
Sem segurança ele enleia alguns passos curtos.
Percorre o caminho dos que um dia foram domesticados.
Atravessa a vila dos que foram eleitos pela vida a serem desprovidos de pão, arroz, feijão e calçados.
Acredita que pode mudar alguma coisa da divisão há tempos instituída
pelos homens a quem denominamos homens de razão e não humanos de coração.
Solitário ele continua a caminhada.
Sabe que sua presença nessa repartição é miúda e de pouca proporção.
A vereda é descompassada quase que torta e desequilibrada. Segue sem notar qual direção tomar. Afinal a miséria encontra-se em todos os locais.
Enceta uma reza frente aos carecentes. Humanos faltosos de instrução e de um pedaço de pão. Eles não compreendem as primeiras palavras mencionadas. Muito menos entendem a significação.
Perante a carente situação roga para sua alma um pedido de perdão.
E cala-se, então.
Não entende como o mundo acovardou-se diante de uma divisão tão miseravelmente apartada onde alguns saboreiam em seus dias as regalias enquanto outros, a maioria, saboreia as sobras largadas no lixão.
O mundo se constituiu de podridão. É demasiadamente farto para alguns que chegam ao ponto de desprezar seus privilégios enquanto os desprovidos de alimentos adormecem ao relento.
É difícil para o homem entender tamanha desigualdade onde os que tem as prerrogativas não pensam sequer em doação.
É difícil para ele aceitar tal situação.
Amargurado volta para sua casa sabendo que sozinho nada conseguirá alterar para acabar com a miséria espalhada pelos homens que se fizeram angariar de todo bem estar.
Enfim, os miseráveis continuarão apreciando de barriga vazia suas desprezíveis condições.
Mundo ordinário.
Mundo cão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário