade





















Busco um pouco de prazer
Recorro ao mundo marginal
Nele faço de conta que estanco minha dor
Nele faço de conta que minha mágoa já passou.


Piedade, "lord".
Piedade senhor.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Aniversário do meu filho Pedro Henrique, vinte anos.

























Hoje você faz vinte anos, Pedro
E eu não vou te dar um abraço, Pedro
Hoje você faz vinte anos, Pedro
E eu não vou te dar um abraço, Pedro.


Como é que eu vou seguir vivendo com isso, Pedro?
Como é que eu vou seguir vivendo com isso, Pedro?
Não tem como, não vai dar, Pedro
Não tem como isso minha alma suportar, Pedro.


Assim, metade de mim hoje morre, Pedro
Assim, metade de mim hoje eu enterro, Pedro
Assim, metade de mim hoje eu mando embora, Pedro
E deixo a outra metade, Pedro 
Essa que ficará e começa a partir de agora, Pedro
Essa que ficará e começa a partir de agora, Pedro
Somente seu choro você ouvirá, Pedro.


Há vinte anos quando eu te pari, Pedro
Chorei porque alegria como aquela desconhecia, Pedro
Você foi por mim tão acarinhado, Pedro
Você foi por mim tão ninado, Pedro
Você foi por mim tão abraçado, Pedro
Você foi por mim tão desejado, Pedro
Você foi por mim tão querido, Pedro
Você foi e continua sendo por mim tão amado, Pedro.


Você mamou tanto no meu peito, Pedro
Durante toda a licença maternidade, Pedro
De você eu não desgrudava, Pedro
Dia após dia éramos ali somente nós dois, Pedro
A atravessarmos as horas tão juntos e tão colados, Pedro.


Ficávamos nós dois lá na casa alugada do seu Francisco, Pedro 
Enquanto eu via filmes e filmes na TV, Pedro
Eu segurava você que sugava meu leite, Pedro 
Com os olhinhos que se fechavam e se abriam, Pedro
Bem rapidinho, sabe? Tu me enganavas, Pedro
Pois, eu nunca sabia direito quando você dormia, Pedro
E deixava, Pedro.


Não me preocupava com as horas, Pedro
Desencanada deixava o tempo seguir, Pedro
Ficava lá sentada naquele sofá tão desgastado, Pedro
Frente à àquela TV tão velha e antiga, Pedro
Mas, nada daquilo me incomodava, Pedro
Eu tinha você no meu colo, Pedro
Passavam-se e passavam-se as horas, Pedro
Passavam-se e passavam-se as horas, Pedro
E você comigo estava, Pedro.


Você no meu colo tão quietinho, Pedro 
Fui e sou tão feliz com você, Pedro 
Tenho tanto orgulho de ser sua mãe, Pedro
Sinto que fui abençoada, Pedro
Meu amor por você somente faz aumentar, Pedro
Não tem dimensão nem forma alguma de medir, Pedro.


Você foi por mim tão acarinhado, Pedro
Você foi por mim tão ninado, Pedro
Você foi por mim tão abraçado, Pedro
Você foi por mim tão desejado, Pedro
Você foi por mim tão querido, Pedro
Você foi e continua sendo por mim tão amado, Pedro.


E hoje você faz vinte anos, Pedro
E eu não vou te dar um abraço, Pedro
Hoje você faz vinte anos, Pedro
E eu não vou te dar um abraço, Pedro.


Como é que eu vou seguir vivendo com isso, Pedro?
Como é que eu vou seguir vivendo com isso, Pedro?
Não tem como, não vai dar, Pedro
Não tem como isso minha alma suportar, Pedro.


Assim, metade de mim hoje morre, Pedro
Assim, metade de mim hoje eu enterro, Pedro
Assim, metade de mim hoje eu mando embora, Pedro
E deixo a outra metade, Pedro 
Essa que ficará e começa a partir de agora, Pedro
Essa que ficará e começa a partir de agora, Pedro
Somente o choro você ouvirá, Pedro.


Parabéns, Pedro.
Pedro, eu te amo muito, Pedro. 


Mom.