O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

By Arthur Rimbaud


Elle est retrouvée!
Quoi? L' éternité.
C est la mar mêlée
Au soleil

Mon âme éternelle,
Observe ton voeu
Malgré la nuit seule
Et le jour en feu.

Donc tu te dégages
Des humains suffrages,
Des communs élans!
Tu voles selon...

— Jamais l' ésperance.
Pas d' oríetur.
Science et patience,
Le suplice est sur.

Plus de lendemain,
Braises de satin,
Votre ardeur
C' ést le devoir.

Elle est retrouvée!
— Quoi? — L' éternité.
C' est la mer mêlée
Au soleil.


Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
O dever
É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
Ao sol.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

"Suplício" dedico ao amigo Karllos Hair


















Tenho medo,
Medo do medo,
Nem sei mais distinguir,
Sei não.

Abatida dou conta:
Transformei-me,
Sou outra – ulterior -
Fiz de mim uma prisão.

Exausta amigo, sussurro:
- Perdi. Não o venço mais não.
Seja pelo tempo,
Sequer pela exaustão.

Enfarada parelho, imploro:
- Vem e abraça meu coração.
Insto também:
- Refreia as minhas mãos.

Dessa forma querido, confidencio:
- O medo se esvai e
Liberto-me de vez
Dessa praga eficaz.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

By Jean-Paul Sartre

"O poeta sente as palavras ou frases como coisas e não como sinais, e a sua obra como um fim e não como um meio; como uma arma de combate."

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Amar ou Amor


Amar ou amor serão para ti
Quem sabe, talvez, também para mim
Qualquer coisa assim:
Um tanto,
Um bocado,
Uma porção.
Nosso passadio, enfim...

sábado, 20 de setembro de 2008

Elegia by Drummond




"Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais. Sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas, e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.

À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.

Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.

A literatura estragou tuas melhores horas de amor.

Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva.

Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan."

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Escureça os olhos












Escureça os olhos
Não me avistes mais
Tu me assolas
Pelas ocorrências que me traz.

Escureça os olhos
Não me avistes mais
A mim não fazes jus
Desdenha-me,
És abusivo por demais.

Sequer aguarde qualquer pouco
Ambicione logo um outro alguém
Aparta-me de vez
Hei de resultar feliz
Quando devolveres-me à paz.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Elegância by ^gill b.



Penso que elegância para nós mulheres começa no salto alto e termina nos dizeres que saem das nossas bocas. Isso sem desconsiderar, claro, a simplicidade e a sensatez.

Já para os homens ‘donaire’ começa na cortesia e necessita obrigatoriamente estender-se e passar pelo caminho do bom humor, afinal TPM é REAL.

Pensamos que ser afável seja algo fácil, porém observo-nos no dia-a-dia negligenciando nossa própria candura. Cismo que o difícil mesmo seja manter-se garbo (a). Acredito que o princípio da elegância esteja na educação. Não há elegância deseducada. Não há elegância sem mesuras. Não há...

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Tablado


















Possuo um tablado, um tablado minado
Outrora se perdeu, cabal e esgotado
De forma duvidosa e tola foi escravizado
Fiquei só a observar algumas plantas.

Plantas malditas e pequenas
Plantas paradas, mudas e caladas
Plantas que o vento movimenta
Assenta e faz murchar

Penso em gritar... Elas não ouvirão
Vacilo. Discorrer com plantas
Seria o início do meu exilo
Retrocedo afiada e falida.

Mas pondero e delibero, logo brado
Em grave e tom bem aguçado:
- Plantas empacadas despontem daqui!
Plantas empacadas despontem daqui!
Voem rápidas auxiliadas pelo ar
Laqueiem suas caras
Suas caras de azar.
Devolvam meu palco
Tarde ele regressará
Não importa, aqui estará
Em seu legítimo lugar.
Plantas, depressa, tenho que passear.