O caminho...

Intento, ainda acanhada, entregar-me às letras, sílabas, palavras, frases e o que se pode obter dessa junção. Coisa linda a mistura das palavras.


Sempre fui encantada pela nossa Língua e tive a oportunidade de ter como mentora, na antiga quinta série, a professora de LP Maria Alice.

Seu saber e envolver a todos nós, seus alunos, fez-me, literalmente, apaixonar-me por uma mulher aos onze anos de idade

Paixão platônica, pueril, inocente e verdadeira. Nascida da admiração do saber e ir além fazendo os outros também participarem desse conhecimento espetacular, quanto se trata de se entregar à Língua Portuguesa.

Vivo pelos cantos, tanto internos quanto externos, de caderneta em punho e caneta entre os dedos. Do nada, vejo uma imagem ou ouço uma palavra perdida num bar e dali parto para uma história vinculada à alguma vivência minha, da infância difícil até a executiva promissora, e me abro para o mundo das letras.

Meus dedos percorrem rapidamente a caderneta anotando o que me for possível trazer à tona, num momento posterior, de pura entrega, dedicar-me a misturar palavras, ritmos, sentidos, além, de uma boa dose de singularidade.

É assim que construo sem pressa meus poemas, versos, sonetos, também minhas crônicas, prosas e contos.

Foi a poesia que me salvou de me destruir na minha mais pura e insólita melancolia.

Foi a poesia que me salvou de mim mesma, impediu que eu ultrapassasse a linha da imaginação e fosse para algum lugar nunca antes visitado.

É a poesia, o verso, a magnitude da construção literária que me mostram quem realmente sou.

Oras posso valer até um milhão, mas sei tão bem que não valho sequer um tostão.

Humana sou.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Eu e Minhas Palavras














Ando alheia
Ando distante
Mais calada
Mais reflexiva
Negligenciando
Tantas de minhas palavras.

Peço desculpas
Peço perdão,
Por fim,
Informo-os que ando
Envolvida com a solidão.

Pouco presente
Sim, constato, negligente,
Daquilo que me propicia
Doce alegria.

I’m so sorry.

Aleluia














Hoje cedo menino ao acordar
Vi o azul dos teus olhos nos meus castanhos brilhar
Exultei-me
Desfrutava, por fim, da tua merecida companhia
Alegrei-me
Estávamos ali um os olhos do outro a admirar
O amor que cresceu conosco
O amor que anseia em passear
Dá voltas
Percorre lugar
Mas no final volta sempre para cá.

Eu e tu menino
Juntos outra vez
Falta pouco
Aleluia a hora sem quaisquer receios
Aleluia a hora aventuranda para
Juntos vivermos começo, fim e também, claro, o grande meio.

Aleluia menino.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Não deixam

Se fosse possível
Ia aí te buscar
Te arrastava pelo braço, menino
Te trazia pra casa
Onde é o teu lugar.

domingo, 27 de junho de 2010

Eu com eles, assim









































Dentro de mim tem um jardim
Verdade
Funciona mais ou menos assim:
Ao raiar do dia quando abro os olhos
Surge na minha frente
A imagem de dois garotos
Esses rapazes que sempre estiveram comigo
Esses meninos, agora homens, que me mantêm em pé
Os garotos, ainda chamo-os assim,
Que eu, mãe tênue, tanto amo
E, bem sei, que esses meninos
Sempre me esticarão a mão
Sabe porquê?
Tornamo-nos três em um:
Caminhamos na mesma direção
Tornamo-nos três em um:
Únicos num só coração.

sábado, 26 de junho de 2010

João Gabriel - simples mas intenso. Do coração de uma mãe que é só saudades.








Filho escrevo poucas palavras
Mas preciso escrevê-las
Porque quisera eu
Estar diante de ti
E perante teu olhos da cor do mar
Poder dizer o que sinto
Meu filho eu te amo
Meu filho eu te amo muito
Meu filho eu te amo pra cacete
Saibas e sintas sempre o amor
Daquela que você apelidou
"Mãezinha"
Tchau meu menino, que em minha vida, se fez tão especial.
Tchau.

Desculpa aí

Sei não
Deixa pra lá
Não aprendi
Só sei chorar
Desculpa aí
Não quero te aborrecer
Menos ainda atrapalhar
Sei que você é bom
Quer que eu fale
Quer me ouvir
Pensa que vai passar
Sei não
Deixa pra lá
Não aprendi
Só sei chorar.

Pulso


















Meu punho empunho sim
Pra te defender
A qualquer hora
A qualquer momento
Conheço-te bem
Reconheço teu ser
Podem falar
Podem dizer
Que sou careta
Velha
Ou ultrapassada
Já ouvi que sou quadrada
Ligo não
Dou de ombros
Mas nunca deixarei
Não e não
Alguém falar de ti
Sem conhecer teu coração.

Meu punho empunho sim.

Combate















Um pedaço de mim
Teima em dizer sim
Outro pedaço de mim
Teima em aceitar
Os dois lados de mim
Sustentam-se em se contrapor
Cada um, orgulhoso, deseja se impor
Minha opinião não se destaca
Minha opinião não tem valor
Ignoram o meu desejo
Em tentear um novo amor.

Contenda










Quando me perguntam quem sou
Ou quando me perguntam o que sou
Até mesmo quando questionam como estou
Ou finalizam perguntando para onde vou
Fico com medo
Nunca sei o que dizer.

Vergonhosamente simulo no pensamento
Algumas frases para quem sabe responder
Calo. Seguro-as comigo
Se ditas soariam falsas
Se ditas circulariam buscando lugar
Assim como quando se dança uma valsa.

Depois simulo mentalmente outra resposta
E não falo para o questionador
Guardo comigo tenho medo do que poderia parecer
E com base nisso a pessoa me julgar.

Penso eu que sou uma mistura
Metade gente, metade suplício
Sempre a espera de mais um sacrifício
Para continuar a lidar
Quase que dignamente com a vida.

Vou um pouco além
Parece-me que tenho hora marcada
Clamando por uma palavra sagrada
Para que eu possa, por fim,
Atirar longe o copo de veneno
Que conservo sobre a mesa de estar.

Não poderia dizer
Nada diferente do que isso
Seria mentira do meu ser
Soaria mais um sacrifício.


Na minha imaginação
O veneno de mim teria compaixão
E me libertaria de vez
Do futuro que não encararei.

Sim. Não encararei
Se não for com o copo
Cheio de líquido escuro
Será de outra forma
Quem sabe de um jeito mais puro.

Apego-me à essa futura vivência
Para poder viver
Esperando a hora de morrer
Comigo levarei a sobra da esperança
Aquela com quem pouco contei.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Um pouco de Clarice

"Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece, como eu mergulhei. Pergunte, sem querer a resposta, como estou perguntando. Não se preocupe em "entender". Viver ultrapassa todo o entendimento."

Um pouco de F. Nietzsche

"Há sempre um pouco de loucura no amor.
Assim como há, também, sempre um pouco de razão na loucura".

"As mulheres podem se tornar facilmente amigas de um homem; mas, para manter essa amizade, torna-se indispensável o concurso de uma pequena antipatia física".

"O que se faz por amor sempre acontece além do bem e do mal".

"Quanto mais me elevo, menor pareço aos olhos de quem não sabe voar." F. Nietzsche

"Não suporto almas estreitas: não têm nada de bom, tampouco nada de mau".

"Tadinho"

Tolo Tolinho
Bobo Bobinho
Vaga sozinho
Sem nenhum caminho.

Piedade


Ouvi dizer que tudo passa
Nesse dito amarrei um cordão
Por ele tentei me guiar
Mas o maldito era fraco
Nadinha de nada durou
Logo rebentou
Infeliz eu o denominei
Afinal serviu somente
Para fracionar um pouco mais
Meu alquebrado coração.

Fábula


Amanhã
Prometo
Juro
Sério
Pode acreditar
Amanhã
Serei outra pessoa
Vou sorrir
E esquecer as lágrimas
Derrubadas até aqui
Amanhã
Tá?

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Carta para meu filho João Gabriel




















Sabe rapaz essa noite acordei várias vezes durante a madrugada.

O pouco que cochilei sonhei contigo de volta aqui em casa.

Sei que reproduzi no sonho meu desejo diário.

Não me recordo bem como foi o sonho, mas lembro que conversávamos sobre coisas corriqueiras, ríamos alto e enchíamos a sala de fumaça oriunda do Carlton.

Ah, lembro que tu me perguntavas se eu tinha fome.

Comendo feito um passarinho como me alimento sempre estou com fome.

Respondi que no meu estômago tinha um buraco. Já eram seis horas da tarde e eu tinha comido durante o dia todo quatro biscoitos club social e uma banana.

Tu como sempre atencioso e cuidado perguntou o que eu queria comer.

De cara respondi que queria uma pizza. Estava com vontade de comer pizza e não arroz com feijão. Você sabe que dispenso o arroz e feijão por pão ou pizza.

Você caminhou até o telefone e fez a encomenda. Pizza com coca-cola. Pizza não combina com suco, né?

Quando chegou você foi mais cordial ainda.

Como sempre eu estava enfurnada no meu quarto com meu notebook no colo digerindo palavras, então cuidadosamente você aprontou um prato, botou coca num copo, bateu na minha porta e serviu-me. Não esqueceu nem o guardanapo. Sabe que sou chata.
Menino, tu não fazes idéia do tanto que isso significa para mim. É a forma que tu demonstras teu cuidado pela tua mãe.

Lembrei de uma coisa: Quando você entrou no quarto recordei uma pergunta que tu me fizera algumas semanas atrás. Querias saber se eu tinha ciúmes de você. Respondi que não porque realmente não tenho. De volta você me disse que sentia ciúmes de mim.

Gostei de ouvir aquilo. Parece que essa frase me protegeu um pouco mais dos impactos da vida. Tive a plena sensação de que há no mundo alguém olhando por mim e tu sabes que preciso disso. Sou pisciana, lembra?

Queria te dizer que admiro tua beleza física, afinal você é muito bonito, mas queria te dizer também que, principalmente, admiro a generosidade que carregas em teu coração. Ah, tem também algo que considero dez: Tua habilidade em fazer cálculos com uma rapidez danada. Lembro de vez no Mc antes mesmo da garçonete trazer a conta tu já sabias o quanto nós pagaríamos e o quanto teríamos de troco. Cheguei a rir com tamanha precisão. Acertou na mosca.

É claro que admiro muitas outras coisas em ti também. Admiro tua facilidade em enturmar-se. És um geminiano nato. Admiro tua personalidade honesta e positiva. Tens sempre uma palavra a me dizer que eleva minha auto-estima. Sério.

Admiro a capacidade que tens e, sempre teve, de me desvendar enquanto mãe, enquanto mulher, enquanto ser humano. Como foi que tu conseguiste conhecer-me tanto? Reconhece-me pela face. Sabe quando estou deprimida, melancólica, nervosa, aflita ou feliz. E me acolhe. Agradeço por sempre me acolher. Preciso tanto disso.

Admiro também o fato de você perceber tudo que altero em minha aparência física. Sabias que nenhum dos meus namorados reparou em mim como tu reparas? Percebes quando tiro as pontas do cabelo, percebes quando pinto a raiz, repara até quando faço as unhas. E como és gentil.

Todos os dias tens um elogio para mim. Isso me faz um bem danado. Ajuda pra caramba a elevar minha auto-estima. Quando tu me elogias sei que estás sendo verdadeiramente honesto. E também verdadeiramente honesto quando reclamas ao me ver desleixada (coisa rara, né?).

Sabe rapaz quando você chora por algum motivo e mesmo já homem feito procura meu colo para lacrimejar eu me sinto privilegiada.

Acredito que demonstras assim que confias em mim. Acredito que tu reconheces dessa forma que meu carinho, amor e presença estão sempre ao teu lado e tens ciência disso. Acho que é por isso que fica tão à vontade com a cabeça no meu colo e os olhos lacrimejando, sem cerimônia em molhar minhas saias.

Vou te confessar uma coisa: Adoro quando pedes para dormir na minha cama. Relembrum quando tu ainda pequenino vez ou outra aparecia no meu quarto fazendo manha para que eu permitisse que você ocupasse noite adentro um espaço junto comigo.

Você não tem vergonha de assumir sua tristeza e a necessidade de adormecer, vez ou outra, perto de mim para eu te ninar. Acho isso bonito.

Também acho bonito quando eu ligo no teu celular e tu mesmo rodeado de amigos me respondes de acordo, ou seja, eu sempre digo no final da ligação que te amo e você fala o mesmo em voz alta sem se intimidar com a presença dos amigos. Percebo que alguns riem e tu nem ligas. Admiro isso.

Pensando bem acredito que além de ser tua mãe sou tua fã. Sinto que isso é recíproco. Saibas que essa forma de admiração através do carinho serve para mim como alimento e força para eu enfrentar a vida.

Resolvi escrever para ti porque meu coração é só saudade. Tenho contado dias, horas, minutos, segundos para te ter de volta em casa e todos os dias eu sair recolhendo pela sala as meias que tu deixas desleixadamente. Já me acostumei. Às vezes você vê que fico de saco cheio e não pego nenhuma. Deixo lá por dois ou três dias até eu ficar bastante incomodada e acabar por recolher.

E quando tu metes a mão na cozinha então. Tens uma criatividade que eu desconheço. Pena que deixa a pia uma bagunça só. Mas no fundo no fundo vale a pena porque assim comemos algo gostoso e diferente.

Sei que quando voltares terás aprendido vários pratos diferentes. Fico contente porque vou passar bem. Deixarei o miojo, o pãozinho e o suco de lado.

O que me consola quanto a isso é que avisei você e seu irmão ainda pequenos que a cozinha era (e é), meu calcanhar de Aquiles. Em vez de estar perante as panelas prefiro, sem dúvidas, estar perante meu notebook lidando com as palavras ou assistindo um bom filme em DVD.

Há algo que me enriquece: A união que estabelecemos, os três, aqui em casa. Proporciona-me paz.

Bem meu garoto escrevi porque me deu uma vontade danada de falar contigo. Amanhã boto essa carta no correio.

Tenhas sempre em tua mente e em teu coração que tua mãezinha está e estará sempre inundada de amor para te apoiar em todos os momentos em que precisares na tua vida.
Esse peso filho você vai carregar.

Será que vou ser igual a vó Maria que mesmo eu estando com quarenta e sete anos ainda me liga para saber se eu almocei? Não, eu não fiz catorze anos de terapia à toa. Cuidarei sempre para não sufocar você e o Pedro Henrique.
Faz parte dos meus quereres vê-los seguindo seus caminhos e, principalmente, vê-los felizes em suas escolhas. Acredito que a pureza que carregam no coração nunca deixará nenhum de vocês.

Se deus existe (sabes das minhas inquietações), fique com ele meu filho.

Com amor

Mãezinha (adoro a forma como tu me chamas).

Arrastado










Não
Sei lá
Não insiste
Sei não
Nem entendo
Porque quer
Sempre
Tudinho explicar
Pra quê isso
Faz outra coisa
Procura outro lugar
Se liga
Deixa-me
Necessito da solidão
Sai
Vai
Imploro
Some por aquele portão.

Pânico


















Eu tô com medo
Eu tô com muito medo
Eu não posso voltar atrás
Tá fechado
Eu não posso me fuder
Eu não quero mais
Eu não aguento mais
Eu não suporto mais
Chega
Acabou
Ou eu ponho um fim
Ou eu morro fechada em mim.

Tola













Jabuti Maracujá
Morango
Patati patatá

Finge que finge
Acredita a ingênua
Que um dia diferente virá
E fará a tola
Do sono despertar.

Origem



















Dou-te minha cara
Bate na minha face
Enfia tuas unhas na minha pele
Se puderes perfura meu estômago
Não preciso mais de alimento

Sofrerei
Sou um homem tolo
Sofrerei calado

Chorarei
Sou um homem tolo
Chorarei pesado

Lacrimarei
A ilusão do amor
Que por ela
Nunca foi gerado.

Maria


















Salve Maria
Salve sagrada
Salve mulher
Salve abençoada

Bravamente presenciou
Seu filho fincado numa cruz
De lá não saiu
Enquanto o moço barbudo
Não virou luz

Salve Maria
Salve Sagrada
Salve para essa mulher
Tão abençoada

Mulher te peço a bênção
Ando triste
Ando despedaçada
Passa por aqui
E só um pouquinho
Acalanta meu coração

Salve Maria
Salve abençoada
Salve Maria
Salve a mulher sagrada.

Limite


















Acabou.
Hoje eu pus um ponto final
Vou sofrer
Vai doer
Vou de novo querer
Vou, bem sei, até me sabotar
Tudo farei
Para voltar atrás
Na decisão que tomei
Não corro mais risco
Decidi
Jurei
Só clamo pela ajuda divina
Sou fraca
Preciso de tua mão
Acompanha-me
Bem sei o que fiz a mim
Perdoa-me homem santo, perdão e fim.

Intuição














Hoje bem cedinho
Logo ao acordar
Não sei porque intui
Que um pássaro azul passaria por aqui
Corri para o degrau da porta principal
Sentei e quieta aguardei

E não é que ele veio?

Reclinou-se suavemente sobre o meu braço
Deu uma piscadela com o olho direito
Murmurou no pé do meu ouvido
Algo, por mim, estranhamente desentendido
Depois chegou mais perto
Aproximou-se
E forte abraçou-me

Pena, ao chegar ao final
Da visita bem quista, matinal
O pássaro encantado
Deslizou uma pena sobre minha mão
Entendi ser um presente
Depois, colorido, bateu asas e se foi.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

domingo, 20 de junho de 2010

Revelação












Sabe menino grande
Percebo caminhando por aí
Que muitas pessoas
De forma arbitrária
Sentem-se no direito de nos questionar
Mesmo sendo elas pessoas
Que não fazem parte da nossa jornada diária.

Preciso te dizer algo
Peço que não entendas isso como um conselhoo
Afinal como revela o dito popular
"Se conselho fosse bom não seria gratuito".

Mas menino grande
Tem algo há tempos
Parado na minha garganta
Preciso por para fora
Preciso lhe contar
Porque você compõe essa história
E seria injusto não conhecer
O que eu, mãe, nesses últimos dias,
Tão triste e aflita
Guardo em meu coração.

Sim rapaz
É hora de revelar
Tu precisas saber
Não faço idéia
Do que isso possa
Alterar qualquer coisa
Em tua vida vivida em liberdade
Em tua vida permeada na bondade.

Se algum dia
Alguém ousar lhe perguntar
Se tu fostes planejado
Diga que não
Que tu veio ao mundo por acaso
E se alguém lhe perguntar
Se tu és amado
Responda sem tatear:
- Carrego comigo um amor afobado
Carrego comigo um amor não mensurável
Carrego um amor que chega ao desequilíbrio
Sim. Eu carrego comigo o amor da minha mãe.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Clandestina

Nervos de aço













Moço preciso lhe dizer algo
Falarei bem baixinho
Mas tenho que falar
Porque não aguento mais guardar isso comigo:
- Sabias que tu és insuportável?
Perdão pela sinceridade
Penso que vale a pena ser honesto
Poderia mentir e dizer que tu és um cara legal
Entretanto você passa longe disso
Tua presença irrita
Teus dizeres são sempre inconvenientes
Então, não achei palavra melhor para classificá-lo: Insuportável.
Ah, para finalizar repense algo: A verdade não cabe em tuas mãos, sacou?

Lúdico

Menino hoje sonhei novamente contigo.
Há tempos tu me acompanhas pelas minhas noites.
Penso que isso retrata a dor que estou vivendo.
Dor de não te ter diariamente ao meu lado.

Mãezinha.

Metido a besta

Se um dia você supor que realmente me conheceu lembre-se de que você é pretensioso e um tanto o quanto ignorante. Assim, meu caro, jamais poderia ter me conhecido. Saiba mais: Você nunca me descobriu. Nem sabe quem eu sou. Bye.

Papai Noel













Tem um lugar aqui

Bem pertinho de mim

Sentada rente a janela

Posso ver com facilidade

As cores espalhadas pelo céu

Não se trata de um arco íris

Trata-se de um homem desenganado

Vestido todo de vermelho

Desacreditado da humanidade

Onde enxerga com clareza a cobiça e a vaidade.

Seu nome: - Papai Noel.

Meu menino


















Não posso deixar a ilusão tomar conta de mim. Tenho que olhar para essa situação e vivê-la de forma real.

Enquanto me preparo, meu querido, para recebê-lo da forma que você merece.

Meu intento é preparar um ambiente onde tu possas desfrutar das alegrias as quais você mais do que ninguém merece.

Bem aventurado será aquele (a) que ao te olhar possa enxergar e ir pouco mais além da tua bela aparência física e encontrar teu coração carregado de bondade e generosidade.

Bem aventurado será aquele (a) que não mencione qualquer palavra que possa ser dura ou cruel. Ninguém, ninguém afirmo, tem esse direito e asseguro-lhe que jamais permitirei. De forma alguma.

Sou feliz por ser sua mãe. Tenho orgulho de tê-lo como meu filho e sou grata por tê-lo gerado. Todos os dias o abençôo e rogo para que tu desfrutes dos verdadeiros momentos preciosos da vida. Esses que ocorrem em minutos e nos enchem de felicidade. Felicidade essa arrebatada das pequenas coisas e dos pequenos momentos de nossas vidas.

Eu te abençôo João Gabriel e, sinto, mas não vou mentir, que do alto da minha descrença religiosa e do alto das dúvidas que carrego comigo quanto à existência de um ser supremo. Como tua mãe tenho esse direito. Inclusive permito-me esse vacilo, essa contradição.

Ao abençoá-lo sinto uma referência que não sei explicar de forma clara, nem sei no que a baseio, mas envolvo-me numa verdadeira e profunda intenção de rogar aos deuses, sejam eles quais forem, que tu possas rapaz ser feliz em sua generosidade, em teu coração, através dos pequenos momentos que nos permitem saborear o que é de fato a felicidade.

Ofereço-te meu riso.

Com amor

Sua "Mãezinha"

terça-feira, 15 de junho de 2010

Mãe triste


Tô triste sim
Sem você perto de mim
Tô triste sim
Com você longe de mim
Tô triste sim
Com esse negócio de você ficar aí
Tô triste sim
Queria você aqui.

É. Tô muito triste sim com você longe de mim.

Desdita

Se puderes não me perdoe por nada do que fui ou representei ou participei e/ou tentei fazer em tua vida. Apenas faça de conta que nunca me conheceu, seu filho da puta. Obrigada.

Saudade













Menino tu não fazes idéia da saudade que sinto de ti.
Menino aqui em casa falta teu riso.
Menino aqui em casa falta tua fala.
Menino aqui em casa eu dou por falta da tua face.
Menino aqui em casa eu dou por falta da tua birra.
Menino aqui em casa eu dou por falta do teu beijo.
Menino aqui em casa eu anseio louca por um abraço teu.
Menino não demora não.
Vem logo e aquece esse alquebrado coração.

Amém.

Eu comigo





Fui do ontem, sou do hoje e se tiver amanhã também serei dele. Desse jeitinho assim: Eu em mim.

Esboço

Sôfrego bate um coração que ainda aflora
Bate forte quase se acaba
Porque é bobo e chora
O amor que foi embora.

Sôfrego bate um coração que ainda aflora
Usa a face
Usa o cheiro
Usa o sabor
Daquilo que chamou
No passado de amor.

Sôfrego bate um coração que ainda aflora
Pouco soberano
Quase que em penhora
Rebuscado sem fala
Sem palavra, verbo ou ditado.

Sôfrego bate um coração que ainda teima em aflorar.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Espelho

Sofisticado
Meu espelho louvado
Pôs-se de lado
Toda a bondade estancada
Nesse cálice sagrado.

Trinta dicas "infalíveis" para escrever um bom texto:

1. Deve-se evitar ao máx. a utiliz. de abrev. etc.

2. É desnecessário empregar estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisístico.

3. Anule aliterações altamente abusivas.

4. não esqueça as maiúsculas no início das frases.

5. Evite lugares-comuns assim como ‘o diabo foge da cruz’.

6. O uso de parênteses (mesmo quando for relevante) é desnecessário.

7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.

8. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, sacou? ...então valeu!

9. Porra, palavras de baixo calão podem transformar seu texto numa merda.

10. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.

11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto em que a palavra se encontra repetida.

12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: "Quem cita os outros não tem idéias próprias".

13. Frases incompletas podem causar

14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formas diferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez, ou, por outras palavras, não repita a mesma idéia várias vezes.

15. Seja mais ou menos específico.

16. Frases com apenas uma palavra? Jamais!

17. A voz passiva deve ser evitada.

18. Utilize a pontuação corretamente especialmente o ponto e a vírgula, pois, a frase poderá ficar sem sentido será que ninguém mais sabe utilizar o ponto de interrogação

19. Quem precisa de perguntas retóricas?

20. Conforme recomenda a A.G.O. P, nunca use siglas desconhecidas.

21. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderar.

22. Evite mesóclises. Repita comigo: "mesóclises: evitá-las-ei!"

23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.

24. Não abuse das exclamações! Nunca!!! O texto fica horrível!!!!!

25. Evite frases exageradamente longas, pois, estas dificultam a compreensão das idéias nelas contidas e, por conterem mais que uma idéia central, o que nem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam, dessa forma, o pobre leitor a separá-la nos seus diversos componentes de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processo da leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.

26. Cuidado com a hortografia, para não estrupar a língúa portuguêza.

27. Seja incisivo e coerente; ou não...

28. Não fique escrevendo (nem falando) no gerúndio. Você vai estar deixando seu texto pobre e estar causando ambigüidade, com certeza você vai estar deixando o conteúdo esquisito, vai estar ficando com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo. E como você vai estar lendo este texto, tenho certeza que você vai estar prestando atenção e vai estar repassando aos seus amigos, que vão estar entendendo e vão estar pensando em não estar falando dessa maneira irritante.

29. Outra barbaridade que tu deves evitar chê, é usar muitas expressões que acabem por denunciar a região onde tu moras... Nada de mandar esse trem... Vixi... Entendeu, bichinho?

30. Não permita que seu texto acabe por rimar, porque senão ninguém irá agüentar, já que é insuportável o mesmo final escutar, o tempo todo sem parar.

Tino













Denominei de subterrâneo
Esse que por décadas e décadas me assolou
Sim, meu afiado crânio
Meu cérebro, perverso, afundou.

Nesse momento dou partida
Para viver uma nova vida
Como resultado minha alma comprazer-se-á
Do transparecer latente de sua existência.

Tantas questões
Tantas perguntas
Tantas dúvidas
Tantas prerrogativas...

Enfim, pus tudo de lado
Sem meu crânio ei de viver
Pela vida seguirei, vou recorrer
Sem enganos.

Eis uma nova realidade
Que a partir de agora me proporcionarei
Eis uma nova realidade
Momentos joviais de felicidade.

Eles e Elas

Letramento – Artigo Revista Mackenzie edição/41 - página 22

“OS LIMITES DA NOSSA LINGUAGEM SÃO OS LIMITES DO NOSSO MUNDO” por Ludwig Wittgenstein


Li há pouco uma reportagem na revista Mackenzie, edição 41 - ano 2008 - pág. 22, intitulada “OS LIMITES DA NOSSA LINGUAGEM SÃO OS LIMITES DO NOSSO MUNDO” por Ludwig Wittgenstein.

Faço um breve resumo:

- 28% da população brasileira sabem ler e escrever PLENAMENTE;

- 72% são considerados analfabetos funcionais

Divididos em:

- 40% apresentam o nível básico lendo e compreendendo apenas textos fáceis e, ainda assim, com dificuldades de interpretação;

- 25% são considerados analfabetos rudimentares que só conseguem identificar informações em textos curtos e

- 7% são completamente analfabetos, incapazes de ler uma palavra ainda que simples.

APENAS 20% DA POPULAÇÃO BRASILEIRA TÊM A ESCOLARIDADE MÍNIMA OBRIGATÓRIA: Ensino médio e Ensino fundamental.

Imaginava mais ou menos esse panorama, mas, ao constatá-lo na entrevista encharquei-me de uma profunda tristeza.

Imaginem olhar uma palavra escrita e não conseguir identificar o que ‘aquilo’ quer dizer.

Penso nas pessoas analfabetas em ponto de ônibus atentas a todos os ônibus que passam, sem identificar o nome, orientando-se por cores ou números e, vez ou outra, perguntando para alguém ao seu lado se o ônibus tal já passou.

Se pensarmos sobre o título da reportagem concluiremos o quão pequeno e limitado é o mundo de uma pessoa não letrada.

Penso em quantas vezes isso aconteceu comigo. Quantas vezes já me perguntaram. Talvez, um (a) analfabeto (a) usando uma forma de chegar ao seu destino, sem demonstrar que não sabia ler.

Vejo aqui um método de esconder a vergonha por não saber ler. A vergonha não pertence a eles (as). A vergonha pertence ao Brasil.

Grata!

Gaveta

Não reparo na tua fala
Tuas gavetas nunca hei de vasculhar
Intrigada fico não
Caso queiras tens o sinal.

Não sabes de onde surgiu tanta coragem
Viver a seca junto à estiagem
Com ele será assim
Assoviaram na janela dela.

Tola se fez
Emudeceu
Logo calou
Também ensurdeceu.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Sem sentido


















Não tem mais a quem socorro impelir
Vaga mais uma noite só pelas ruas sombrias
Também chora um passado renunciado distante
Comprazes-se das amarguras vividas em tantos instantes.

Caminha pelas calçadas tumultuadas
Roga, na mente, quem sabe, talvez, um pouco de alegria
Porém, conhece-se bem
Sabe que não será abençoado por qualquer ventura.

Moço quieto esse moço
Moço quedo esse moço
Apaziguado esse moço
Moço esse pela vida inteirinha maltratado
Por isso situou seu tudo de lado.

Havia a fé que saboreava
Havia a reza que rezava
Havia a igreja que freqüentava
Havia nele algo em que acreditava.

Esqueceu, resolveu eternizar
Sua alma nas ondas agitadas do mar
Sabe bem, é bem sorvido de intuição
Quando seu fim estiver próximo
Irá para o mar
Por lá ficará
Até não mais respirar.

Há tempos abençoou essa constatação
Há tempos não deseja mais nada
Há tempos não sonha
Se o sonho o procura o procura em vão.

Tem ciência que de daqui para frente
Diariamente seu coração
Será ferido um pouco mais
Espera apenas ir nos braços da paz.

Quem sabe moço?

Quem sabe?

Segredo aberto


















Vou te contar algo
Que jamais deverias saber
- Sou peregrina
Caminho por aí
Também vou por lá
Não reparo nos arredores
Sequer nos ambientes
Não me alojo pelos cantos
Sou estrangeira
Nasci para andar
Solta pelas ruas
Livre eu percorro
Subidas altas
Livre eu percorro
Também os morros.

Essa é a chave
- simples -
Daquilo que me faz
Uma mulher capaz
De sem nada ter
Ser feliz
E, mais, nunca
Deixar-me envolver.

Sinto lhe dizer
Meu prezado rapaz
Mas primeiro peço
Que me deixe em paz
Segundo lhe informo
Não sou mulher
Arquitetada para acorrer
Não nasci para ninguém
Não nasci para você.

Sendo assim
Afasta-te de mim. Vai.

Pedro Henrique meu belo caçula. Meu orgulho de ser mãe II. Te amo. "Mom".

Meu precioso primogênito João Gabriel. Meu orgulho de ser mãe I. Love. "Maezinha".

sábado, 5 de junho de 2010

Parto molhado

















Aqui, sim, sobre meu estômago
Não sei ao certo parece que um pouco mais pra baixo
Sim, dói, dói muito
Não, cuidado, por favor, não aperta.

Todos os dias tenho passado por isso durante as manhãs
É uma mistura de dor de estômago com cólica menstrual
Tenho a impressão de que estou entrando em trabalho de parto
Enquanto dói não consigo nem chorar.

Dura uns quarenta minutos
Aí repentinamente passa, some
Vai embora da forma que veio – subitamente.

Então eu choro.

Choro copiosamente
Choro como se estivesse de luto
E sinto que mais uma vez te pari
É! Você nascendo de novo em mim.

Falto




Carentes de leite
Carentes de pão
Carentes de trigo
Carentes de feijão
Carentes de calçados
Carentes de abraços
Marchando cansados
Seguindo crentes a procissão.

Escape
















Desato o nó das cortinas
Do meu quarto pintado de amarelo
Enquanto isso meu pranto escorre
Lançado ele está novamente ao vento
Que entra pela janela semi-aberta.

Somente assim acordo
Ainda sonolenta, levanto-me
E chamo:
- Vem cá meu querido
Ao meu encontro
Vem cá meu encanto.

Despedida
Alforria
Fez da alegria
Minha cria
Malditas plantas.

- Quem foi que me salvou?
Se é que isso realmente aconteceu
Da morte isolada e fria.

Quem foi que me resgatou?
Da dor que sentia
Chamada por alguns
Dor tardia?

Foi ele
Outra vez
- Novamente -
Que me deu vida.

Foi ele
Outra vez
- Novamente -
Que ateou fogo
Na partida.

Ofereço-te o que posso
Meu amor, meu calor
Enquanto esqueço o que me esfria.

Consagração












Fecho os olhos e busco por ti
Vejo-o na negritude de mais uma noite frienta
Fecho os olhos e busco por ti
Enxergo-o em um alguém que tem
Uma figura física semelhante à tua.

Venho até aqui para simplesmente lhe dizer:
- Dessa vez perdi - em definitivo meu rapaz -
Perdi aquele que foi o meu único bem
Perdi aquele que foi capaz de fazer de mim
Uma pessoa, uma mulher, um alguém.

- Peço, constata comigo:
Foi nisso que deu
Por eu
Ignorar as conseqüências – Joguei-as fora
- Peço, constata comigo:
Foi nisso que deu
Por eu
Ignorar as condescendências – Coloquei-as de lado
- Infere comigo:
Foi nisso que deu
Por eu – Mulher de reduzida sabedoria -
Ignorar até mesmo minha existência – Execrei-a.

Agora vejo que somente tu
Será capaz de desarraigar
Esse manto negro com o qual
Ao longo desse tempo me cobri.

Então, venho até aqui
Lembra, tenho algo a lhe pedir:
- Somente tu rapaz será capaz
De banhar meu corpo imaculado
Esgotada, peço-lhe, por favor,
- Pega minha mão
Leva-me até o banheiro
E deixa a água do chuveiro
Envolver com sua força fluente
Não só o meu corpo
Mas também
Permita que ela arranque
Todas as impurezas que conquistei
Durante esses anos em que mergulhei
Na mais estreita solidão.

Peço, mais uma vez,
- Repara na planeada responsabilidade -
Por mim a ti doada – perdoa -
De resgatar-me enquanto ainda não é tarde.

Penso que ao jorrar a água pelo ralo
Levará com ela - creio eu –
Não só a sujeira da carne
Mas também todas as incertezas
Que durante minha vivência conquistei
E, no meu interior guardei.

- Só tu podes meu distante rapaz
Limpar aquilo que macula
Minha alma inapropriada
Só tu podes meu distante rapaz
Limpar aquilo que macula
- Não te faças de rogado -
Purificando com tuas lânguidas mãos
Essas manchas escuras
Que reguei e fiz crescer
No meu coração.

- Creio eu que a água levará
- Tu serás o responsável por retirar -
A saboreada penitência
Cultuada por mim anos após anos
Na mais isolada existência.

Apreciação















Para seres feliz como tu realmente querias haverias que antes de crer cegamente naquela dama e, por conseqüência, levá-la à cama para concretizar o ato do amar, o ato de amar para quando o sol raiasse iluminando o aposento e o novo dia, informando-te quem ao lado dela tu realmente serias. Somente nesse momento seria hora de denrolar as tranças da donzela e romper o elo que, na escuridão, uniu-se a ela.

Fique esperto homem: Teu coração não despojará nas mãos dessa formosa dona.

Se nessa armadilha verdadeiramente não queres cair. Penses...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Professão



















Já és homem feito, homem adulto. Já entendes e vivencias as agonias e alegrias da vida.

Já conheces os medos que permeiam nossas existências, rondam nossos caminhos.

Já reconheces em teu dia-a-dia, também, as euforias que a danada da vida nos oferta como se, dessa forma, pudesse compensar-nos pelas peças que nos prega, pelos testes que valentemente nos aplica e pela forma como diariamente nos desafia a dar o próximo passo, a fazer a próxima escolha.

Enfim, meu filho, tu já conheces a capacidade que a vida tem de nos manejar como se fôssemos um bando de marionetes e sempre estivéssemos a dever-lhe algo, tendo assim, que estarmos prontos para lidar com as todas as diversas e inesperadas pelejas do dia-a-dia.

Já sabes também que a vida tem o poder de fazer com que nos sintamos tão impotentes perante algumas situações e, por vezes, prostremo-nos sem ter a menor idéia do que fazer.

A vida tem a capacidade soberana de fazer com que bailemos ao som de suas melodias e, por vezes, também tem a capacidade de fazer com que nos percamos na coreografia quando em determinado momento não fazemos a menor idéia do rumo a ser tomado ou do caminho a ser seguido.

Reconheces rapaz quantas coisas tu já sabes da vida?

Então, por isso, resolvi lhe contar algo que ocorria comigo quando tu ainda eras pequenino e andava através dos meus braços e dos braços do teu pai.

Resolvi te contar algo da época de quando tu, todas as noites de todos os dias da semana, eras ninado ao som de uma diferente canção ora cantada por mim, ora cantada por teu pai.

Nascestes no ano de mil novecentos e oitenta e seis. Nascestes numa época perigosa e perversa onde existiam quadrilhas profissionais que roubavam crianças e vendiam-as para casais de países estrangeiros.

Vivíamos um verdadeiro tropel na cidade de São Paulo. As autoridades tinham perdido o controle sobre essas organizações criminosas. Ficava a cargo dos pais defenderem suas crias com unhas e dentes.

Podes imaginar como essa tua mãe frágil se sentia, não é?

Pois lhe digo meu filho que vivia uma agonia contínua. Fui abandonada pelo sossego. Vivia de sobressalto.

Sendo bem honesta menino eu vivia tomada pelo medo, pela insegurança e por uma dor que machucava meus ossos. Hoje sei que aquela dor espelhava os sentimentos que se firmavam dentro de mim.

Todos os meses te levava ao pediatra para essas consultas de rotina. Íamos somente os dois. Pegávamos uma condução que percorria um trajeto e levava em torno de quarenta minutos até nos deixar no devido local.

Teus olhos azuis confundiam-se com a cor da água do mar. E, como mãe zelosa, eu tanto para te cuidar quanto para reforçar teus encantos cobria-te com roupinhas que somente realçavam o mar espelhado em teus olhos e o dourado dos teus cabelos.

Funcionava mais ou menos assim: Arrumava-te. Na sequência aprontava-me. Munia-me de uma mochila com teus pertences – empunhava-a nas costas, recolhia-o em meus braços, hoje penso no quanto te apertei contra meu peito na esperança de que ninguém tivesse força física suficiente para afastar-te de mim. e caminhávamos até a parada.

Ao entrarmos no coletivo meus olhos percorriam quase todos que estavam ali. Para mim eram nítidos os olhares que se viravam contra nós, ou melhor, contra ti.

Arrepiava-me quando alguém se aproximava e dizia algo. Ao ouvir um cumprimento expressando tua beleza meu estômago gelava.

Recordo-me agora de uma pessoa, num deses percursos mensais, sussurrar algo à mínima distância de nós:

- Tens um menino colorido. Repara mãe: Seus olhos são azuis, suas bochechas cor-de- rosa, seus lábios vermelhos e os cabelos, tão belos, amarelos como o ouro.

Claro que fiquei lisonjeada, mas o medo daquela pessoa abafou por completo o orgulho de ser tua mãe.

Confesso-te hoje meu rapaz que o medo quase que me consumiu por completo. Verdade.

Tinha medo não só dos olhares que lançavam a ti. Tinha medo também dos elogios que emitiam e daqueles mais 'calorosos' que se aproximavam querendo ver-te mais de perto e poder te admirar melhor.

Nas minhas seis horas diárias de trabalho meu pensamento estava sempre em casa, ou melhor, em ti. Imaginava coisas trágicas. Imaginava alguém iludindo tua babá dizendo que te levaria para passear a meu mando.

Nos finais de semana quando teu pai estava conosco o tempo todo conseguia sentir um pouco da brisa da paz. De leve.

Não sei se tu te lembras que todos os domingos almoçávamos, religiosamente, na casa da tua vó Geralda. Ainda não tínhamos carro então íamos de ônibus.

Teu pai fazia questão de te carregar. Sabe que parecia que ele flutuava com você nos braços? Verdade.

Eu ficava encarregada de levar tua mochila. Dentro dela as coisas que previa que poderias necessitar.

Mesmo sentindo a brisa leve da paz que teu pai me proporcionava nos finais de semana ainda assim mantinha-me uns setenta por cento em estado de alerta. Qualquer pessoa que chegava em nossa casa me pegava de prontidão.

Nunca tinha falado dessa aflição para ninguém. Foi numa segunda-feira, à noite, que chamei teu pai e sussurrei ao pé de seu ouvido:

- William, tenho medo de que alguém roube o João Gabriel.

Foi então que ouvi aquilo que me libertaria do medo. Ouvi aquilo que me salvaria da dor que se amontoava no meu estômago:

- Gill, se um dia isso acontecer nem que eu tenha que ir até o inferno trago nosso menino de volta.

Aquelas palavras devolveram-me a tranqüilidade. Afinal ele afirmara que te buscaria em qualquer lugar do mundo. Meu alívio foi imediato. Restaurava-se naquele momento a tranqüilidade que havia perdido em meu coração.

Hoje penso que poderia ter confidenciado a ele com mais antecedência. Dessa forma, libertaria-me logo do medo, porém hoje também penso que na vida há um momento apropriado para tudo.

Confidencio-te isso meu rapaz para que saibas que teu pai, com poucas palavras, foi capaz de arrancar com a mão o medo que se estabelecera dentro de mim.

Hoje reconheço o quanto sou grata a ele por ter me devolvido a paz. Naquele dia, quando ele terminou de falar parecia que tinha me devolvido todo o alívio perdido em poucos meses.

Serei eternamente grata a teu pai.

Ele foi o meu herói. Primeiro que não deixaria ninguém te levar, segundo que iria te buscar fosse aonde fosse.

Percebo agora que resolvi te contar essa história somente para te dizer o quanto meu amor por ti é grande. Faz-se descompensado, exagerado, inigualável.

Por fim, fique sabendo moço bonito que sempre senti por ti esse amor vigoroso.

Agora, homem feito, já aprendestes a lidar com minha forma de amar assim como aceitá-a. Só pra te relembrar: Isso é para sempre, tá?

Será que esse é o preço que pagarás enquanto viveres por teres sido gerado por mim?

Era isso que tinha para lhe confidenciar meu querido.

Com amor

‘Mãezinha’.