
Minhas costas estão geladas pelo vento forte que vem de trás. Minhas mãos estão amortecidas também pelo frio e minhas pernas tremem um pouco. Sinto um leve enjôo. Preciso vomitar. Viro para o lado e enfio o dedo na garganta enquanto boto para fora tudo que comi durante o dia. Credo. Que nojo.
Não sei o que fazer para por um fim na forma como somatizo as coisas e como resultado sofro com essas sensações desagradáveis.
Penso no tempo em que dirigia na Rodovia Rio Santos. Sentia ali uma preciosa liberdade. Sentia ali minha própria coragem.
.
Penso no tempo em que dirigia na Marginal Tietê. Entre os caminhões pesados.
Porém, não me lembro quando foi que comecei a temer no volante imaginando os caminhões me esmagando.
Tenho necessidade de companhia, entretanto afasto-me propositadamente das pessoas.
Quisera falar sobre tantas coisas, mas não permito que se aproximem de mim.
Quisera ser uma mulher descontraída.
Será que há no mundo pessoas descontraídas? Será que é possível ser descontraído?
Disseram-me que não. Disseram-me que as pessoas fingem uma descontração que não conhecem e nem existe.
Será que isso é assim mesmo?
Carrego na cabeça tantas dúvidas.
Carrego no coração um vazio profundo.
Carrego no corpo um peso extra. Sinto-me obesa mesmo pesando cinqüenta e sete quilos e tendo um metro e setenta de altura.
Quisera estar agora em uma piscina, na água, boiando. Leve.
Ficar por horas de barriga para cima olhando o céu com a mente vazia.
Não tenho piscina.
Não tenho bóia.
O ciclo se repete de domingo a domingo.
Sempre aguardo ansiosa a próxima semana.
E toda semana quando olho na minha agenda sinto uma terrível frustração.
Então prorrogo tudo. Mais uma semana.
Preciso pensar que talvez a próxima semana seja diferente.
Sinto com isso uma suave e retraída alegria. Sinto um pequeno, mas doce alívio.
Não vou dizer a vocês o que ocorre comigo. Não vale a pena.
Assim, continuarei seguindo sozinha.
Não quero ninguém ao meu lado.
Peço que não tentem mais se aproximar.
É hora. Digo a todos adeus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário