O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Minha parede vermelha
















Ela me fita. Maldita. Soberana.
Faz-me sentir menor do que me reconheço
Pareço grande, mas sou pequena
Ela gosta e acaba por me tornar
Um pedaço da minha crença- maldita doença.

Apropriada passeia pelos meus pensamentos
Almeja minha alma, esse tormento
Talvez eu entregue o que ela quer
Sou humana, sou minúscula, sou mulher.

Com coragem e arrepiada
Fito-a por alguns instantes
Tenho medo, viro-me
Ela é grande, pra mim gigante.

Dou partida, vou de primeira
Lenta, faço de conta que vou embora
Mas continuo ali parada
E ela a me olhar tão desencantada.

Bem sei por que de mim se apropriou
Do que já fui, do que ainda sou
Maldita minha parede vermelha
Virei sua presa, sou seu horror.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Círculo Vicioso by Machado de Assis

















Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
"Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:


"Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela"
Mas a lua, fitando o sol com azedume:


"Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume"!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:


Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta luz e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vagalume?"...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Tirania
















Espelho-me nessa hora
Àquilo que realmente sou
Fiz de mim um lixo vão
Alerto: - Creia nisso tudo não.

Sou hipócrita, sou mesquinha
E esmago na palma da minha mão
A tua vulgar soberania.

Bem sei que aquilo que me fascina
Ridiculariza mulheres e meninas
Continuo...

E com meu salto oito
Piso na tua face clara
E embaço de novo tua cara.

Meu Ser Evaporei na Lida Insana by Bocage

Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel de paixões, que me arrastava.
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana.

De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumio dos desenganos.

Deos, oh Deos!... Quando a morte a luz me roube,
Ganhe num momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Chibatada






Mundo de aço
Onde falta espaço
Para aqueles
Que ao meio dia
Não sentam
Não comem
Alimentam-se friamente
Somente de fome.