
Obtive a permissão para falar sobre uma mulher que incomoda muitas pessoas. Não por sua aparência física ou pelo seu nível de instrução ou ainda por sua posição social e horizonte cultural.
Ela incomoda por ser o que é.
Ela incomoda por ter absorvido na íntegra como simplesmente existir: Da forma como é, ou seja, espontânea. Um ser humano singular em sua significação.
Essa mulher demorou anos para abraçar seu modo novo de vida pois, para chegar a esse nível de sobriedade teve que ignorar opiniões e críticas alheias.
Num determinado dia ela entendeu que conselhos disseminados e ouvidos por ela, em diferentes circunstâncias, não serviam para nada.
Entendeu que alguém que se julga no direito e na prepotência de aconselhar poderia juntar esses pareceres e jogá-los numa privada. Em seguida, puxar a descarga até que todos eles encontrassem seus devidos lugares: Ao percorrerem a merda dirigir-se-iam aos fétidos esgotos.
Engraçado é que mesmo antes das pessoas conhecerem essa mulher já a desaprovavam. Foi denominada de insolente, arrogante, prepotente, metida a besta, madame, chique, poderosa, atrevida, muito familiarizada e etc.
Para vomitar tanta falação os senhores e as senhoras se apoiaram somente em três coisas: A forma como ela caminha, a forma como ela fala e a forma como ela se veste.
Há algo peculiar sobre o seu caminhar: Enquanto caminha sempre matuta sobre alguma coisa. Nunca sua cabeça encontra-se vazia.
Demorou um pouco até que finalmente, aos quarenta e sete anos de idade, ela chegou ao ponto de prezar e agir e, claro, caminhar, conforme seu próprio ritmo.
Já não permite mais que lhe imponham movimentos a seguir ou advertências a acompanhar como em tempos outrora.
É claro que que durante o tempo em que viveu à sua própria sombra, torturou-se e maltratou-se em proporções vastas mas, o mais importante é vocês saberem que ela conseguiu pular fora. Concluiu seu próprio desfecho e de sua forma.
A tal mulher ainda continua sendo crucificada por ser como é e zelar por sua essência acalentando-a diariamente.
Não liga mais. A coragem tomou posse dos adjetivos que seus ouvidos alcançaram. Agora dá de ombros e segue flutuando do seu jeito pelo seu caminho.
Não pretensiosa mais ser igual a ninguém e não lhe incomoda mais fazer parte de um grupo quase que oculto. Agora as falácias alheias provocam-lhe saborosas gargalhadas.
Não a afetam mais. Não a dominam mais. Não a põem mais doente .
Por ser como encarou ser invocada até de doente.
Oxalá, cá entre nós, que bom seria se uma boa parte da população sofresse desse 'mal'. Explico melhor: Foi e é considerada doente por não fazer parte de grupos, rodas, bisbilhotices, fofocas, religião, etc.
Não posso deixar de mencionar que a rotularam também de ‘estranha’ porque enxerga o mundo em suas cores reais: Branco e Preto. É ciente que o colorido se foi há décadas. Perdido está há séculos o arco-íris da vida.
Vez ou outra vem à sua cabeça uma frase de Bob Marley : “Vocês riem de mim porque eu sou diferente e eu rio de vocês porque vocês são todos iguais”.
Saibam que seu coração nunca abrigou mesquinharias ou sentenciou audiências. Ela pensa sempre lá com seus botões: Se tivesse agido dessa forma, como a grande maioria, somente teria antecipado sua provável e irreversível cegueira, além de lhe faltar a audição. Pensa que se tivesse agido dessa forma disforme seria precocemente visitada por esses dois males.
Por fim, quando há anos resolveu ser quem realmente era e é (mesmo sendo mascarada estava mal escondida e pôde enxergar muitas coisas), ultrapassou as barreiras das sentenças que lhe impuseram e deu de ombros aos conselhos que lhe determinaram. Não liga mais quando gritam na rua por seu nome: - Estrangeira.
Atualmente, sendo quem é, saboreia momentos de felicidade e de alegria.
Em seu pedido final à minha pessoa, para transmitir a vocês essas palavras, ela quer que eu lhes diga que assegura um dia abrir a janela e ouvir gritos e mais gritos do povo pronunciando a nova maneira de ser, de realmente ser e gozando, finalmente, do frescor límpido que ainda, mesmo escondido, habita em casa um.
Dessa forma, ela crê que todos alcançariam momentos de alegria e apaziguariam suas existências tornando a vida mais delgada.
Na verdade seu desejo é que cada um tenha a oportunidade de brindar o próprio ser que existe em sua pura totalidade.
Pediu-me que lhes assegurassem: Isso não se trata de fábula.
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