Fiquei parada quase quarenta
minutos no último degrau da escada – no alto –
Bom, você sabe bem o que isso
significa: Eu poderia rolar degraus abaixo e ninguém correria para me segurar.
Mas, não sei como, mantive o
equilíbrio naquele salto esquizofrênico doze, naquele vestido florido pastel
que mais parecia a cortina da casa da minha bisa.
Eita vida besta.
Eita vida besta mesmo.
O que a gente não faz para ver um
idiota de novo, anos depois de ter tomado um fora na lata do? Yes: Idiota.
Acho que no fundo, no fundo eu só
queria mesmo era observar a Solange entrando toda pomposa, rodeando o? Idiota!
E, ali, na frente de todo mundo, descer a mão com os cinco dedos bem estendidos
na cara do? Idiota!
Eu queria mais era ouvir um puta
plaft!!!!!!!!!
Que plaft que nada.
Infeliz. Traiçoeira. Judas.
Rodopiou, rodopiou, tomou o copo
do? Idiota na mão, deu uns goles e meteu-lhe um beijo. Na b o c a...
O quê? Como assim? Sua Judas Iscariotes você não
prometeu que ia acabar com ele na frente de todos com traços de terrorismo
oculto, fantasmas disfarçados entre os convidados e você guiando a marcha da
pancadaria no? Idiota?
Prometi, mas não quero mais...
Ah, vontade de enfiar a mão na
cara da? Tonha.
Problema teu. Meu fora já tomei.
Espera que logo, logo ele tenha um vistoso para ti também.
E eis que ganha mais um
sobrenome: Tonha. Solange Tonha da Silveira Cruz.
Bonitinho. Merecido.
Descendo os degraus, segurando no
corrimão e rezando um pai nosso mental, para não cair, destilei:
Não ouse me telefonar, não ouse
me chamar na rua, não ouse, sequer pensar em mim.
Covarde.
Quem? Ela ou eu que no meu fora
fiquei feito um frango no cantinho calada, envergonhada, com um meio sorriso na
tentativa de disfarçar o que o? Idiota estava fazendo comigo. Na verdade,
estava mais era para galinha que teria o pescoço decepado.
Bom, chega. Tô fora. Vou sair
daqui AGORA.
Te vejo em casa Tonha.
Maldição... isso é demais...
Porquê Deus EU??? Essa Tonha além de tudo é minha irmã e vai levar o? Idiota
para dormir com ela, na cama dela, na nossa casa. Ah, não, não, sim.
Eu mereço.
Apresso o passo. Passo pela porta
principal quase correndo. De soslaio avisto um boteco aqui, outro ali, um
bordel disfarçado aqui, uma jogatina ali e decido bravamente, parar no boteco
cujo nome era ‘Merecedor’. PQP merecedor do quê?
Entro apressada e já vou
gritando: Por favor alguém tem alguém aí disposto a um rapto ou um sequestre
para me salvar?
Todos os olhos vermelhos de
cachaça se voltaram para mim.
Tá vendo doida? Encara.
Eu preciso que alguém me sequestre.
É, por favor, eu preciso que alguém faça isso por mim para me salvar de mim,
entende? (Só faltou morou?)
Olha, eu mesma pago o resgate quero
passar o resto da vida à base da síndrome de Estocolmo. De verdade.
Síndrome de Estocolmo.
Quem ali sabia o que era síndrome?
Quem??? E Estocolmo? Quem???
Cala.
Avanço nos passos e paro na
frente da porta encardida que dá para um bordel lá no fundo do Merecedor e vejo
um senhor com camisa de flanela em pleno verão carioca.
Penso comigo: É esse.
Por que esse? Ah, Idiota.
Senhor, é, sim, o senhor mesmo, por
favor, qual é o seu nome?
Juarez. Juarez Ricardo Diamantino.
Nomão né seu Juarez. Seu Juarez o senhor pode me sequestrar ou raptar, levar
para qualquer lugar que não seja por aqui?
Seu Juarez quase desceu o resto da pinga toda pela goela,
olhou nos meus olhos, puxou-me pelo braço e saímos do Merecedor.
Andamos duas quadras. Seu Juarez
mudo da silva. Eu falando até pelos cotovelos, joelhos e calcanhares... Seu
Juarez se o senhor quiser pode fechar minha boca com fica colante aí eu calo a
boca mesmo está? Tem problema não. Não quero lhe importunar.
E não é que de repente lembrei
da? Tonha. Do? Idiota e de? Mim e desabei no choro.
Graças ao altíssimo, que deve
estar em algum lugar, seu Juarez não deu um pio, só pediu baixinho para eu
chorar num tom abaixo daquele. Ah?
Tá bom, sim senhor.
Viva os homens braçais que não
aguentam ver mulher aos prantos, mas deixam elas prantearem e a única coisa que
pedem é que não pranteiem alto.
De repente ele me puxou pelo braço,
abriu a porta de uma Kombi, acho que branca, não tenho certeza, porque era de
noite, tinha ferrugem, estava encardida e estava toda
descascada do lado do
passageiro na parte de fora.
Em menos de dez minutos chegamos
ao seu muquifo. Home, lar, casa, quartinho, barraco, sei lá. O importante é que
agora o sequestro estava concretizado.
E não é que seu Juarez, honesto
pra caramba, disse logo que entramos que não queria resgate nenhum porque ele não
planejou sequestrar ninguém então eu que ficasse com meu dinheiro e também
ficasse quietinha porque o muquifo era, um tanto quanto, pequeno e ele não
gosta de barulheira.
Ué. Estava fazendo o quê no
Merecedor?
Não é da sua conta! Idiota.
Um dia, dois, três, uma semana,
um mês e já me reconheço bem instalada no muquifo.
Eita paz boa. Nem? Tonha.
Nem? Idiota.
Mas IDIOTA mesmo continuo sendo
eu que olho para o? Idiota e imagino a gente numa cama quentinha, quando quem
se aquece nele é a? Tonha.
Ah...
Eu vou é continuar aqui com seu
Juarez que deixa eu chorar baixinho, não manda eu lavar louça, faz miojo no
almoço e jantar, traz água gelada quando eu já estou em posição de repouso na
caminha de armar, é aquelas de arame puro, nem fala boa noite, olha para minha
cara e vê as lágrimas silenciosas, não faz ideia nem quer fazer do porquê de
tudo isso e, resumindo, seu Juarez não está nem aí para mim. Valeu seu
Juarez.
Brigadão. Brigadão mesmo.
2 comentários:
Ual... quero ler com mais calma, daqui a pouco!
Tânia, esse conto saiu em menos de 20 minutos. Estava em pane geral dentro de casa, liguei para dois amigos e pedi para me raptarem urgente. Como nem rapto, nem sequestro aconteceria, jamais, dois frouxos, sorry, sentei e pus-me a escrever.
Observe que tem alguns erros de pontuação, blá, blá, blá. Corrigirei.
Bjs e obrigada.
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