Palavras, poesias, poemas, versos, sonetos, estrofes, contos, crônicas, pensamentos, devaneios...
O caminho...
Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.
Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.
Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade
Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.
Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.
Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.
É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.
Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.
Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.
É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.
Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.
Humana sou.
terça-feira, 1 de julho de 2008
Joana
Não sente medo, de nada é amedrontada
Joana carrega com ela um único desejo
Vingar uma vida outrora saqueada.
Seus seios secaram causando dor
Os poros entupidos o pulmão bloqueou
Na cabeça Joana tem uma morte a dignar
Antes da hora ninguém perfilhará.
Sofre inopiosa a perda do miúdo carente
Um ente que nem sequer conheceu
Mas, por meses, dentro dela viveu.
Joana não mais chora, Joana é mãe agora.
Mesmo destratada segue o caminho da paz
Perecerá, por fim, o varão
Destituído e desabitado de coração.
Da tempestade Joana se despediu
Dos fios de cabelos arrancados
Joana fez um nó,
Joana fez um punhado.
O coração cruento assolado
Transita pequeno, transita acalentado.
Joana não pede, roga ou implora
Vagueia harmoniosa esperando a grandiosa hora.
Seus esforços serão poucos
Quase nada custarão
O próprio homem assinalou a sentença
Será a cunho, será a mão.
Suas mãos, no passado, abençoadas
Fazem dela, presentemente, uma alma desregrada
Por tempos o pai saqueador
Seu caminho alongou.
Joana prometeu,
Joana realizará
A vida apequenada tirará.
Ao avistar o mar ainda morno
Joana pensa em Maria, mãe de Jesus
Que não lagrimou o filho crucificado
Despreza-a! Seu momento faz-se mais sagrado.
No jardim de seu furacão
Impôs-se até uma condição
Não assentar nunca mais
Seu compassivo coração.
Apressa o passo a mulher
Respira ofegante, um pouco agoniada
Frente à calçada está a casa ambicionada.
Avança na direção norte
O dia clareado testemunhará
Todo seu horror adiado.
Adentra a casa rosa
Encontra a semente do mal
Lá há de enterrar
Longas formas de azar.
Por fim, clama o malfeitor
Dispara variadas vezes
Até fazer calar
O barulho ensurdecedor.
Resignada contempla o sangue no chão
Satisfeita ajeita os cabelos com as mesmas mãos
Puxa a porta e atravessa a avenida
Parte para sua jovem e lúgubre vida.
4 comentários:
Acho que a sua Joana mereceria de sua lavra um conto, uma prosa. Muita imagem, muita idéia, o leitor-eu se perde um pouco em quem é Joana, e isso pode ficar legal na Joana-prosa, nada prosaica.
E dessa forma, emprosando Joana, recomendo fortemente um livro: "Joana A Contragosto", do Marcelo Mirilosa, Editora Record.
Pode ser útil.
Bjs.
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Acho que a sua Joana mereceria de sua lavra um conto, uma prosa. Muita imagem, muita idéia, o leitor-eu se perde um pouco em quem é Joana, e isso pode ficar legal na Joana-prosa, nada prosaica.
E dessa forma, emprosando Joana, recomendo fortemente um livro: "Joana A Contragosto", do Marcelo Mirilosa, Editora Record.
Pode ser útil.
Bjs.
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Corrigindo: "Marcelo Mirisola". Se ele sabe que errei o nome dele, vai ter porrada.
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Joana sofrida, tiraram-lhe tudo até o filho que estava em seu ventre, não lhe restava mais nada a não ser se vingar. Muito bonito e muito triste também.Bj.
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