
A lucidez dói e castiga
Maltrata tão ingrata desalmada
Arredia destrói sonhos
Arredia destrói pensamentos
Arredia perpetua a falta de alegria
E se incumbe de levar pelas águas
O brilho do olhar agastado
Entre todos
Entre nós
Entre os amantes
Entre os apaixonados.
A vigorosa lucidez
Acaba por apagar e extinguir
Quaisquer possibilidades
De se viver de forma
De se viver de forma suave.
Todos são lúcidos e o lúcido é um morto-vivo.
A lucidez carrega nas mãos
O agoro mau
A lucidez com suas mãos abastadas
Distribui palavras de descontentamento
E quando já não resta mais nada a absorver
Ela doa um choro endividado
Por ele haveremos que pagar.
A lucidez entristece
Ela esbarra no amor próprio
E joga-o para longe
Distante das mãos inquietas
Distantes dos corações por ela corrompidos.
Uma grande massa suplica em coro:
- Vai-te embora lucidez
Vai-te embora
Fez-se hora
De deixar-nos
Viver o resto
Que sobrou da ínfima glória
Vai-te embora lucidez
Vai-te embora.
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