
Estamos numa bela tarde de primavera.
Estou sentada no banco da praça principal.
O sol eleva meu humor e torna-me mais serena.
Daqui posso ver a Igreja local.
É linda, não, linda é pouco, é monumental.
Suas portas estão abertas solicitando aos fiéis que entrem.
Próximos à porta encontram-se alguns mendigos.
Suas roupas são velhas e rasgadas. Eles cheiram mal.
Os pedintes não tomam banho.
Os pedintes não têm escova de dente.
Os pedintes não têm identidade.
Os que passam próximos a eles não olham mais. Optaram por não enxergá-los. Assim, eles se tornaram invisíveis.
Já já a noite cairá. Os pedintes continuarão próximos à porta da igreja. Não entrarão.
Os invisíveis não são chamados a orarem como qualquer outro fiel.
Lá não há lugar para eles dormirem.
Os invisíveis ficarão ao relento mais uma noite. Acostumaram-se.
Eu não faço nada. Sou igual a todos os que estão de olhos vendados. Sinto apenas um gosto salgado molhando minha boca.
Abaixo a cabeça e praguejo a existência humana.
Abaixo a cabeça sem entender o significado do mundo.
Abaixo a cabeça sem entender o sentido da vida.
Nesses momentos tudo me soa demasiadamente cruel. Frio e cruel.
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