O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ausência

Escrevo-lhes para pedir desculpas pela minha ausência. Encontro-me num momento de profunda tristeza e reclusão. Dizem que passa. É o que ouço. Honestamente, é o que ânsio que aconteça.

Um beijo a todos (as)

sábado, 10 de abril de 2010

Quem sabe


Quem sabe tu possas um dia
Saber como me transformei no que sou
Quem sabe tu possas um dia
Saber o que foi que me mudou
Quem sabe tu possas um dia
Saber o que em mim naufragou.

Por enquanto acredite
Sonhe somente com o que vê
Não desejo a você sofrimento
Ao contrário, desejo alegria.

É. Quem sabe tu possas um dia...

domingo, 4 de abril de 2010

by Joni Mitchell

Os Dois Lados, Agora

Cachos que deslizam dos cabelos dos anjos
E castelos de sorvete no ar
E canyons de penas em todo lugar
Eu olhava para as nuvens desse jeito...

Mas agora elas só bloqueiam o sol
Elas chovem e neva em todo mundo
Tantas coisas eu teria feito
Mas as nuvens estavam no meu caminho
Eu tenho visto os dois lados das nuvens agora

E cima e de baixo, e ainda de alguma forma
São as ilusões das nuvens que eu me recordo
Eu realmente não conheço bem as nuvens.

Luas, junhos e rodas gigantes
A súbita vontade de dançar que você sente
Como se os contos de fadas se tornassem reais
Eu olhava para o amor desse jeito.

Mas agora isso é só mais um show
Você os deixa rindo quando você parte
E se você se importa com isso, não deixem eles saberem
Não traia a você mesmo

Eu tenho visto os dois lados do amor agora
Do dar e do tomar, e ainda de alguma maneira
São as ilusões do amor que eu me recordo
Eu realmente não conheço bem o amor.

Lágrimas, medos e o sentimento de orgulho
Para dizer ?eu te amo? bem alto e claro.
Sonhos, planos e platéias de circos
Eu olhava para a vida desse jeito.

Mas agora velhos amigos estão agindo estranho
Eles mexem suas cabeças, eles dizem que eu mudei
Bem...algo está perdido, mas algo está ganho
Vivendo todos os dias.

Eu tenho visto os dois lados do amor agora
Do dar e do tomar, e ainda de alguma maneira
São as ilusões do amor que eu me recordo
Eu realmente não conheço bem o amor.
Eu tenho visto os dois lados da vida
Do ganhar e do perder, e ainda de alguma forma
São as ilusões da vida que eu me recordo
Eu realmente não conheço bem a vida.


Both Sides Now

Rows and flows of angel hair
And ice cream castles in the air
And feather canyons everywhere
I've looked at clouds that way

But now they only block the sun
They rain and snow on everyone
So many things I would have done
But clouds got in my way
I've looked at clouds from both sides now

From up and down, and still somehow
It's cloud illusions I recall
I really don't know clouds at all

Moons and Junes and Ferris wheels
The dizzy dancing way you feel
As ev'ry fairy tale comes real
I've looked at love that way

But now it's just another show
You leave 'em laughing when you go
And if you care, don't let them know
Don't give yourself away

I've looked at love from both sides now
From give and take, and still somehow
It's love's illusions I recall
I really don't know love at all

Tears and fears and feeling proud
To say "I love you" right out loud
Dreams and schemes and circus crowds
I've looked at life that way

But now old friends are acting strange
They shake their heads, they say I've changed
Well something's lost, but something's gained
In living every day

I've looked at life from both sides now
From win and lose and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all
I've looked at life from both sides now
From up and down, and still somehow
It's life's illusions I recall
I really don't know life at all

by Chico Buarque em Fazenda Modelo

"Era ASSIM : o que quiser que tenha, tinha.Tinha arrebol ? Rouxinol ? Luar do sertão, palmeira imperial, girassol, tinha.Também tinha temporal, barranco, às vezes lamaçal, o diabo.Depois bananeira, até cachoeira, mutuca, boto, urubu, horizonte, pedra, pau, trigo, joio, cactus, raios, estrela cadente, incandescências. Enfim."(Primeiro parágrafo, pg. 19).

by Fernando Pessoal

"Sê plural como o universo!"

by Rilke

"Basta sentir que se poderia viver sem escrever para já não se ter o direito de fazê-lo".

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Agarra tua oportunidade














Desafio-te a me quereres de verdade sem me conheceres na real profundidade.

Desafio-te a me desvendar como intimamente sou sem até agora ter percebido o tom castanho do meu olhar.

Desafio-te a me fazer revelar meus segredos mais ocultos sem sequer uma pergunta enunciar.

Desafio-te a explorar minhas mentiras mais extensas sem saber por onde começo quando minto.

Desafio-te a dominar minhas amarguras cruéis e frias sem se proteger com armaduras da idade medieval.

Desafio-te a quebrar o aço que contorna meu coração sem que para isso necessite passar três anos visitando um psiquiatra.

Desafio-te a me ninar quando souberes quem tu na tua casa abrigastes e pensa de forma confusa, embaralhada. Alguém que nunca tem uma ordem lógica dos pensamentos organizados na cabeça.

Desafio-te a me acalantar quando tomares conta da forma em que me perpetuei sabendo realmente quais são os meus desejos para o passar dos anos.

Desafio-te a me fazer te desejar sem em minha tocar.

Desafio-te a conquistar meu bem querer sem ter que me pedir para de ti gostar.

Desafio-te a me amar quando conseguires me revelar a ti e encarares de frente a pessoa que construí.

Desafio-te a para sempre me dispensar quando souberes legitimamente quem sou e como sou.

Desafio-te a me livrar dessa prisão assim que tu consigas enxergar meu coração.

E confio.

Confio que tu possas me odiar quando me desvelar assim o sofrimento poderá ser abatido.

Confio que tu possas me dar às costas e seguir na busca duma moça normal para se casar e ter filhos.

Confio que tu possas me perdoar quando souberes que não te amo que nunca te amei e que nunca vislumbrei um dia conseguir verdadeiramente te amar.

Informo-o que encontro-me cansada de tanto viver ao teu lado como sou e para ti teus olhos só alcançarem o ser que elegeu e imprimiu na tua vida desde que me conheceu.

Depois rogo que grites um pouco, afinal não foi pouco viver ao meu lado esse tempo todo.

Por fim, digo-te que sinto muito, mas nem tanto assim, pois agora serei quem um dia elegi.

by Ziraldo

"Dor quando dividida vira dor menos doída".

Absolvição


















Minhas costas estão geladas pelo vento forte que vem de trás. Minhas mãos estão amortecidas também pelo frio e minhas pernas tremem um pouco. Sinto um leve enjôo. Preciso vomitar. Viro para o lado e enfio o dedo na garganta enquanto boto para fora tudo que comi durante o dia. Credo. Que nojo.

Não sei o que fazer para por um fim na forma como somatizo as coisas e como resultado sofro com essas sensações desagradáveis.

Penso no tempo em que dirigia na Rodovia Rio Santos. Sentia ali uma preciosa liberdade. Sentia ali minha própria coragem.
.
Penso no tempo em que dirigia na Marginal Tietê. Entre os caminhões pesados.

Porém, não me lembro quando foi que comecei a temer no volante imaginando os caminhões me esmagando.

Tenho necessidade de companhia, entretanto afasto-me propositadamente das pessoas.

Quisera falar sobre tantas coisas, mas não permito que se aproximem de mim.

Quisera ser uma mulher descontraída.

Será que há no mundo pessoas descontraídas? Será que é possível ser descontraído?

Disseram-me que não. Disseram-me que as pessoas fingem uma descontração que não conhecem e nem existe.

Será que isso é assim mesmo?

Carrego na cabeça tantas dúvidas.

Carrego no coração um vazio profundo.

Carrego no corpo um peso extra. Sinto-me obesa mesmo pesando cinqüenta e sete quilos e tendo um metro e setenta de altura.

Quisera estar agora em uma piscina, na água, boiando. Leve.

Ficar por horas de barriga para cima olhando o céu com a mente vazia.

Não tenho piscina.

Não tenho bóia.

O ciclo se repete de domingo a domingo.

Sempre aguardo ansiosa a próxima semana.

E toda semana quando olho na minha agenda sinto uma terrível frustração.

Então prorrogo tudo. Mais uma semana.

Preciso pensar que talvez a próxima semana seja diferente.

Sinto com isso uma suave e retraída alegria. Sinto um pequeno, mas doce alívio.

Não vou dizer a vocês o que ocorre comigo. Não vale a pena.

Assim, continuarei seguindo sozinha.

Não quero ninguém ao meu lado.

Peço que não tentem mais se aproximar.

É hora. Digo a todos adeus.

Súplica


















Foi na rua que aprendi
A medo deixar de sentir
Lá também me ensinaram
A comer com as mãos
As sobras achadas
Os pedaços de pão.

Ingeríamos a comida
Requentada, ainda meio morna
Num fogão que nos fora doado
Por um senhor sofreado.

Não posso deixar de dizer aqui
Que em cada olhar que vi
Nunca haviam eles experimentado
Um aviltado sorriso emitir.

Meu deus quanta pobreza
Pergunto eu na minha mísera condição
- O que o senhor anda fazendo
Para reverter essa situação?

Continuo eu ainda
Na condição de mísera
A perguntar-lhe se desses se esqueceu
E de lado os tolheu?

Ainda eu por aqui
Na condição mísera a que sucumbi
Essa mulher que tua existência
Todos os dias questiona
Roga-lhe agora com esperança
Pede logo que apareça
E trate de cumprir com sua obrigação
Revertendo a perversa situação
Embalada erroneamente um dia
Por alguém que não queria
Nada de nada dividir.

Rogo que esfregues
Em minha face tua presença
Sinto-me cansada
Sofro, creio de alguma doença
Falta pouco para eu partir
Venha antes de eu me despedir
Senhor fazer com que o mundo
Deixe de os mal dotados
Diariamente iludir.

- Apareça
Quem sabe assim
Eu possa seguir
Crendo que tu existes
Para abrandar o mundo
E também para acalmar
Através do sono profundo
Corações e corações extorquidos.

- Meu deus venha aqui.

Pensamento

Pensando bem
Pensando melhor
Pensando na vida
Pensando no pior.

Conjuntura


















Vem, apressa-te
E abres logo aquela porta
Não fique aí
Mudo e prostrado
Desejando ferrenhamente
Que algo variado
Nessa fase tardia
Talvez, quem sabe, possa
Ainda algo trazer
E a ti surpreender.

Esqueça. Nada há mais nada
Nesse acanhado lugar
Deus, nem sequer restou ar
Para tu esmolar.

Há tempos bem sabias
Que tudo ia mal
Porém, como tu fingias
E de conta fazias
Que teus olhos nada viam.

Esperto durante um bom tempo
Deixastes perdurar
Atrás dos rabiscos de giz
Que tu mesmo riscaste
Naquela velha matriz
O amor que de modo tardio
Em tua acanhada vida
Finalmente morreu.

Não poderás mais negar
Repare, todos já sabem
Que foi dia-a-dia após
O amor que a ti cabia
- Aquele pobre coitado -
Por ti nunca regado
Num buraco bem cavado
Atrás do campo esverdeado
Para sempre emborcado
Dele tu nunca mais
Terás a oportunidade
De quem sabe um dia se empossar.

És ciente do rumo que tomastes
Pouco a pouco tu desenhaste
Em papel branco com carmim
Teu lúgubre fim.

Vem, desce logo esses degraus
Já te revelou valente
Quando finalmente te apossou
Do livre arbítrio
Ao decidir teu caminho
E sozinho prosseguir.

Quanto a ela
Não te preocupes
Ficará bem, ficará por aqui.

Por fim, parabenizo-o
Afinal, caminharás e caminharás
Para motivos encontrar
Formas de voltar a sorrir
E ser feliz, unicamente,
Através de ti.

Consternação



















De cara arriada o réu se encontra
Para ouvir sua sentença
Do ato que ele terá a realizar
Para com sua vida logo acabar.

Retraído lança um último olhar
Àqueles que se encontram ao seu redor
Estende, assim, um último adeus
Às poucas pessoas que na vida conheceu.

Durante anos foi ingênuo
Desse modo ao mundo se revelou
Ignorou os malefícios da humanidade
Acreditou que receberia de alguém um dia alguma bondade.

Nesse momento, um senhor idoso pronuncia
O que caminho que terá que percorrer
Para com sua vida sucumbir
Quedo ele ouve as condições
Embaixo de escassas manifestações.

Constata agora, um pouco tarde,
Que viveu no mundo às avessas
Avesso o mundo enxergou
Avesso nas pessoas acreditou
Paciência, fazer o quê?

É hora de seguir para casa
Afinal há hora marcada
Para o ritual edificar
E com a própria vida acabar.

Ao chegar em casa inicia
Com sôfrega ambição
O ato imposto pelo senhor
De como ele deverá
Até o fim se portar.

Seguindo as ordens estabelecidas
Coloca numa panela vazia
Água suficiente para terra acolher
Terra que ele no quintal há de ter.

Faz uma mistura, um mingau
Em seguida põe-se a ingerir
Sem sequer reparar, afinal tão humilhado está,
Os movimentos que sua boca
Persiste em repetir.

Depois de através desse ato se despedir
Nu segue para o banho
Dessa forma percebe-se melhor
O quão parco está.

Ao sair do banho veste-se sem pressa
E no armário da cozinha
Busca pela fita que unirá
Todas as portas do seu lar.

Ar não mais entrará
Ele deixará de respirar
É quando pensa se tem mesmo
De obedecer à sentença preceituada
Pelo que se fez dono do poder.

Ainda com o pensamento aceso
Destrava o botão do botijão
E sem crer naquilo que faz
Seu pensamento grita:
- Pare, homem, você é capaz!

Considera que se à morte sucumbir
Somente fará com que todos acreditem
Que há alguém que se considera
Da morte e da vida ali imprimir.

Repentinamente seu coração
Abarrota-se de uma decisão
Fecha, então, o botijão
Das portas remove a fita
Que tornara sua prisão.

Resolvido ele se encontra
Fortalecido ele está
A ordem recebida
Ele não acatará.

É quando resolve se mostrar
Pelas ruas alegre põe-se a caminhar
O superior o avista e grita:
- Venha cá!
Calmamente ele vira as costas e retorna.

Para ouvir o sermão do pregador
Que a ele pergunta se insano se tornou
Sentenciando-o novamente à morte prematura
Que outrora lhe sacramentou.

O magro olha-o no fundo dos olhos
Ri alto e alto declara
Que para ele agora
Foi o superior que recebeu
O que decreto que lhe ofereceu.


Por anos e anos ele diz
Que haverá de ser feliz
Proclama ainda ao dominador
Que haverá de ter
Motivos para seu ser
De forma alegre viver.

Apossado de uma sabedoria tardia
Informa que em sua vida
Não mais permitirá
Que lhe ditem formas de aparelhar.

Vira as costas e continua a andar
Percorre as ruas
Percorre cada lugar
Enquanto suavemente ele sorri
A todos que se encontram por ali.

Passeia tranqüilo
Passeia devagar
Não tem mais medo no coração
Percorre o lugar com rejuvenescida paixão.

Agora sabe que nunca mais
Somente por ser magro e sozinho
Alguém nele reconhecerá
A forma de a morte precoce pronunciar.

Sorrindo segue enquanto demonstra
À população que por ele passa
Que foi capaz de escapar
Do que ousaram lhe determinar.

Dessa forma acredita
Que os outros possam crer
Que poderão repudiar
As ordens daquele que se considera
O dono do lugar.

Há, há, há.

Doce ilusão

Quem sabe um dia ela poderá a todos convencer de que foi feliz um dia mesmo sem a felicidade conhecer.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ponto final


















Menina deixa de chorar
Finalmente o mundo ruiu
Alegria
Pena que demorou
Mas por fim,
O infeliz sozinho
Nas águas escuras se afundou.

Quanto a ti
Bota de lado essa ingenuidade
Penso eu que tu bem sabes
Que daqui para a frente
Entre tuas mãos frias
Que sempre algo exibiam
Nadinha de nada sobejou
Para tu a alguém ofertar
O que no passado ofertou.

Cala a boca menina.

Mulher


















Lá vem ela
Tão original
Esplêndida
E bela
Balançando os quadris
Querendo ciúmes provocar
E quem sabe, assim, fazer
O moço medroso perceber
O encanto de mulher
Que de sua vida
De forma medonha
Ele deixou escapar.

Somente, dessa forma,
Acredita que ele saberá
Que em sua vida
Nada mais igual terá.

E enquanto tolamente
Seu caminho sozinho prosseguirá
Ela feliz e radiante
Haverá de continuar
Sorrindo e festejando
A forma que elegeu
De o mundo avistar.