O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Conjuntura


















Vem, apressa-te
E abres logo aquela porta
Não fique aí
Mudo e prostrado
Desejando ferrenhamente
Que algo variado
Nessa fase tardia
Talvez, quem sabe, possa
Ainda algo trazer
E a ti surpreender.

Esqueça. Nada há mais nada
Nesse acanhado lugar
Deus, nem sequer restou ar
Para tu esmolar.

Há tempos bem sabias
Que tudo ia mal
Porém, como tu fingias
E de conta fazias
Que teus olhos nada viam.

Esperto durante um bom tempo
Deixastes perdurar
Atrás dos rabiscos de giz
Que tu mesmo riscaste
Naquela velha matriz
O amor que de modo tardio
Em tua acanhada vida
Finalmente morreu.

Não poderás mais negar
Repare, todos já sabem
Que foi dia-a-dia após
O amor que a ti cabia
- Aquele pobre coitado -
Por ti nunca regado
Num buraco bem cavado
Atrás do campo esverdeado
Para sempre emborcado
Dele tu nunca mais
Terás a oportunidade
De quem sabe um dia se empossar.

És ciente do rumo que tomastes
Pouco a pouco tu desenhaste
Em papel branco com carmim
Teu lúgubre fim.

Vem, desce logo esses degraus
Já te revelou valente
Quando finalmente te apossou
Do livre arbítrio
Ao decidir teu caminho
E sozinho prosseguir.

Quanto a ela
Não te preocupes
Ficará bem, ficará por aqui.

Por fim, parabenizo-o
Afinal, caminharás e caminharás
Para motivos encontrar
Formas de voltar a sorrir
E ser feliz, unicamente,
Através de ti.

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