O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Mãos Dadas by Carlos Drummond de Andrade
















Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Entidade


















Dia a dia a futilidade
De sermos nós a humanidade
Alvitram minha memória:
- Alma não existe!

Se algum dia existiu
Fugiu desesperançada
Ao deparar com a miséria
Pelo mundo alagada.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Pesar



O pesar do sentimento
O sentido do pensar
O pensar no acontecimento
A máscara - mais importante -
Disfaçar.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Estranho







Reduto do desconhecido
Estranhamento do pobre nascido
A luz brilha serena
Na cabeça da ainda pequena

Enquanto desliza a língua
Pelas pernas da menina
Avista na boca da esquina
A única que sua fraqueza anima

Apressa-se ao encontro da cobiçada
Segue rápido sem parar
Cantarola na passarela
Seus passos e o regresso dela

Bem próximo pára esfacelado
Não há forças para seguir
Estremece no cimento puro
Um suspiro a sucumbir.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

by Bob Marley

"Preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação.
Porque sua consciência é o que você é e sua reputação é o que os outros pensam sobre você. E o que os outros pensam é problema deles!!!"

Acrescer






Ao conhecer sua sentença agastada
O homem pequeno sequer ponderou
Veloz, fugiu há alguns dias
- Fuga da vez, fuga tardia -
Da penitenciária tacanha e fria.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Amanhã


















Por décadas e décadas me sustentei na solidão
De pensar no outro dia - nem sei se viria -
Enquanto isso entre meus dedos
O lânguido hoje escorria.

Nas fraudes dessas horas
Sobrepus minha história
Ensaiei o embuste do futuro
Sem direito a qualquer glória.

- Amanhã, amanhã
Porque te apresentas no dia atual?
Torturas cada instante meu
Fruindo o medo e a amargura
Daquilo que não aconteceu.

- Amanhã, amanhã
Porque me fazes tanto mal?
Tua sobrevivência somente se dá
À custa de me incomodar.

- Vai-te embora amanhã
O hoje não te pertence
Quero a chance de viver
Meus instantes únicos e presentes.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009