O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

domingo, 10 de agosto de 2008

by Nietzsche

" Uma convicção é a crença de estar, num ponto qualquer do conhecimento de posse da verdade absoluta.
Essa crença supõe, portanto, que há verdades absolutas; ao mesmo tempo que foram encontrados os métodos perfeitos para chegar a isso; finalmente, que todo o homem que tem convicções aplica esses métodos perfeitos.
Essas três condições mostram logo a seguir que o homem das convicções não é um homem do pensamento científico; ele está diante de nós na idade da inocência teórica, é uma criança, qualquer que seja o seu porte.
Mas séculos inteiros viveram nessas idéias pueris que jorraram as mais poderosas fontes de energia da humanidade. Esses homens inumeráveis que se sacrificavam por suas convicções acreditavam fazê-lo pela verdade absoluta...

...Não foi a luta de opiniões que tornou a história tão violenta, mas a luta da fé nas opiniões, isto é, nas convicções.
Se no entanto, todos aqueles que faziam de sua convicção uma idéia tão grande, que lhe ofereceriam sacrifícios de toda a espécie e não poupavam a metade de sua força para procurar por qual direito se ligavam a essa convicção antes que a essa outra, por cujo caminho tinham chegado que aspecto pacífico teria tomado a história da humanidade!
Como teria sido muito maior o número de conhecimentos! Todas essas cenas cruéis que a perseguição dos herdeiros em todos os tipos oferece nos teriam sido poupadas por duas razões: em primeiro lugar, porque os inquisidores teriam dirigido antes de tudo sua inquisição para eles mesmos e com ela teriam terminado com a pretensão de defender a verdade absoluta; em segundo lugar, porque os próprios partidários de princípios tão mal fundados como são os princípios de todos os sectários e todos os “crentes no direito”, teriam cessado de compartilhá-los depois de tê-los estudado".

Choro de Menina Choro de Mulher


Menina não chora mais
Deixa de ser tola
Abraça logo a felicidade
Que o rapaz lhe traz.
Levanta tua cabeça e
Ao lado dele permaneça.
Tens o direito,
Tens o dever,
Mais: Tens a obrigação
De ser feliz e
Por você
Fazer render.

Carlos

Carlos meu curumim acanhado
Meu menino
Um lado já garoto
O outro garotinho
Na mão esquerda carrega um picolé
Na outra, puxa um balão
Carlos, criança pequena, ouve-me:
Por favor, cuida-te
É teu dever
Faz-se tua principal questão!
O pai te ignora
A mãe, tempos atrás, foi embora
Vem, depressa e atravessa a avenida
Ainda há tempo
Ainda há contramão.

Estranha

A cada tragada bem dada
Experimenta uma nota carta e
Bota na mesa sua cartada.
Se rei,
Se rainha,
Não sabe,
Talvez, erva daninha.

sábado, 9 de agosto de 2008

Desintegração



Digo adeus para não dizer que fico
Beijo teu rosto
Propositadamente evito tua face
Protejo-me da tua boca
Penso ser melhor assim
Sigo
Retiro-me pela porta dos fundos
Mantenho aberta a da frente
Tranco o portão
Mentira
Somente encosto.

Caminho até a parada
Aguardo o ônibus
Não sei qual é
Nem qual será
Após vários cruzarem o farol
Passo a observar as letras do painel
Decido por um caminho de nome mais extenso.

Assento a primeira fileira
Logo na primeira poltrona
Por sorte vazia
Assim posso ver o percurso
Olhar as folhagens
Mas não
Encosto a cabeça no vidro frio
Encaro meu reflexo
Assustada dou conta
De que não fui
Assustada dou conta de que por ti
Continuo apaixonada.

De súbito estou a teu lado
Em nossa cama
Em nosso leito sagrado
Ouço você tossir
Continuo com o braço direito sobre teu peito
Tua mão segurando a minha.

Tosses mais grave, balbucias:
- Maldito cigarro...
Rio e acendo um
Sei que queres
Ficas bravo com meu riso
Tragas e
Tosses novamente
Depois ri ao meu lado.


Mais um beijo
Outros afagos
Alguns ‘boa noite’
Adormecemos calados
Nossos corpos abençoadamente selados
Sonho com um lugar longínquo
Nunca antes por mim visitado
Estou em pé
Frente à uma padaria
Converso com uma senhora
Muito bela por sinal
Ela me acalanta
Não entendo
Por algo que me passa mal.

Despedimo-nos
Cada uma para o seu lado
É quando paro
Não entendo
Não sei aonde ir
Não sei meu endereço
Permaneço ali
Com alguns pães nas mãos
A caçar uma referência
Qualquer prescrição
Talvez uma seta
Ou uma sinalização.

Desperto
Ainda bem
Estou a teu lado e
Em nossa cama deitada
A cabeça sobre teu peito recostada
Estamos os dois
Estamos em casa.

Sinto um misto de alívio e alegria
Contemplo tua face
Admiro o semblante terno e
Gosto do mal humorado
Reparo a boca entreaberta
Reparo na respiração fragmentada.

Meus olhos percorrem os cantos
Cada parte do nosso quarto
Do nosso simples leito sagrado
Não há luxo
Nem muita beleza
Mas acolhe-nos pelas noites
Unidos em nossos risos
Agarrados as nossas tristezas.

Penso em levantar
Quem sabe fazer um café
Para quando despertares
Porém não consigo me mover
Pareço atada à cama
Nesse momento o moço me chama
Chegamos ao final
Sonolenta rebento
Não reconheço o local.

Desço
Degrau a degrau
Apanho minha mala
Meu pensamento segue esvaído
Não te esqueci
Nem esquecerei
Permaneço aqui
Aqui permanecerei.