O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

sábado, 28 de novembro de 2009

Lamento














Vertes-te em lágrimas coração
Encontras-te, coitado, tão apoquentado
Porque olvidastes da tua própria canção
E fora do teu caminho a lançastes?

Ela, tão feliz, tão enlevada,
- Por ti, assim, desenhada -
Magoada sequer informou
E distante de ti se albergou.

Tardiamente, tu sangras coração
Quem sabe ainda haja algo a recuperar
Primeiramente, jamais consintas
Desertarem-te num friento chão
Como fizeram às paixões cálidas
Por ti, sob a luz, abençoadas.

Apodera-te novamente do que é teu
Tens a suavidade que um dia alguém te concedeu
Enlaças reluzente o outrora perdido
Aleluia! Sim, todos os que se apaixonaram
Em momento algum,
De todos, nenhum,
Jamais te esqueceu.

Tu, serenas como te apresentas,
Possas, enfim, parar de sangrar
Mesmo quando fora de hora
Deparar-te, ir além, constatar
As amarguras carregadas
Pelos amantes de costas encharcadas.

Alguns ao teu lado não permanecerão
Sozinhos e distantes do laço do amor,
Acres, envelhecerão.

Jamais te culpes, coração
Por esses que as costas te darão
Lembra-te sempre
Fostes adornado
Pelas mãos das divindades
Para os ares atravessares
Alastrando o acalanto do amor.

Infiltrados pela tua devoção
Humanos e mais humanos
Abençoadamente irão agraciar
Com o amor o que se faz amar.

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