O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Cartas a Um Jovem Poeta - Rainer Maria Rilke

"Evite de início as formas usais e demasiado comuns: são essas as mais difíceis, pois precisa-se de uma força grande e amadurecida para se produzir algo de pessoal num domínio em que sobram tradições boas, algumas brilhantes. Eis por que deve fugir dos motivos gerais para aqueles que a sua própria existência cotidiana lhe oferece; relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza — relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações? Volte a atenção para ela. Procure soerguer as sensações submersas deste longínquo passado: sua personalidade há de reforçar-se, sua solidão há de alargar-se e transformar-se numa habitação entre o lusco e fusco diante do qual o ruído dos outros passa longe, sem nela penetrar. Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem versos, não mais pensará em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade..."

- Primeira Carta
- Fonte Cartas a um jovem poeta tradução de Paulo Rónai - Ed. Globo - 10a. edição

domingo, 28 de dezembro de 2008

Prece: Quando eu morrer

















Quando eu morrer não quero ninguém chorando ao meu lado
Já não existo, lembrem-se, sou passado.
Quando eu morrer distribuam meus pedaços àqueles precisados
Depois aqueçam o que sobrar e arremessem em qualquer lugar.
Quando eu morrer não permito que ninguém
Vá mês a mês chorar num canto que nunca desejei.
Quando eu morrer me esqueçam, de passado não viverei.
Quando eu morrer, por favor, dêem-me paz
Ao morrer, lembrem-se, não quero nada mais.
Esqueçam o que fiz
Esqueçam o que ouviram ou o que preguei
E olvidem o pouco que rezei.
Festejem, por fim, o otário da vez
Festejem meu último suspiro
Festejem minha palidez.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

Solidão,
A gente pensa que não sente
Enganamo-nos, tudo bem,
Mentimos pra gente
Entupindo de ar infamado
Nossas perniciosas mentes.

Mesmo assim, seguimos em frente
Rumamos rebeldes e insistentes
Para, por fim, descobrirmos, miseravelmente,
Que solidão é um desejo vasto e permanente.