O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sorte meu rapaz

Perfeitos


Tá louco















Minha vida está passando

Passando e passando e passando.
E eu aqui: 
Esperando, esperando e esperando. 


O quê? 
Não faço a menor idéia.


Mas, sabe o que vai acontecer?
De repente quando eu menos perceber
Assim, num estalar de dedos, darei conta 
De sequer com a vizinha, no portão, conversei. 

Tá louco!



quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Palavras






















Tranqüilas são as palavras 
Traduzem mentes e corações
Decifram alegrias permanentes
E também decepções frequentes.


Quando pequena minha avó me segredou
Que as palavras reúnem-se com certa periodicidade
Para planejarem alentos e caridades
Para ajustarem planos em prol do alívio da sociedade.


Na época não entendi muito bem
Mas, guardei aquilo na mente
Até hoje minha cabeça retém
As falas que minha avó me doou
Foi assim, penso eu, que ela promoveu sua erudição 
Tanto aqui quanto depois, através do além.


Agora adulta, sim, creio que compreendo
O que minha querida vozinha quis me dizer
Vejo no dia-a-dia o movimento transcorrer
E sei que por detrás de tudo isso
Sempre tem a palavra de alguém.


Sábias, em seus encontros, elegem venturas
Atualizam filas de atitudes e ações
Planejam a forma e o meio de transformarem
O que passa pelas linhas em prol do bem das multidões.


Quanto a mim sinto que são solidárias às minhas tempestades
Estão sempre a deslizarem entre meus dedos em linhas pautadas
Para que assim possa eu despejar
Tudo que teima meu ser sozinha comigo e em mim guardar.


Quero aqui poder agradecê-las
Obrigada a todas, obrigada
Espero que sempre possamos caminhar
Percorrendo juntas as mesmas vias
Além de seguirmos unidas, também, longas estradas.


Obrigada.

Apogeu


















Sei sim
Sei que você
Não gosta de mim.


Critica o meu falar
Meu falar estás sempre a criticar.


Critica o meu andar
Meu andar estás sempre a criticar.


Critica o meu pensar
Meu pensar estás sempre a criticar.


Critica o que escrevo 
Meus escritos estás sempre a criticar.


Critica minhas vestimentas
Meus vestidos, minhas saias, minhas botas, minhas sandálias
Estás sempre a criticar.


Sei sim
Sei que você
Não gosta de mim.


Se tu por mim nutrisses algum afeto 
Não viverias por todos os dias a tencionar 
Minha vida à tua nivelar
Ficando eu sempre e, em definitivo, último lugar.


Sei sim
Sei que você
Não gosta de mim.


Por isso agora me entupo de coragem
E daqui saio 
Daqui vou para sempre
O destino desconheço
Nesse momento não se faz importante
Parto agora daqui
Parto agora desse lugar
Vou 
Vou sim
Vou embora.


Fiques tu aí 
E arranjes outra pessoa 
Para me substituir
Terás assim como continuar
A alguém em tudo, deveras, criticar.


Delírio






















Não sei direito o que pensar...

Também não sei direito o que, supostamente, poderia fazer...


Assim, também, desconheço o caminho considerado pelas pessoas mais próximas a mi como sendo o mais adequado para eu seguir.


Sou uma vastidão de dúvidas.


Sou um turbilhão de indagações.


Sou uma multidão em uma única pessoa.


Sou eu assim perdida por dentro e por fora de mim.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fato














O que você quer de mim? Espero que nada.


E, por favor seja breve, logo desse lugar saia.


Procure as ruas, as vielas, 


Talvez poderias meter-te a vasculhar


As avenidas e os fétidos bares das boca de lixo


Esses que tu conheces como ninguém


E deles se aproveita infinitamente infame e sem nada vislumbrar


Nem aqui


Menos agora


Nenhum lugar


Sequer um lar


Assumas de vez


Que a rua foi quem te fez


Homem quem sabe, talvez.


Desabafo de quem está de saco cheio de ter que suportar a mediocridade alheia espalhada pelos quatro cantos de qualquer que seja o canto.






















Ando de saco cheio.


Estou cansada de ser frequentemente indagada sobre os motivos que me levam a não sair de casa.


Oras bolas, sou caseira, e daí? Gosto de ficar no meu canto.


Odeio multidões, filas, feiras, mercado, shopping, calçadas, avenidas, ruas movimentadas, parques inundados de gente procurando gente, bares onde as pessoas vão acreditando que de lá sairão com algo, ou melhor, com alguém, que, por ventura, será sua salvação. 


Medíocres. Como o ser humano consegue se estender e violar-se frente à tamanhas bestialidades? Como o ser humano consegue ser tão ordinário, pobre, barato, custa quase nada, perigas até levar para casa de graça e nem precisa de nota fiscal paulista.


Quanto a mim sei que estou prestes a fazer quarenta e oito anos. Meu aniversário é no dia vinte e sete de fevereiro. A astrologia diz que sou Peixes com Gêmeos, ou seja, sou oito em um. Puta merda! É isso. É por isso que sou assim. Oito em um é foda meu amigo, né não?


Só pra finalizar direi honestamente a vocês que não sei qual é meu tipo sanguíneo, vergonhoso, mas sei claramente que sofro de alergia. Sou alérgica a gente. Creia. Vivo tomando Fenergan para coceira.


Tchau.


Thanks.


Bye.


Enjoy your usual ordinary life!

Inferno

















Ouvi dizer que o inferno
É um lugar quente para se crestar
Depois de na terra a vida esfaquear

Lúcifer saca as presenças
E deposita sem cerimônia
No topo do fogo que incendeia
Superando o desejo de voltar
Que ficará somente na lembrança

Inferno, cor forte, vermelho sangue
Onde o fogo arde
E acolhe a população
Que insistiu em acreditar
Que esse lugar existe
Para alguns muito mortificar

Não se iluda
Dizem que sempre há
Espaço para acolher
Mais um alguém para se queimar

Inferno por alguns apregoado
De mistério, presente e passado
Convocando com alegria os ordinários
Que fizeram de suas vidas
Uma grande e mísera folia
Dizem que é grande
Lá se encontra
Os desafios dos que fizeram mal
Para arderem ausentes de chuva ou de vendaval

Inferno, lá vou eu!


Mentes despejadas
















Algo se passa nas mentes 
Embaraçadas a circular
Enlaçadas pelo ar
Saltam, circulam
São vistas com rigidez
Não soa nenhuma timidez.


Mentes perturbadas 
Querendo se acalmar
Entre o bem e o mal 
Entre o ser e o ganhar.

Enquanto rodopiam
Em filas mesmo na contramão
Confundem corações 
Que outrora foram enternecidos
E agora encontram-se desconhecidos.


Mentes vigiando
Os próprios passos vãos
Pregando nas veias
Alguns movimentos de sim 
E outros movimentos de não.


Trata-se apenas
De mais um punhado de formas
Trata-se apenas
De mais alguns intentos
Na busca perpétua
Da mente fortalecer
E por pequenos instantes
Deixar ela própria ser e ser.

Julgo
















Alma pequena
Pensas tu que tens um problema
Andas acanhada
Também envergonhada
Sempre cabisbaixa
Sem saber elucidar
O que se passa no teu peito
Àqueles que, supostamente, 
Desejam de ti 
Maravilhas sempre ouvir. 


Calma alma calada
Permaneças na tua distância
Afinal, bem sabemos, onde se fez alguma fumaça 
Foi porque o fogo exaurido se revelou
E de fora ninguém ficou.


Não há porque, penso eu, 
Que tu carregues nos braços
Tamanho e dorido pesar
Tens grandes proezas
Jamais avistada em alguém  
És tu que na vida ou na morte
Faz-se sempre perene e nobre
Acarinhando a cabeça de quem vai
E, junto a esse gesto,
Interferindo com ternura 
De quem ainda, por aqui, se mantém.


Alma, és amada, sabes bem.


Marcas na pele

Marcas na pele: Talvez seja esse o jeito encontrato por mim no intento de demonstrar o que sinto por essas pessoas tão preciosas.



Meu pai, minha mãe, meus filhos João Gabriel e Pedro Henrique: Tatuei-os  no meu corpo.


Acompanham-me todos os dias. Estão 'em mim' em todos os momentos.


Em épocas distintas da minha vida reconheci uma necessidade que me absorvia a apresentar, concretamente, vocês sabem o quão me fiz racional perante o mundo, meus sentimentos por quem habita meu coração. 


Aprendi com eles o sentido do amor, sim, como se ama, o que é amar, além de conhecer também, através deles, e experimentar a vivência da doação.


Creio que há entre nós uma linha tênue entretanto, sagrada. É ela a responsável pelo nosso laço de união.


Hoje posso afirmar que conheço o amor e conheço o amar.


Obrigada.





Degredo


















Muito pensei sobre o que tu me dissestes
Também muito senti pelo que da tua boca ouvi
Creio eu que compreendo ou compreendi
O que por ti foi mencionado ali.


Melhor dizendo, penso até que reconheço
O sentimento narrado por tu que fez de ti um lastimado
Digo isso, penso que seja, porque além de conhecer esse infortúnio 
Também estou fadada a não mais ser por ele deixada.


O pesar se estende em nossas vidas, creio, porque o que em nós habita 
Nunca chamamos ou pensamos em sentir o que nos propiciaria alegria no dia-a-dia
Tanta dor somada em nossos corações sem possibilidade alguma
De revivermos momentos escassos de crença e contentamento.


Tu, homem, como me dissestes, estás a se sentir tão só
Por todos, como também falastes, foi de frente atravancado
Não perceberam, sequer repararam com quem lidavam
Um rapaz que cresceu carente e pela vida sempre foi desamparado.


Posso te dizer que sim, sinto-me assim
O mesmo fizeram comigo
Aconteceu aqui, cá, comigo devagar
Fez com que eu me transformasse em outrem
Sei não, sabe-se lá, quem.


Ceguei para os lados
Ceguei para o mundo
Ceguei para o riso
Sozinha tratei de abraçar
Um cansaço que teima em me acompanhar.


Cansaço esse explico melhor:
Ora, sempre e até esse momento me senti também muito só  
Ora, sempre e até esse momento me senti também tão vulnerável
Esquecida de apreço e de abraço
Desacolhida  pela vida fui, bem sei,
E também por todos que conviviam comigo  
Todos que estavam ao meu redor
Isso fez-se cansaço, homem, cansaço só.


Saibas, rapaz, que minha cabeça navega em demasia
Dela abstraio tudo por todos os dias
As dores e as lástimas que criei ao longo do tempo, 
Sim, somei sim 
Numa armadura transformei 
Medida de defesa, penso, por mim requerida 
Nomeei-a de melancolia 
Talvez, às vezes penso, que até poderia
Tê-la elevado um pouco mais 
Quem sabe, próxima à alguma ternura?


Foi essa, foi essa sim 
Essa mesma que criei em mim 
Maldita, recorro agora a ela dessa forma 
Afinal pelas minhas costas me traiu
Pois, enquanto eu pensava que seguia um caminho 
Onde encontraria um lugar assobradado 
Para bem me instalar
De fato, caminhava eu, estúpida, 
Por ela guiada, do lado avesso
Levou-me a um lugar onde nada desfrutei
E, jamais, como meu canto reconhecerei. 


Após algum tempo vivendo assim
Constatei que não havia caminho de volta
O percurso, esse que buscávamos 
O revés do que nos foi imposto 
Por ninguém foi desenhado 
Também não detém uma placa
Indicando o caminho de volta às nossas casas. 


Quem dera fosse somente isso, simples assim, 
Mas não, é mais, vai além, tu sabes bem
Entendes que nossas vidas a nós não mais pertencem 
Tiraram-nas com alavancas e fizeram-nas despedaçadas. 


Essa vastidão solitária e desacompanhada
Será seguida e de perto por uma mão bem vigiada
Sim, eles todos se assegurarão
De que não intentaremos percorrer a contramão.


Peço desculpas se te aborreço
Afinal viestes a mim algo confidenciar
Mas, explico porque pus-me a falar
Não tenho com quem minha vida ninar. 


Por fim, nós dois sabemos bem
Será assim para sempre, sem mais ninguém
Tu a viveres em teu canto apoquentado
E eu a desfrutar desse lugar 
Tão amplo e solitário 
Que me foi, desgraçadamente, arranjado.


Termino aqui, dou partida 
Porém, tenho algo mais a te dizer
Não sinta, ninguém na verdade sente
Que a vida possa ser ou parecer um desfrute 
Capaz de honrar a qualquer ser 
Pequenos potes de prazer.


A lástima está impregnada
Uns enxergam e outros seguem tão cegos
Esses e os outros por mim citados
Um dia também haverão de conhecer
O juízo que alguém acredita ter o poder 
De às vidas estender.


Fique bem
Fique contigo
Olhe para dentro
Percebas em ti quem tu és
E para sempre, a partir de agora, 
Sabes que tu serás
Teu único e fiel abrigo
O único a se doar
Um pouco de amor ou amar. 


Quanto a mim para continuar vivendo 
Sem mais tentar seguir me enganando 
Servir-me-ei disso que lhe falei 
Servir-me ei do mesmo que a ti mencionei. 


Adeus rapaz
Adeus homem entristecido
Fecha a porta da frente
Cobre-te com lã para que assim 
Fiques tu bem aquecido.


Sigo eu um pouco menos tomada
Pela fadiga a mim destinada
Essa que a ti mencionei
Não pensei em escondê-la
Não conseguiria, somente eu, 
Impor-me frente a frente 
Para finalmente, iludida eu sei, detê-la.


Adeus homem crescido
Serás tu teu único e fiel amigo
Peço-lhe algo, caso permita-me, 
- Deseje-me que eu possa também
Ser fiel ao meu ser sem mais ninguém.
Amém.


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Coita




Eis aqui mais uma cria
Feita por completo de pedra fria

Mista à mãe e à areia fina
Aceita-a, afinal, ainda é tua

Mesmo tendo ela
Tornado-se ao longo desses anos
Uma fina e preciosa ruína

Eis aqui mais uma menina
A sonhar pelas tardes - sempre de olhos abertos -
Com rapazes e também com meninas

Os rapazes ela se põe somente a observar
Quanto às meninas na face está
À elas profundo prezar

Eis aqui mais uma mulher
A esperar um motivo
A esperar que algo diferente aconteça
Deseja celebrar
Sua bebida?
Sidra Cereser

Embriagada está
Embriagada estará

Eis aqui mais um ser dito humano
Sem saber o que poderia desejar
Desconhece mesmo qualquer querer

O preço do renegado é caro
Paga de dia com o dinheiro arrecadado
Pelo ofício ao seu corpo, à noite, atado

Eis aqui mais uma descrente
Na vida sequer conquistou
Uma pitada de fé
Até agora não conseguiu reter
O que dizem depois da morte o que é vir a ser

Sem alternativas
Trata de se enganar
Para um pouco mais
A vida reles deixar
Um pouco mais nela essa vida torpe ficar

Eis aqui mais um dia
Eis aqui mais uma mísera história
De uma mulher colocada
Do lado de fora
E lá largada a ausência de vitória - piada.