Por favor
Olhe para mim
Você consegue me enxergar?
Porque, então, ignora meus passos e apressa os seus?
Pensas que vou algo lhe roubar?
Não, não nasci ladrão
Nasci num local pobre
Nasci no sertão.
Sem água
Sem carne
Sem farinha
Sertão oco, sem coração.
Vim até aqui
Somente para te convidar
Venha comigo conhecer o sertão
Posso eu, sim, assegurar que, talvez, a partir de então,
Você não andará nas ruas com medo de gente que tem fome.
Quem sabe paire sobre sua consciência um determinado pesar
Quem sabe, até, possa você dividir sua ceia do almoço ou do jantar.
Faça algo, faça rápido, faça agora;
Crianças e crianças choram e choram;
Lá no meu sertão faminto;
Parecido com pau de madeira seca
Tem cor não,
Tem cheiro não,
Ih água cristalina então...
E na mesa dos maus nascidos
Nem farinha de mandioca aparece todo dia
Quero lhe pedir por favor moço doutor
Que leve uma panela como essa
Com farinha de mandioca, água e sal
Nós vamos é comer esse pirão.
Não, não refeição por lá é só uma vez por dia,
Quem sabe depois do senhor
Encontre eu por aí algum outro doutor.
Agora me responda com seu coração:
Como você pode acreditar que tem alguma razão
Essa miserável e injusta distribuição
Sequer chega no pão...
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